26 Bandas para o Matias: L de Led Zeppelin

Tenho uma teoria: se você precisar explicar para um ouvinte de rock a importância e a qualidade do Led Zeppelin, essa pessoa não é um bom ouvinte. Tudo que ela escutou nos seus 5, 10, 15, 20 anos como fã do estilo, entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

Não lembro a primeira vez em que ouvi a banda de Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham. O que recordo é que sabia a letra de “Stairway to Heaven” do início ao fim na minha adolescência, ao ponto de recitá-la e transcrevê-la a todo instante. 

Mas o momento em que o Led Zeppelin bateu forte e alterou a minha vida completamente aconteceu em uma noite fria de inverno. Estava reunido com uma turma de amigos na casa de um deles, um bando de adolescentes sozinhos bebendo e discutindo assuntos improváveis quando o nome do grupo surgiu. E um desses brothers, como que revelando um segredo e dando a chave das portas da percepção, sussurrou no meio da sala: vocês precisam ouvir é o disco das janelinhas.

O disco das janelinhas. Também conhecido como o mais completo álbum de rock já gravado. O melhor disco do mundo. Mas, se você preferir, pode chamar apenas de Physical Graffiti, não tem problema. De “Custard Pie” a “Sick Again”, quinze faixas que desafiam rótulos e definições. E, lá no meio, as jóias da coroa: “The Rover”, “In My Time of Dying”, “Kashmir”, “In the Light” e “Ten Years Gone”. A primeira é um desfile de riffs, uma construção evolutiva repleta de peso e que pode ser classificada como uma das mais perfeitas definições do que é o hard rock e o heavy metal. A segunda é um estrondo emotivo, uma explosão sonora, um chute no peito. As guitarras em camadas no solo, o pontapé proporcionado pela bateria de Bonzo. “In My Time of Dying” é até hoje uma das canções mais impressionantes que os meus ouvidos já tiveram contato - e olha que eles passaram por muitos caminhos. “Kashmir" é o encontro do oriente com o ocidente, com um arranjo simplesmente genial. “In the Light” é espiritual, transcedental, linda e arrepiante. E “Ten Years Gone” traz Jimmy Page em uma sinfonia de guitarras, como uma compositor do século XVIII reencarnado na Londres setentista. Um Mozart chapado, e sempre genial.

E o Led Zeppelin seguiu, ano após ano, sempre ao meu lado. E a cada novo ano, soando diferente. A maturidade, o crescimento e as novas experiências me fizeram ouvir suas músicas sempre com uma percepção diferente. A cada época, a mesma canção soava distinta, revelando detalhes e significados que antes haviam passado despercebidos. 

A banda cresceu e tomou contato do meu DNA. Até o ponto de afirmar, sem medo e exagero, que trata-se do grupo de rock mais importante da minha vida, responsável não apenas por me definir como ouvinte, mas pelo desenvolvimento e curiosidade constantes que mantenho sobre o gênero e sobre a música como um todo.

Com o Matias, o Led Zeppelin também já tem uma história. Meu filho já conhece a banda, já assistiu aos vídeos, já ouviu os discos. Já elaborou, inclusive, raciocínios sobre o quarteto, como certa vez quando, ao escutar uma versão ao vivo de “Stairway to Heaven”, soltou o comentário: “esse guitarrista é bom hein, papai, a música dele evolui”.

Não sei se o Led Zeppelin terá sobre o Matias a mesma influência que teve sobre a mim. Música é uma experiência pessoal que envolve não apenas os sons, mas lembranças, sentimentos, significados. Mas o que eu sei é que, se continuar com o ouvido apurado que vem demonstrando, não precisarei explicar para o meu filho a importância do trabalho de Page, Plant, Jones e Bonham. Ele descubrirá sozinho.


Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. O Melhor album de todos os tempos para mim. Entre as jóias da coroa faltou o funk de Trampled Under Foot. Abs.

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  2. Sempre adorei este disco e me impressionei muito mais quando comprei o vinil. As quebras são perfeitas, parece que depois daquela transcendência da Kashmir, deve haver o silêncio do tempo de se levantar, mudar o lado e continuar com In the Light. Detalhes maravilhosos.

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  3. Parece coisa de fã...mas o Led Zeppelin é superior mesmo e este disco é o ápice

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  4. O melhor disco da mais importante banda do planeta!

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