Winger: crítica de Better Days Comin' (2014)

Desde o tenebroso IV (2006), os fãs do Winger vêm dançando conforme a música de uma mais tenebrosa ainda banda do rock brasileiro que diz "Vivemos esperando dias melhores...". O álbum que marcou o retorno em definitivo do Winger é um sabre no esterno, e o gosto amargo perdurou por mais três anos, até o lançamento de Karma, que, se está longe de ter o carisma do material hoje encarado como clássico do grupo, consegue varrer seu antecessor direto para debaixo do tapete sem a menor pena.

Mas nem o mais otimista dentre os fãs poderia esperar algo tão esmagador quanto Better Days Comin' (em português, dias melhores a caminho). Após a primeira ouvida do disco — que caiu na net às vésperas de seu lançamento oficial via Frontiers Records —, ouso até contestar o seu nome, que deveria ser Better Days Has Come, pois nele jaz a prova irrefutável de que tais dias melhores já vieram... e vieram com tudo, coisa que os clipes de "Tin Soldier", "Rat Race" e "Midnight Driver of a Love Machine" — cara, esse nome é muito maneiro! — já indicavam.

Better Days Comin' traz o Winger mais furioso e pesado do que nunca. Se no início dos anos 1990, o quarteto impressionava mais pela qualidade individual de seus integrantes, hoje em dia parece que a cola finalmente secou e o que chama mais a atenção é o fator complementaridade. O som que sai pelos alto falantes enquanto escrevo este texto é produto indiscutível de oito mãos e quatro vozes que sobressaem em harmonia invejável. O momento neste relacionamento é tão favorável que pela primeira vez em tempos o que se pode chamar de uma turnê grande será realizada, com datas que vão de maio a setembro deste ano.

Voltando ao disco, o som das guitarras tons abaixo de Reb Beach e John Roth é cheio e seus drives são potentes. O velho Paul Taylor tem seu valor, mas Roth é muito mais guitarrista. A bateria de Rod Morgenstein permanece entre as mais elegantes e completas que existem no hard rock, fugindo das levadas óbvias, acrescentando firulas que acentuam em prol de uma, neste caso, bem-vinda complexidade — repare no instrumento em "Tin Soldier". O baixo tem swing e Kip Winger canta como se estivesse amarrado a um barril de pólvora. Quando falta aquele fôlego de outrora, o cara já faz uso de um de seus muitos recursos vocais para não deixar a peteca cair.

Por fim, as letras fogem do estigma lovy metal ensaboado que aprisionou Winger e muitos de seus contemporâneos no imaginário do povo como bandas de trilha sonora de novela. Aqui são abordados temas como guerra, medos contemporâneos e dar a cara a tapa, que vem a ser a bandeira de todas as bandas tidas como datadas que se erguem das cinzas e se mostram ainda capazes de oferecer trabalhos admiráveis como este aqui. A sua vida pode mudar depois de descobrir que o Winger vai muito além de "Miles Away". E Better Days Comin' pode ser o disco responsável por essa mudança.

Nota: 9,5

01. Midnight Driver of a Love Machine
02. Queen Babylon
03. Rat Race
04. Better Days Comin’
05. Tin Soldier
06. Ever Wonder
07. So Long China
08. Storm in Me
09. Be Who You Are, Now
10. Another Beautiful Day
11. Out of This World

Por Marcelo Vieira

Comentários

  1. Legal saber que o Winger fez mais um bom disco. Vou esperar chegar a minha cópia, já que certamente comprarei ele, para ouvir. Porém discordo categoricamente do adjetivo usado para caracterizar IV.....

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  2. Sou suspeito para falar da minha banda do coração. Para mim tudo que Kip Winger toca vira ouro. Embora o IV não esteja no nível dos demais trabalhos, considero um disco excelente e quanto ao Better Days Comin'......é mais uma obra prima. O melhor disco que ouvi desde 1997, ano do lançamento de outra obra prima intitulada Thisconversationseemslikeadream.

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  3. Tô com o Fernando. Satisfeito com a chegada de mais um trabalho do Winger, porém sem entender o motivo do massacre ao IV, que é um disco que me agrada bastante. Gosto de várias músicas do álbum, especialmente da balada One a day like today (bonita demais). Vou adquirir imediatamente o novo.

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  4. Talvez se eu parar para ouvir o IV hoje em dia, a minha opinião mude. Mas lembro quando o disco chegou até mim, toda a promessa de um retorno explosivo, composições com o carisma das antigas e com o peso marca registrada do hard rock do século XXI... Nada disso o disco foi capaz de cumprir. Há bons momentos, mas o overall não desceu!

    E a carreira solo do Kip é fabulosa. O que é a voz do cara no Made By Hand???!

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  5. Que isso, o IV é o melhor disco do Winger. Até ri aqui quando li sua resenha, parecia que eu tava lendo Rock Brigade dos anos 90. Achei o Karma bem mais fraco e muito mais óbvio

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  6. Já tentei algumas vezes digerir o som do Winger, mas nunca achei grande coisa. Vamos ver se esse disco vai ser o responsável por mudar minha opinião (que não é nada favorável à banda).

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  7. "Que isso, o IV é o melhor disco do Winger."

    Até ri aqui quando li ISSO, hehe

    :)

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  8. questões de gosto e opiniões são sempre delicadas e devem ser respeitadas acima de qualquer coisa. a crítica é muito boa, embasada e bem escrita e este novo album do winger é bom sem, no entanto, superar o matador "karma", mas continuando a mostrar toda a qualidade de seus músicos. a questão é que descordo frontalmente da opinião emitida quanto ao album "IV" que, em minha modesta opinião é variado musicalmente, com canções extremamente bem compostas e tocadas com a alma de quem estava voltando à cena e querendo mostrar porque era uma banda tão subestimada. é um album diferente, sem dúvida, do resto da obra da banda, mais calcada no hard rock com pitadas eventuais de metal (pitadas bem mais presentes nos últimos dois discos) mas, mesmo assim, canções inspiradíssimas como "blue suede shoes", "generica", "on a day like today", "Right Up Ahead" e "your great escape" não podem ser desprezadas.
    FÁBIO NOBRE BRAZ
    Belem/Pa

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  9. Infelizmente não conheço muita coisa da banda. Para falar a verdade, quando o nome Kip Winger me vem a cabeça o que eu lembro é do Lars jogando dardos em um alvo com a cara dele em um clipe do Metallica, ou documentário, pra falar a verdade eu não tenho certeza.

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  10. Winger é um achado pra quem gosta de Rock. Foram (talvez merecidamente) escorraçados da indústria musical nos anos 90 devido à onda grunge, mas deram a volta por cima e estão fazendo música boa hoje, independente de modas (claro que deram uma necessária repaginada no visual). Merecem meu respeito e admiração por isso. E ainda mais pelo nível musical impecável, como pode ser conferido aqui:

    http://www.youtube.com/watch?v=eEkaej0bkwQ

    Além de boa música, isto é uma lição de vida.

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