O rock progressivo ano após ano: 15 discos para entender 1969

Prólogo


Nos últimos dois artigos (1967 e 1968) eu expliquei um pouco de onde o rock progressivo veio e porque a psicodelia foi tão importante para o o gênero. Agora chegou a hora de meter o pé nas portas da percepção e entrar de vez no mundo prog.

Parte 1 – 1969 e os homens do século XXI


1969 foi o ano que fez com que o rock progressivo entrasse de vez em todas as gravadoras da época. E não só isso, esse foi o ano em que discos absolutamente importantes foram lançados, perpetuando assim de vez o prog como um importante passo a frente no mundo do rock.



Parte 2 – No limiar de um sonho


1969 deu vida ao sonho que os dois anos anteriores ousaram ter. Não apenas as bandas nunca haviam sido tão ousadas antes, mas também importantes grupos nasciam (como o Yes e o King Crimson). Para completar a cereja do bolo, os Beatles lançavam seu canto do cisne em formato prog.

Parte 3 – Ratos quentes

Abaixo seguem a lista dos 15 discos essenciais para entender 1969:

King Crimson – In the Court of the Crimson King


In the Court of the Crimson King pode muito bem ser considerado o bastião, o baluarte do rock progressivo clássico. Não só isso, a faixa de abertura “21st Century Schizoid Man” é o que de mais moderno tinha sido gravado até então, desafiando e dizimando qualquer tentativa anterior de qualquer outro grupo de soar moderno e de outro mundo. O disco, além de dar ao mundo a banda mais enigmática da história do prog, também registrou uma lenda futura em disco: Greg Lake.



Ouça In the Court of the Crimson King aqui.


The Beatles - Abbey Road

Os Beatles nunca foram uma banda de rock progressivo, ponto. Mas é fato que tudo que o quarteto de Liverpool tocou acabou influenciando mais da metade das bandas do gênero. Como se não bastasse o passo à frente de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, a banda deu mais um quando resolveu que gravaria um último disco e então encerraria as atividades (Let It Be é outra história). Abbey Road tem o lado 2 completamente tomado por uma suíte que traz diversas faixas unidas entre si, que se não eram uma única suíte em essência, funcionavam perfeitamente desse jeito. O álbum, mais uma vez na história dos Beatles, influenciaria um sem-número de outras bandas.

Ouça Abbey Road aqui.

Yes – Yes


O primeiro disco do Yes ainda não tem o estilo grandioso que pegaria o mundo prog de surpresa alguns anos depois, mas é inegável que a banda era diferente de todas as outras. Apesar de ainda não ter nem Rick Wakeman nem Steve Howe em sua formação, os indefectíveis vocais de Jon Anderson e o baixo de Chris Squire já estavam lá. É verdade que ainda havia faixas como a cover dos Beatles “Every Little Thing” no repertório, mas o que chamava mesmo a atenção eram as composições próprias cheia de estilo como “Looking Around” e “Survival”.

Ouça Yes aqui.

Pink Floyd – Ummagumma

O Pink Floyd, depois de ter que chutar seu líder um ano antes, lutava pra encontrar uma nova direção em sua carreira. Em julho daquele ano tinha lançado a mediana trilha-sonora More e em outubro vinha armado com um disco duplo e com conceito meia-boca. Ummagumma traz o primeiro LP recheado com quatro faixas gravadas ao vivo, em que a banda adota um som completamente espacial. O segundo disco, gravado em estúdio, dava a cada um dos integrantes a chance de aparecer com composições e ideias próprias. O resultado final é bem mediano, mas a verdade é que foi um passo importante para a banda encontrar a sua própria personalidade, fato que seria sentido com força total no ano seguinte.

Ouça Ummagumma aqui.

Jethro Tull – Stand Up


Alguns irão exclamar: “mas esse disco do Jethro Tull não é progressivo!”. E eu vou concordar com quem disser isso. No entanto, Stand Up é definitivamente o primeiro álbum da banda inglesa a ter influências progressivas, influências essas que se tornariam cada vez mais fortes, até explodirem em 1972.

Ouça Stand Up aqui.

Genesis – From Genesis to Revelation


O Genesis tem uma baita história complicada com o seu primeiro disco. Pra começo de conversa, a banda soubera que outro grupo já tinha o nome Genesis, por isso a capa original do disco não trazia o nome da banda, só o título. From Genesis to Revelation também tem outra história curiosa: os direitos do álbum pertencem na realidade ao primeiro empresário da banda, Jonathan King. Os músicos eram jovem demais na época e não entendiam patavinas de negócios. Mais tarde King venderia os direitos do disco para TODO MUNDO (o site Rate Your Music sozinho lista 55 edições diferentes do álbum). Nesse primeiro LP a banda era comandada por King, que acabou puxando o som do Genesis para um baroque pop a la Bee Gees (do começo de carreira). Esse álbum foi absolutamente importante, no entanto, exatamente pelo que ele é. Depois dele a banda demitiria King e daria uma guinada de 360 graus.



Ouça From Genesis to Revelation aqui.


Frank Zappa – Hot Rats

Zappa lançou outro álbum em 1969 (Uncle Meat), no entanto é em Hot Rats que sua mistura entre jazz, rock, psicodelia e prog tomou a forma perfeita! Com o tempo Zappa, sempre mutante, mudaria seu som, fazendo com que esse disco se tornasse um marco dentro da discografia do músico americano. Em tempo, “Peaches en Regalia” e “Willie the Pimp” são clássicos absolutos!



Ouça Hot Rats aqui.

Procol Harum – A Salty Dog


No ano anterior o Procol Harum tinha ido mais longe do que todas as outras bandas quando gavou “In Held ‘Twas In I” em seu segundo álbum, Shine on Brightly. Todas as expectativas para com a banda eram altas quando o seu terceiro disco, A Salty Dog, foi lançado. Apesar de ser um trabalho conceitual, A Salty Dog acabou por mudar demais o direcionamento da música do Procol Harum e o rock progressivo apresentado como precursor no disco anterior não aparece por aqui. Esse álbum ainda seria o último a contar com as guitarras de Robin Trower e o baixo de Dave Knights.



Ouça A Salty Dog aqui.

Can – Monster Movie


Os alemães do Can sempre foram doidões, e o primeiro disco da banda, Monster Movie, afirma e comprova isso. Rock psicodélico, jazz, blues, world music e experimentações se somam no álbum em pouco mais de 38 minutos. Em tempo: se esse álbum já parece moderno, saiba que essa foi uma tentativa da banda em soar mais comercial. O primeiro disco na verdade tinha sido gravado em 1968 e iria se chamar Prepared to Meet Thy Pnoom, no entanto nenhuma gravadora se interessou pelo álbum, a maioria alegava que o som não era nada comercial. Esse disco seria lançado em 1981 sob o título de Delay 1968. A faixa que consome todo o lado 2 do LP, “You Doo Right”, tem mais de 20 minutos de duração, no entanto isso é pouco quando entendemos que a faixa foi editada depois da banda gravar uma jam session de mais de 6 horas.

Ouça Monster Movie aqui.

The Moody Blues – On the Threshold of a Dream

Em 1969 o Moody Blues lançou dois álbuns: On the Threshold of a Dream foi lançado em abril e To our Children's Children's Children em novembro. No entanto, o primeiro aparece nessa lista por continuar com as experimentações anteriores da banda com trabalhos conceituais, nesse caso lidando com os sonhos. Musicalmente falando, o Moody Blues acabaria se afastando do rock progressivo ano após ano, começando pelo sucessor de On the Threshold of a Dream.

Ouça On the Threshold of a Dream aqui.


The Nice – Nice

O terceiro do The Nice (banda de Keith Emerson) trazia o grupo aperfeiçoando o som que o disco anterior, Ars Longa Vita Brevis, tinha iniciado. O álbum trazia o lado 1 com quatro músicas de estúdio e o lado 2 gravado ao vivo com apenas duas canções, a clássica “Rondo ‘69” e uma versão de mais de 12 minutos de “She Belongs to Me”, de Bob Dylan. A título de curiosidade. o disco tem um sub-título: Everything as Nice as Mother Makes It (numa tradução literal: tudo tão bem quanto a mãe fez).

Ouça Nice aqui.

Van der Graaf Generator – The Aerosol Grey Machine


Tudo iniciou como um álbum solo de Peter Hammill, que tinha começado as gravações em julho de 69 com os membros do Van der Graaf Generator como músicos de estúdio. No entanto, a gravadora Mercury insistiu para que o disco fosse lançado com o nome da banda. The Aerosol Grey Machine ainda traz o VDGG com muitas tintas psicodélicas, no entanto é fácil de entender o gigante progressivo que a banda iria se tornar nos próximos álbuns.



Ouça The Aerosol Grey Machine aqui.

Renaissance – Renaissance

O Renaissance clássico que os fãs de prog conhecem (com Annie Haslam e Michael Dunford) ainda não estava presente nesse primeiro disco. Na realidade, a formação da banda era completamente diferente, contando com Keith Relf e Jim McCarty (vindos do Yardbirds). Em seus dois primeiros álbuns o grupo experimentava com folk, psicodelia e música clássica. Apesar de ser completamente diferente do Renaissance clássico, o disco de estreia do grupo (que mais tarde seria reformado pelo empresário) traz tudo que o rock progressivo sinfônico precisa: longas faixas, muitos pianos e órgãos e a música clássica como parâmetro. A história da banda é um tanto complexa nesse período e uma conferida na Wikipedia ajuda bastante.



Ouça Renaissance aqui.

Touch – Touch

Touch? Que diabos essa banda está fazendo aqui?”, você provavelmente vai se perguntar. O Touch foi uma banda de vida curta e formada pelo vocalista e tecladista do The Kingsmen, Don Gallucci. O disco de estreia gravado em 1968 teve gente como Mick Jagger, Grace Slick (Jefferson Airplane) e Jimi Hendrix comparecendo nas gravações, e o álbum mostra um som absurdamente contemporâneo e diferente para 1969, ainda mais tendo em conta que o disco não teve nenhum sintetizador presente e todos os sons foram criados através de outras técnicas. O álbum, apesar de raro e sem sucesso comercial, foi influência direta para bandas como Yes, Uriah Heep e Kansas. Inclusive o guitarrista/compositor do Kansas, Kerry Livgren, já afirmou em entrevistas que ele tem duas cópias desse álbum em sua casa até hoje, tamanho foi o impacto que o disco causou nele e em suas futuras composições. A banda encerrou as atividades assim que o álbum foi lançado. O disco foi relançado em 2012 pelo selo inglês Esoteric Antenna.



Ouça Touch aqui.

Le Orme – Ad Gloriam

Ad Gloriam
é o primeiro play da banda Italiana Le Orme. O disco foi lançado no início de 1969 e traz um som bem diferente do que veríamos dois anos mais tarde. Ao invés do rock progressivo sinfônico que todos os fãs de Le Orme adoram, Ad Gloriam traz a banda completamente embebida de psicodelia. Não apenas isso, a formação na época era diferente do famoso trio (baixo, teclados e bateria) que os tornaria famosos. O disco de estreia dos italianos era composto por um quinteto que trazia além do trio Aldo Tagliapietra (voz e violões – mais tarde baixo), Tony Pagliuca (teclados) e Michi Dei Rossi (bateria), também Nino Smeraldi (guitarras) e Claudio Galieti (baixo). Após esse primeiro disco e uma coletânea com singles e faixas mais antigas a banda se transformaria no trio que todos conhecem e se tornaria completamente prog já no próximo disco.


Epílogo

Como vocês podem bem ver, 1969 foi o alicerce fundamental de todos os álbuns clássicos gravados nos próximos anos dentro do gênero. Importante bandas lançaram seus primeiros discos nesse ano e nos próximos elas seriam as maiores bandas de todos os tempos dentro do rock progressivo.

Não concorda comigo? Acha que está faltando alguma coisa? Pisei na bola? Acertei em cheio? A seção de comentários te espera para que possamos debater esse ano de maravilhas!

Por Diego Camargo, do Progshine
Especial para a Collectors Room

Comentários

  1. O site melhorou muito esse ano. Tem postado mais matérias especiais e entrevistas e menos notícias. Tudo bem que notícias são importantes, mas já há muitos sites que cobrem esse nicho. De matérias especiais feitas por quem entende mais do assunto, são pouquíssimas ainda mais em português.

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  2. Obrigado pelo reconhecimento. Tiramos o pé mesmo das hard news e o objetivo é seguir o posicionamento música além do óbvio, tanto nas pautas quanto nas bandas apresentadas.

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  3. Este site é simplesmente maravilhoso e fiquei mais fã ainda,por ter dado uma atenção especial para as notícias relacionadas,na minha opinião,a melhor banda de rock da história ''Rush''...na qual é perseguida e até invejada pela maioria da imprensa musical brasileira.Parabéns e continuem esse trabalho maravilhoso.Sucesso !!!!

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  4. Ótima reportagem, mas tem um reparo a fazer: Robin Trower não deixou o Procol Harum depois de "A Salty Dog". Ele ainda gravaria "Home" e "Broken Barricades" com a banda. Matthew Fisher foi quem saiu junto com David Knights. Ambos foram substituídos por Chris Copping, velho colega de Brooker, Wilson e Trower no The Paramounts.

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  5. @Marcello Zapelini:

    Valeu pela correção Marcello. Meu erro :)

    E valeu pelo elogio!

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  6. Diego Camargo,

    Cadê o 15º disco?

    Estão listados apenas 14.

    No mais, excelentes posts sobre o assunto.

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  7. @RxBxCxp:

    Realmente cara, que gafe a minha! Ficou faltando um disco que eu já mandei pro Ricardo fazer a atualização!

    Valeu mesmo :)

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  8. @RxBxCxp:

    Realmente cara, que gafe a minha! Ficou faltando um disco que eu já mandei pro Ricardo fazer a atualização!

    Valeu mesmo :)

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  9. só disco de quebrar a cabeça do ouvinte heim; muito bom,continuem com matérias desse tipo, o site fala de todos os gêneros um pouco,apesar de que as vezes,parece que foca muito no metal,mais ta valendo,sempre tem progressivo,hard rock ou algo diferente,músicas fora do rock também etc.

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  10. Parabens pelo artigo. Desde que descobri o blog de voces(Sou da época que nao existia internet, noticias só em revista especializada, mas faltava o som para completar),descobri tambem muita coisa boa fora do comum que temos a nos massificar ,muita porcaria, a nos poluir os ouvidos e o cerebro.Nunca tinha ouvido FRANK ZAPPA,só tinha lido, ADOREI... long live to rocknroll. CONTINUEM PR FAVOR

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  11. Valeu pelos comentários pessoal! :)

    Deem uma olhada nos dois anteriores também!

    1967:http://www.collectorsroom.com.br/2013/12/o-rock-progressivo-ano-apos-ano-15.html

    1968: http://www.collectorsroom.com.br/2013/12/o-rock-progressivo-ano-apos-ano-15_13.html

    :)

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  12. Faltou Camel,Nektar e principalmente um dos icones do rock progressivo, o Gentle Giant.

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  13. Renata, favor ler TODO o post e se informar: em 1969, ano examinado no post, nenhuma das bandas que você citou havia lançado sequer o seu primeiro disco.

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