Dynahead: Crítica de Chordata II (2014)

A banda brasiliense Dynahead pode facilmente ser categorizada como uma das mais interessantes quando se trata de heavy metal no Brasil. Seguindo o seu próprio caminho, o grupo formado por Caio Duarte, Diogo Mafra, Pablo Vilela e Diego Teixeira foge do convencional ao elaborar um híbrido musical sem barreiras.

Interligando diversas vertentes, do thrash metal ao mathcore, que se combinam em um resultado progressivo simplesmente singular desde a seu trabalho inicial em Antigen (2008), uma equação que se mostrou ainda mais ampla e elaborada do que o prevista em Youniverse (2011), até culminar na epopeia grandiosa de Chordata, a obra dividida em duas partes que tem como base a evolução humana sob seus aspectos biológicos e filosóficos.


Tendo o primeiro episódio sido lançado pelo próprio grupo em 11 de março de 2013, a sua continuação saiu em formato digital praticamente um ano depois, em 20 de janeiro. E como ambos foram gravados simultaneamente, é de se esperar que Chordata II soasse apenas como uma progressão natural do anterior – mas a realidade é que eles vão muito além.

Com introdução extremamente marcante, proporcionada por um simples e absurdamente pesado riff, "Jugis" dá continuidade ao conceito no ponto em que a primeira parte deixou em aberto. Com relativa pouca variação, a agressividade instrumental e lírica se apresenta mais densa do que o habitual, tornando-se claustrofóbica e extrema. A sensação se materializa ainda mais intensa em "Kode", a atordoante e espetacular peça de mais de vinte minutos de duração, um marco na discografia do Dynahead.

Dinâmica, contrapondo aquele meio termo entre o prog metal e o mathcore, que aqui parece caminhar conscientemente através de tortuosas trilhas pela parte mais soturna do death e do black metal, ainda deixa espaço para intervenções atmosféricas e arrastadas que beiram o obscuro sludge americano, assim como o power metal e rock progressivo, que se mesclam ao diferenciado toque de música brasileira, talvez um dos mais belos pontos dentre todos os níveis musicais apresentados na faixa. Importante notar como há uma progressão entre cada passagem, e a fórmula diferente torna cada virada brusca e contrastante algo intrigante, e ao mesmo tempo natural – fator que desorienta e praticamente obriga a revisitar diversas vezes a faixa em busca de novos detalhes.

"Legis", ao seu modo, não vem em seguida como um descanso momentâneo para a mente após a experiência que acabou de vivenciar. Muito pelo contrário, desaba incessantemente uma tempestade de ritmos complexos e quebrados que trituram suas vértebras entre o groove e o math (ou seria djent?), mas sempre guardados pela já característica veia progressiva que conduz todo o álbum. Com proposta semelhante, "Mortem" traz uma belíssima infinidade de passagens mezzo-jazz mezzo-Meshuggah acompanhada de assombrosas linhas técnicas com quase irreconhecíveis ritmos regionais em certos momentos. "Numinous" encerra o trabalho totalmente baseada em instrumentos acústicos de tempos não convencionais e inteligentes linhas de vozes, demonstrando como escapar da obviedade mesmo nos momentos mais simples.

Se Chordata I trazia predominantemente o lado mais climático e sereno do Dynahead em certos momentos, a sua segunda parte afunda completamente nos aspectos soturnos, violentos, um lado extremo que até então não havia se materializado com tamanha brutalidade. Somado a isso, fica a impressão de que a banda força cada vez mais seus limites nas questões técnicas de suas composições, com estruturas e idéias que por mais inesperadas que possam soar no primeiro instante, se mostram condizentes (e muito) com a equação dinâmica que sempre fez parte da proposta da banda – o maior exemplo disto definitivamente está materializado ao longo dos vinte minutos de "Kode". 

Chordata II mantém a discografia da banda em níveis altíssimos, com músicas que ao extrapolarem o trabalho de composição já visto anteriormente continuam a desafiar quem as ouve, segurando agressivamente dentro de seu conceito e do caos a ser compreendido apenas depois de várias e concentradas audições. Exatamente por isso, o Dynahead permanece como um dos mais interessantes nomes da vanguarda do heavy metal brasileiro.

Nota 9

Faixas:
1 Jugis
2 Kode
3 Legis
4 Mortem
5 Numinous


Por Rodrigo Carvalho

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