Veredito Collectors Room: The Black Keys - Turn Blue (2014)

O Veredito Collectors Room do mês de maio é dedicado ao novo e oitavo álbum da dupla norte-americana The Black Keys, um dos nomes mais falados e cultuados do rock nos últimos anos. Turn Blue, sucessor do megaplatinado e excelente El Camino (2011), foi analisado por cada integrante da nossa equipe, que emitiu a sua opinião sobre o trabalho e atribuiu uma nota para ele. No final, fizemos uma média geral com a soma de todas as notas e atribuímos o nosso veredito sobre Turn Blue.

E, é claro, queremos saber o que você achou do novo disco do Black Keys. Conte pra gente a sua opinião nos comentários.


Dentre os críticos, há quem diga que é resultado da influência do produtor Danger Mouse. Há quem suspeite que foi a separação de Dan Auerbach. Mas uma coisa é fato: a sonoridade do duo The Black Keys em Turn Blue, sucessor do bem-sucedido El Camino (2011), simplesmente se transformou. Esqueça o vibrante blues-rock de arena que adicionava modernidade a uma mistura de rock clássico, surf music, soul e por aí vai. Não se deixe enganar pela guitarra ganchuda que abre a faixa inicial, "Weight of Love", talvez a mais longa da dupla e que é, sem dúvida alguma, o melhor momento de Turn Blue. A realidade do disco se revela já a partir da segunda faixa, "In Time". Estamos diante de um álbum mais soturno, introspectivo, slow tempo, que flerta nitidamente com o rock psicodélico dos anos 1970, explorando temas quase sofridos, de coração apertado. E, obviamente, com uma pitadinha eletrônica só pra apimentar. Vejam: eu sou o primeiro a defender que uma banda saia do óbvio, que não se prenda a ser um cover de si mesma emulando seus grandes hits do passado. Entendo perfeitamente que um artista queira experimentar, ampliar os seus limites sonoros, amadurecer. Mas me incomoda que, com isso, ele abandone suas principais forças pelo meio do caminho, que ignore algo que funcionava perfeitamente. Melhor seria somar e não subtrair. Turn Blue não é ruim. Mas, por vezes, soa um tanto distante demais, frio, sem pegada, sem energia. Em mais de 80% da audição, o que se vê (ou ouve) são faixas com poucas variações, que mal se diferenciam entre si. O resultado beira o modorrento. Além de "Weight of Love", vale prestar atenção em "Gotta Gey Away", a gostosa canção que encerra o disco com um sabor mais quente, que remete à herança blueseira que lhes deu tanta força nas produções anteriores. Se Jack White escutar Turn Blue, muito dificilmente vai arriscar dizer que se trata de mais uma cópia de sua carreira. E não, isso não é um elogio. Nota 6 (Thiago Cardim)

El Camino pode ter sido um sucesso absoluto de crítica e vendas com o seu tributo às décadas de 1950, 1960 e 1970, com um rock direto, sem nenhuma firula e deixando bastante do blues pra trás. Continuar nesse caminho de altas velocidades e melodias apelativas não seria apenas a repetição da mesma ideia, mas também o seu desgaste. E ainda bem que não é o que ocorre em Turn Blue. O oitavo disco da dupla é tenso, arrastado, acompanhado por uma melancolia bluesy que praticamente não existia no anterior, em seus melhores momentos extrapolando na psicodelia e indo fundo no folk americano (ao seu modo, claro). Esse sentimento reflexivo se derrama tanto ao longo das onze faixas que consegue carregá-lo mesmo quando o The Black Keys insiste na mesma batidinha monótona acelerada, timbres breguíssimos e a sempre irritante distorção nas vozes – os únicos poréns deste que é um dos mais pessoais álbuns do duo de Ohio. Nota 7 (Rodrigo Carvalho)

Uma das coisas que mais me incomoda em se tratando de rock — qualquer que seja a vertente — dá as caras com força em Turn Blue, oitavo álbum de estúdio do The Black Keys: a sensação de espaços em branco; lacunas sonoras que, teoricamente, compõe o alicerce sonoro de boa parte dos grupos indie, mas que, para os ouvidos às vezes fundamentalistas de motoclube deste que vos fala, mais deixam a impressão de algo inacabado, às vezes feito intencionalmente nas coxas e irrefutavelmente visando a idolatria daquela turma descolada que frequenta a Starbucks e discute Laranja Mecânica. Estereótipos — e alfinetadas — à parte, é preciso reconhecer que, dentro daquilo que se propõe, o The Black Keys ainda é imbatível; é o famoso "para quem gosta, deve ser muito bom." A gravação, realizada no tempo recorde de um mês, é de altíssimo nível, e a produção do DJ Danger Mouse — repetindo a dose que deu origem ao aclamado El Camino (2011) — assegura a identidade musical que a tantos diz tanta coisa e à mim não diz coisa alguma. Nota 6 (Marcelo Vieira)

A parceria do Black Keys com o produtor Danger Mouse mudou a carreira do duo formado por Dan Auerbach e Patrick Carney. De nome comentado por poucos, a banda se transformou em uma das mais celebradas do rock atual - e com justiça, diga-se de passagem. Attack & Release (2008) lapidou a sonoridade crua e áspera dos primeiros discos, formatando-a para as multidões. Brothers, o sensacional disco de 2010, é uma avalanche de singles impressionante e um dos melhores álbuns dos anos 2000. El Camino (2011) é o ápice comercial do grupo, o encerramento de uma trilogia brilhante. E Turn Blue, novo disco do Black Keys, é a repetição sem graça e sem inspiração de tudo isso. Sem nenhum brilho, repetindo-se de maneira exagerada e dando voltas ao redor do próprio umbigo, a banda soa preguiçosa e modorrenta em seu novo trabalho, que não chega nem perto dos sete anteriores. Ao final da audição, duas certezas: a aliança com Danger Mouse parece ter chegado ao fim, enquanto Patrick Carney segue mais interessado em discutir com fãs de Justin Bieber e Dan Auerbach prefere bater boca com Jack White. Voltar a colocar a música como prioridade: é o que faltou em Turn Blue. Nota 4 (Ricardo Seelig)

Era improvável que o Black Keys conseguisse repetir o que alcançou em El Camino (2011). Uma mistura quase perfeita entre rock simples, pop e estilhaços de blues. De fato, não repetiu. Isso, porém, não impede que Turn Blue, novo álbum dessa dupla de Ohio, seja um bom trabalho. Na verdade, a abertura com "Weight of Love" até dá a impressão de que Dan Auerbach e Patrick Carney seguiriam no ápice, pois trata-se de uma música estupenda. Surpreendente e dona de belos solos, mostra que é até ingênuo considerá-los uma simples banda indie. Há mais por trás. "Bullet in the Brain", "Fever", "Waiting on Words" e, sobretudo, a faixa-título, também são bem legais. O problema se dá em faixas como "10 Lovers", "It's Up to You Know", "In Our Prime" e a terrível "Gotta Get Away", quando a queda de qualidade do disco é vertiginosa. Ouça e se divirta. Só não espere um novo clássico absoluto. Nota 7,5 (Guilherme Gonçalves)

O nosso veredito final é 6,1

Equipe Collectors Room

Comentários

  1. Oloco, senhores. Eu achei o disco bem bacana, e olha que não sou adepto ao indie. Na verdade, acho que o público típico deles não deve ter recebido o álbum muito bem, pois o registro ficou bastante introspectivo, e essa galerinha indie é bem baladeira.
    Achei as faixas um tanto parecidas, mas isso não me impediu de viciar em algumas delas, como em "in time", "year in review" e "10 lovers". A última faixa, "gotta get away", eu ouso dizer que não faria feio em algum disco clássico dos Stones.
    Por fim, em minha (leiga) opinião, Locked Down, do Dr. John, tem uma importante parcela no resultado de Turn Blue, o que demonstra a qualidade do lançamento.

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  2. Não achei o disco ruim, apesar de ser abaixo dos anteriores. O próprio El Camino, apesar de super premiado e muito bem produzido, já tinha dado uma caída.
    O conceito até pode ser copiado, mas Jack WHite é muito mais inquieto, inventivo e criativo que Patrick e Dan.
    Sigo gostando dos caras, mas estou mais ansioso para o Lazaretto, pq as duas que ouvi, me animaram muito mais.

    Caros amigos, sério mesmo, que vcs consideram o The Black Keys uma banda indie?
    Até concordo que a partir do El Camino, boa parte do público, era o mesmo que Radiohead, Cold Paly e R.E.M, mas não os vejo dessa forma.
    O que define ser uma banda indie?

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  3. Oi Arthur...a definição pra indie é a mesma de classic rock em minha opinião: nenhuma !
    É apenas um rótulo que não descreve nada !
    Abração

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  4. Na minha opinião o novo trabalho do Black Keys é o melhor disco do ano, pelo menos até agora. É o tipo de trabalho difícil de escutar pra quem vem ouvindo os dois há alguns anos. Porém, se a galera der mais uma chance ao álbum podem se surpreender. Achei as músicas bem cativantes, mais voltadas para a Soul Music e para o Funk. Provavelmente estará entre os meus preferidos naquela lista famosa de final de ano. Um disco que vai ganhar força e o reconhecimento de muita gente apenas com o tempo.

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  5. Fiquei surpreso ao ver o veredito desse disco aqui no Collectors, pois achei esse álbum muito bom. Resolvi ouvi-lo novamente, para ver se achava algum defeito, e só percebi que ele melhora a cada audição, tendo "10 lovers" como uma das melhores musicas do ano.

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  6. Certamente não sou a pessoa mais indicada para comentar uma banda que eu pouco ouvi, mas sinceramente achei o disco em questão legal. Sem dúvida, é bem diferente dos primeiros discos, que eram bem básicos mesmo e com uma pegada rocker mais suja, mas eu gostei desse também.

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  7. Giordano, concordo com você. Foi o que eu tinha comentado: esse disco é daqueles que só vai ganhar seu devido reconhecimento lá pra frente. Dá para perder a conta de quantos álbuns foram ganhando força ao longo dos anos. Esse é um deles.

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  8. Gosto muito da dupla e confesso que estranhei a primeira vez que escutei o CD.

    Até esperava um El Camino parte dois, mas que nada, fora Fever (que para mim é a música mais fraca do Black Keys, que acho que tem uma discografia impecável) e Gotta Get Away (uma quase homenagem ao Creedence) é um disco bem intimista, para ouvir com calma e que vai melhorando a medida que vai sendo ouvido. Weight of Love é ótima, ainda mais com os solos a la Neil Young.

    Não tem nada a ver com o passado deles (e é bem tentador para desejar que eles voltem ao básico), e acho que eles nem vão seguir este caminho, mas se este disco é o mais fraco da discografia, eles vão indo muito bem.

    Diego - Floripa/SC

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  9. Vou transcrever exatamente uma opinião que expressei no facebook sobre o àlbum:

    "Superar álbuns como "El Camino" e principalmente "Brothers" (que pra mim é o melhor da carreira da banda) não seria fácil, e de fato "Turn Blue" não supera, mas mostra uma outra face do Black Keys, uma face mais experimental e psicodélica.

    Quando saiu o single de "Fever", foi meio estranho, pois era uma musica mediana demais ao se comparar com musicas dos álbuns anteriores, mas ela se encaixa perfeitamente no contexto do disco e não incomoda nem um pouco.

    A faixa de abertura, "Weight Of Love" é sem dúvidas a melhor do disco, começando com um clima meio Far West, estilo Ennio Morricone, para depois entrar em um solo de guitarra inspirado e denso, seguido por uma linha de baixo pulsante e firme, a musica se torna algo épico, com um refrão grandioso e Dan Auerbach abusando com bom gosto de sua guitarra.

    Algumas outras faixas também merecem destaque, como "Year In Review" que poderia ser um excelente single pelo seu apelo pop, talvez se sairia melhor do "Fever";

    "Bullet in The Brain" nos engana trazendo um balada no inicio, mas depois cai em um sintetizador psicodélico e um ritmo dançante;

    "It's Up To You Now" talvez seja o mais próximo que temos de um blues rock, com uma mudança de ritmo no meio da musica, alias, uma característica pertinente em várias faixas;

    "Waiting On Words" é verdadeira balada do álbum, com o vocal incrível de Dan Auerbach, uma canção tranquila, suave, excelente.

    O álbum encerra com a improvável "Gotta Get Away". Serio! Essa musica destoa completamente do álbum, um rock 'pra cima' que poderia estar facilmente em "El Camino", só que a musica é tão boa, tão contagiante, que dá pra dar um desconto.

    "Turn Blue" está longe de ser um álbum ruim, alias, é um trabalho ousado e isso é admirável. A parceria com o produtor Danger Mouse, que vem desde o álbum "Attack And Release" abriu novos horizontes para o Black Keys e agora é difícil saber quais caminhos a banda irá tomar a partir de agora, enfim, desde que nos surpreenda com boas musicas está valendo.

    Nota: 8/10"

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  10. Esse vai ser o único disco desses caras que não vou adquirir. É ruim demais, dá sono, entende?

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