Rival Sons: crítica de Great Western Valkyrie (2014)

O Rival Sons chega ao seu quarto disco com o status - merecido, diga-se de passagem - de uma das melhores bandas de hard rock do planeta. E, ao final da audição das dez faixas de Great Western Valkyrie, o sentimento é de que estamos presenciando o nascimento, a evolução e os passos largos e decididos de uma das grandes bandas do nosso tempo.

O Rival Sons não brinca em serviço. O quarteto - que sofreu a sua primeira mudança de formação com a entrada do baixista Dave Beste no lugar de Robin Everhart - deixou de lado o flerte com o pop do último disco, Head Down (2012) - escancarado principalmente em “Wild Animal” e “Until the Sun Comes” - e intensificou a presença de elementos daquele hardão viciante e influente pra caramba produzido no início dos anos 1970. Great Western Valkyrie tem uma sonoridade áspera, cortante, que transborda influências de blues unidas ao DNA hard rock do grupo, característica que é uma das principais razões que fazem os californianos se destacarem tanto de seus pares.

Ao contrário do que se percebia nos registros anteriores, a onipresente influência do Led Zeppelin soa menos óbvia no novo disco. Ela persiste, e é ótimo que continue a pertencer à identidade claramente em evolução do Rival Sons, mas não é mais o ingrediente principal como foi, principalmente, em Pressure & Time (2011), e de maneira mais sutil, pero no mucho, em Head Down. A banda desce a cortina aos poucos e revela ao público a sua identidade própria, e ela é forte e cheia de estilo. A única canção onde a raiz zeppeliana do grupo fica evidente é “Open My Eyes”, espécie de filha de um insólito casamento entre “When the Levee Breaks” e “Your Time is Gonna Come”, presentes respectivamente no quarto e no primeiro LP da imortal banda de Jimmy Page.

O vocalista Jay Buchanan e o guitarrista Scott Holiday dividem os holofotes principais. O primeiro ousa mais em seus vocais, mostrando um avanço evidente em relação aos anos anteriores. E demonstra ser capaz de andar com as próprias pernas no que tange às composições, visto que “Good Things”, uma das melhores do álbum, é uma criação exclusivamente sua. Já Holiday mostra mais uma vez a criatividade e a inventividade percebidas nos discos anteriores, seja na criação de riffs pegajosos, no entrelaçamento de texturas sonoras ou nos vôos altos em que embarcamos em suas confortáveis seis cordas.

Um elemento pouco comentado do Rival Sons, mas essencial em sua sonoridade, é o baterista Michael Miley. Excelente músico e fissurado por John Bonham (vide o timbre de sua bateria, que em todos os álbuns é muito próximo ao som clássico perpetuado por Bonzo), Miley solta a mão com peso e técnica durante todo o disco, e mostra entrosamento instantâneo com Dave Beste, fato explicado pelo fato do novo baixista já estar na banda há um certo tempo e ter tocado em grande parte da turnê de Head Down.

Sem reinventar a roda, sem a pretensão de tentar soar único e, mais importante, sem abrir mão de suas convicções, o Rival Sons gravou aquele que é, muito provavelmente, o seu disco mais equilibrado até o momento. Consistente e repleto de grandes momentos (“Electric Man”, “Good Luck”, “Secret”, “Open My Eyes”, “Rich and the Poor”), Great Western Valkyrie ainda brinda o ouvinte com duas colossais faixas em seu encerramento, as longas “Where I’ve Been” e “Destination on Course” - a primeira uma linda balada repleta de fleeling com grande interpretação de Jay Buchanan e um ótimo solo de guitarra, e a segunda um sensacional blues nada ortodoxo, com coros spirituals e arranjo insólito que deixa claro o altíssimo nível alcançado pela banda.

O Rival Sons já tem lugar garantido no coração, nos ouvidos e na estante de quem gosta de rock. E com justiça.

Nota 8,5

Faixas:
1 Electric Man
2 Good Luck
3 Secret
4 Play the Fool
5 Good Things
6 Open My Eyes
7 Rich and the Poor
8 Belle Starr
9 Where I’ve Been
10 Destination on Course

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Que disco excelente! Eu adoro esses caras!Sou pai fresco, meu filho ainda tem 29 dias, e fico feliz em saber que existe uma banda como essa, em plena evolução, pra que um dia eu possa apresenta-lo. Nos últimos dias, ele dormiu ao som de “Destination on Course”, nossa canção preferida do álbum.
    Se tem uma coisa que sinto falta no Rival Sons, são os solos mais intensos. Já deu pra perceber que Scott Holiday é bastante criativo, mas nos solos parece que ainda falta algo, as duas músicas que fecham o disco, mereciam solos "a la Since i've been loving you".
    Jay Buchanan evoluiu demais, está espetacular.

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  2. O melhor de disco de hard rock de 2014.

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  3. Um Discaço!! Estará entre os melhores do ano com certeza!!
    Tenho que concordar com o Arthur Moreira quando diz que falta algo mais em alguns solos do Scott Holiday, também tenho essa impressão em algumas musicas. Mas em contrapartida o cara esbanja criatividade com riffs simples e de poucas notas, mas que são muito interessantes e eficientes.
    Todas as músicas merecem destaque, Álbum excelente.

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  4. Creio que seja o melhor album de rock de 2014 até agora.

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