Noturnall: crítica de Noturnall (2014)

O Noturnall é a união dos integrantes do Shaman com Aquiles Priester. Apesar de a junção do grupo com o baterista sugerir um tipo de som - power metal com pitadas prog -, não é isso que se ouve em seu disco de estreia. E é justamente essa surpresa, essa quebra de paradigmas, que torna o primeiro álbum do Noturnall não apenas surpreendente, mas um peixe fora d’água da cena metálica brasileira.

A música que encontramos nas dez faixas deste debut é um metal moderno, agressivo, pesado pra caramba e, como não poderia deixar de ser devido ao histórico dos músicos, bastante técnico. A primeira surpresa é o timbre de Thiago Bianchi, que abandonou totalmente os agudos e canta de maneira agressiva, quase gutural, em grande parte do álbum, inserindo em alguns trechos vocais limpos. Em diversas passagens, sua voz lembra a de Russell Allen (Adrenaline Mob, Symphony X), por mais surpreendente que essa afirmação possa parecer. E essa mudança é uma das qualidades do trabalho, levando-o para o campo do metal contemporêneo. O instrumental segue a mesma linha, com riffs  sincopados e muito groove estourando as caixas de som. Influências sutis de Pantera, DevilDriver e até um certo clima Lamb of God podem ser identificados na música do Noturnall, e caminham lado a lado com o background apresentado pelos integrantes em trabalhos anteriores. Há, sim, inserções de melodia na mistura, e eles funcionam como pontes que ligam um trecho a outro nas composições.

Aquiles, que é um baterista infinitamente superior a Ricardo Confessori - o Shaman que não diz presente no Noturnall -, faz toda a diferença, com uma performance que é um arregaço e inscreve-se com facilidade entre os melhores desempenhos de sua carreira. Ao lado do baixo de Fernando Quesada, gravíssimo e inspirado, forma uma dupla pra lá de diferenciada.

A produção acertou a mão ao deixar todos os instrumentos ásperos, cortantes, bem na cara, reforçando a agressividade e a violência sonora. Um tiro certeiro de Allen, que também assina o disco.

Entre as faixas, vários destaques. A abertura com “No Turn At All” traz um show de Priester, seguida por “Nocturnal Human Side”, pedrada com a participação de Russell Allen. Aliás, outro ponto positivo do álbum são as guitarras de Léo Mancini, precisas nos riffs e com solos bem construídos. “Zombies”, “Master of Deception”, “St. Trigger” e “Fake Healers” são outros dos vários pontos altos. Em um disco onde o peso dá o tom, as baladas “Last Wish” e “The Blame Game” soam deslocadas e puxam o resultado para baixo. Sua ausência seria bem vinda e contaria pontos, pois ambas, além de bastante medianas, trazem de volta a sonoridade anterior do Shaman (incluindo o irritante timbre agudo de Bianchi), contrastanto com a inovação presente nas demais composições.

A estreia do Noturnall é uma surpresa muito bem-vinda. Consistente, o disco mostra uma faceta até então desconhecida dos músicos e soa muito superior a qualquer álbum gravado por eles com o Shaman. Em relação a Aquiles Priester a situação também é parecida, com este CD sendo claramente mais forte que os lançados pelo Hangar, banda onde o baterista é o poderoso chefão.

Nota 8

Faixas:
1 No Turn At All
2 Nocturnal Human Side
3 Zombies
4 Master of Deception
5 St. Trigger
6 Sugar Pill
7 Last Wish
8 Hate!!!
9 Fake Healers
10 The Blame Game

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. até agora, o disco do ano!

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  2. Gostei, mas gostei mesmo. Pesado, forte e as músicas pulsam. O talento dos envolvidos ajuda e a produção é muito boa. Agora, ao vivo já não creio que consigam isso tudo. E se Mr Prester e Mr Bianchi não estragarem tudo, ainda pode sair muita coisa boa daí.

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