Santana: crítica de Corazon (2014)


Expectativa maior pelos convidados que pela mistureba musical a ser oferecida e que, cá entre nós, já deu uma senhora desgastada. O multiplatinado Supernatural (1999) mostrou a Carlos Santana o caminho de volta para a mídia. Puta disco, sem dúvidas, mas desde então, o guitarrista não fez nada além de repetir a mesma fórmula que se mostrou tão vitoriosa no passado. Em Corazon, seu mais recente trabalho, Santana volta a convidar Deus e o mundo para colaborações que nem sempre resultam em algo agradável de se ouvir — muitas vezes, a única coisa que salva é a sua guitarra de fraseados menores e timbre inconfundível.

A abertura não poderia ser pior, com o tenebroso Samuel Rosa cantando num espanhol à Vanderlei Luxemburgo o que se pode chamar de uma versão caribenha de "Saideira", hit do Skank de repercussão viral nos happy hours dos anos 1990. Numa virada de mesa digna do tricolor carioca, "La Flaca" dita o tom no que seria uma "Smooth" do novo milênio, com levada gostosa de ouvir e um refrão simplesmente irresistível. Além de contar com a voz de Juanes, uma das grandes vozes da música latina na atualidade.

O arroz de festa Pitbull chega junto para estragar a velha "Oye Como Va" (listada como "Oye 2014"), transformando-a no típico dance vazio de conteúdo que só faz a cabeça de quem já está todo cagado de lama no final de uma festa rave. Já em "Una Noche En Napoles", a receita inclui violão de nylon, vocais femininos em harmonia e percussão que remete à fase mais suave da carreira de Carlos, na segunda metade dos anos 1970, quando prevaleciam em seus discos composições lentas e de extremo bom gosto.

Pensando em garantir um espaço nas ondas do rádio, o mestre convida Romeo Santos e do encontro brota "Margarita", que é o tipo de lançamento que toda light fm adora debutar. Questão de tempo você ouvi-la numa JB FM da vida. O mesmo vale para "Feel It Coming Back", com participação de Diego Torres — ainda que aqui a vibe seja totalmente rock... ou balada-rock, se me permitem o uso deste rótulo. Pule a faixa que conta com Wayne Shorter sem medo. Faça o mesmo com as bonus tracks. Sério.

Com o álbum prestes a acabar, você repara: Corazon tem muito menos overdrive que seus antecessores — talvez, seja o disco mais "leve" de Supernatural até aqui. Por outro lado, é o disco com mais bolas fora de todos: metade das músicas não faria falta alguma à humanidade e insistir em convidar essa "tchurma" do hip-hop e eletrônico mais depõe contra que qualquer outra coisa. O gabarito foi dado, portanto, ouça somente o que presta e poupe seus ouvidos para lançamentos que valham a pena do início ao fim.

Nota: 5

01. Saideira (feat. Samuel Rosa)
02. La Flaca (feat. Juanes)
03. Mal Bicho (feat. Los Fabulosos Cadillacs)
04. Oye 2014 (feat. Pitbull)
05. Iron Lion Zion (feat. Ziggy Marley & ChocQuibTown)
06. Una Noche en Napoles (feat. Lila Downs, Nina Pastori & Soledad)
07. Besos de Lejos (feat. Gloria Estefan)
08. Margarita (feat. Romeo Santos)
09. Indy (feat. Miguel)
10. Feel It Coming Back (feat. Diego Torres)
11. Yo Soy la Luz (feat. Wayne Shorter & Cindy Blackman Santana)
12. I See Your Face

Bonus Tracks:
13. Saideira (feat. Samuel Rosa)
14. Beijo de Longe (feat. Gloria Estefan)
15. Amor Correspondido (feat. Diego Torres)

Por Marcelo Vieira

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