Coldplay: crítica de Ghost Stories (2014)

Antes de qualquer coisa, preciso fazer uma confissão. Eu tentei. De verdade, eu juro que tentei. Por mais que não acredite nesta tal de "imparcialidade" (ser imparcial, para mim, é exatamente o contrário do que é ser crítico, mas esta discussão fica pra depois), eu tentei despir minha mente e meu coração de quaisquer preconceitos assim que começou a audição de Ghost Stories, o novo disco do Coldplay. Fui totalmente aberto. Mas quando dei o play e a faixa de abertura, "Always in My Head", entregou uma vibração etérea, quase Enya, tudo foi por água abaixo. Falhei miseravelmente. E já passei a odiar o disco logo de cara. Não fui capaz. Mesmo assim, fui persistente. E ouvi o diacho até o final. Passei a ter muito orgulho de mim mesmo. Porque foi uma tarefa árdua.

Juro que não consigo entender o Coldplay, por mais que eu tente. Não que toda a carreira deles seja um fracasso. Sou absolutamente capaz de enxergar alguns bons momentos. Mas o meu ponto é que eles são apenas "alguns". E Ghost Stories não está, definitivamente, entre eles. Estamos diante daquele que deve ser um dos discos mais esquecíveis da trajetória de Chris Martin e seus comandados. Se ele simplesmente não tivesse sido lançado, em nada mudaria a discografia dos caras. Todas as músicas se parecem demais, sem sabor, sem brilho, misturadas. A necessidade de ser sempre meio místico, misterioso, cantando sussurrado, doce e fofo, com estrelinhas brilhando ao redor, chega a ser cansativa. Tudo fica com um sabor de balada açucarada, por mais que a letra aborde qualquer outro assunto mais espinhoso, mais complicado, mais desafiador.

É um disco de uma banda de rock no qual falta, vejam os senhores e as senhoras, rock. Porque, por mais fofa que uma banda queira ser, ela precisa se entregar, precisa mergulhar na canção, na performance. Ou então vira uma coisa blasé, do tipo "não me importo, não estou sentindo nada, mas sou uma gracinha de bom moço". Em uma das edições do finado Top Top, um dos meus programas favoritos nas últimas encarnações da MTV, a simpática irlandesa Enya era definida como “não-música”. Eles diziam que tudo que ela fazia era reunir meia-dúzia de suspiros, uns cantos de passarinhos e 1/3 de sons de água correndo e pronto. Tava resolvido. É exatamente isso que o Coldplay faz em "O", a canção de encerramento da bolacha. Vira trilha-sonora para fazer yoga, podendo facilmente ser encaixada em qualquer um daqueles discos do tipo Sons da Natureza.

O restante das canções, honestamente, ajuda bem pouco. Em "Magic", os minutos finais trazem um violão acústico que dá uma aceleradinha, dando um sabor mais especial. Mas fica nisso – e a música não consegue sair do 0 x 0. O single "A Sky Full of Stars" ainda consegue ganhar um respiro, com um interlúdio tipo balada do David Guetta. Acaba criando uma sensação sonora absolutamente genérica, mas pelo menos consegue injetar um mínimo de animação no disco. Isso porque nem vou mencionar a insuportável "Midnight", talvez uma das composições mais pentelhas do ano, com uma coleção de irritantes e intermináveis efeitinhos eletrônicos.

Num mundo digital e sem fronteiras, no qual é possível descobrir todos os dias dezenas de novas bandas, dispostas a experimentar, a dar a cara para bater, como diabos alguém ainda perde tempo com o Coldplay? E como diabos o Coldplay ainda perde tempo lançando uma bobagem como Ghost Stories em meio a uma indústria fonográfica em constante ebulição?

Juro que não dá pra entender.

Como eu disse, não consegui. Perdão.

Nota 3,5
Faixas:
1. Always in My Head

2. Magic

3. Ink

4. True Love

5. Midnight

6. Another's Arms

7. Oceans

8. A Sky Full of Stars

9. O

Por Thiago Cardim

Comentários

  1. "É um disco de uma banda de rock".... Minha única discordância à resenha... Cadê a banda de rock? COLDPLAY pode ser tudo, menos uma banda de rock... Sempre achei que a banda foi superestimada, mas enfim...

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  2. Gosto muito dos primeiros discos do Coldplay. E estava esperançoso que a banda voltasse ao som do início da carreira. Mas esse disco foi uma decepção imensa. A música A Sky Full Of Star parece mais um hit do DJ Avicii com participação do Coldplay e não o contrário.

    Sobre a Enya, discordo completamente de você! Enya é música sim, é bom pra cacete e não é só suspiros e sons de água. Procure vídeos de apresentações ao vivo que você verá que o som é muito mais que isso.

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  3. A Rush of Blood to the Head: este é o grande disco do Coldplay. Gosto muito desse álbum.

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  4. Perfeita a crítica. Parabéns Sr. Cardim. E pegando o gancho do que o Ricardo falou, p/ mim A Rush of Blood to the Head é tudo o que vc precisa ouvir do Coldplay. O resto é perda de tempo.

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  5. Também não consigo imparcial quando o assunto é Coldplay, horrível.

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  6. Vamos ao play. Se tem uma coisa que eu não sou é injusto. Sempre dou uma chance à música, mesmo que a única vez que o Coldplay tenha me despertado a atenção tenha sido com o clipe de 'The Scientist'.

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  7. Comprei o disco no ITunes, ouvi duas vezes e acho que não tentarei novamente. Detestei tudo.

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  8. Comprei o disco no ITunes, ouvi duas vezes e acho que não tentarei novamente. Detestei tudo.

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  9. Concordo o rush é o melhor discos deles, mais o prachutes também e excelentem o Y&x tem seus momentos mais dali pra frente cold play acabou

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  10. O disco é excelente para animar um velório. Gosto do Coldplay, vibrei quando baixei o disco, quando ouvi, sinceramente decretei que aquilo era o pior do ano. Esta mania de ser diferente que me irrita, aposto que vai ter gente ainda dizendo que a gente não conseguiu captar o que eles quiseram transmitir.

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  11. Coldplay não é ruim, só não é rock.

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  12. Ri demais com essa crítica!!!

    Acho que fizeram sorteio no Collectors pra ver quem resenharia essa bomba! Sobrou pro Cardim! kkkk

    O comentário do Lucas define tudo: "O disco é excelente para animar um velório".


    Sem mais!

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  13. Coldplay é Indie Rock e o Ghost Stories foi inspirado no divórcio do Chris Martin com a Gwyneth Paltrow. Apesar de ser diferente dos outros, o álbum traz em si uma sensibilidade marcante. Além disso, temos A Sky Full Of Stars (feat. Avicci) que tem um toque eletrônico para complementar. Simplesmente é genial!

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