Os melhores discos de 2014 na opinião de Igor Miranda

Uma das novas caras do jornalismo musical brasileiro, o Igor começou a sua história na finada Combe do Iommi e foi um dos fundadores da Van do Halen, site que editou em parceria com o João Renato durante vários anos. Após todos essas experiências, criou o seu próprio canal - www.igormiranda.com.br -, onde segue fazendo um trabalho de qualidade e grande valor pra quem gosta de rock, além de trabalhar como redator e colunista na Revista Cifras e também no Correio de Uberlândia. Abaixo, o Igor conta quais foram os seus discos favoritos lançados em 2014, dando boas dicas para os ouvidos - como sempre.


Considerei 2014 como um ano fraco em relação aos lançamentos no rock. Medalhões como Judas Priest e Slash me decepcionaram e discos aguardados, como o do Metallica ainda não chegaram ao público. Mas há muito sangue novo no top 10 abaixo, que reforça: se os dinossauros do rock estão para morrer, há alguns nomes fortes para substitui-los no futuro.

Royal Blood – Royal Blood

Faltou originalidade aos lançamentos de 2014. Nesse aspecto, o Royal Blood deu de lavada nos concorrentes. O duo britânico que só conta com voz, baixo e bateria se elevou ao patamar de revelações do rock logo em seu disco de estreia. As claras influências de Led Zeppelin, Cream e Black Sabbath se unem ao frescor de Jack White e Queens of the Stone Age. Mas não é só isso. Não é só deixar a afinação mais grave, acelerar em excesso, arrastar demais ou repetir clichês. O debut do Royal Blood tem som pesado de verdade, com criatividade.

AC/DC –  Rock or Bust

Relutei para não colocar o AC/DC no pódio. Mas Rock or Bust já é um dos discos que mais ouvi em 2014, mesmo chegando ao público em novembro. O novo álbum apresenta um som oxigenado pela mudança de afinação dos instrumentos de cordas (meio tom mais grave) e uma mistura de fases: há uma aposta em estilos de riffs, bases e cozinhas presentes nos primeiros trabalhos da banda, aliados a uma produção e ao estilo de cantar por parte de Brian Johnson, que remete aos álbuns lançados na segunda década de 1980. Grande trabalho.

Rival Sons – Great Western Valkyrie


O Rival Sons cresce e promete penetrar no mainstream a cada álbum - especialmente porque eles investem em lançamentos de novas músicas e isso, sob meu ponto de vista, é o que consolida um grande grupo. Great Western Valkyrie bebe no blues hard rock disseminado na década de 1970, mas tem um ponto de encontro com os anos 2010: a voz aveludada e comerical de Jay Buchanan.

Foo Fighters – Sonic Highways

Após o maior êxito da carreira em Wasting Light (2011), seria natural que o Foo Fighters desse um passo adiante no lançamento seguinte. E Sonic Highways realmente mostra o momento mais sofisticado do quinteto. Cada melodia parece ter sido trabalhada como se fosse a última. Muitos esperavam um trabalho instintivo, como a maioria dos outros, mas Sonic Highways é diferente. Tem consistência enquanto full-length, canções poderosas, uma história por trás e diálogo com outros estilos, especialmente o rock clássico. Pode não descer de primeira, mas vale a insistência.

Wolfmother – New Crown

New Crown não traz muitas mudanças em comparação aos discos antecessores do Wolfmother. Para mim, um ponto positivo: a fórmula que mistura rock clássico com stoner e alguns momentos de heavy metal ainda tinha o que render. Os riffs poderosos, o formato trio que evidencia a cozinha e os vocais agudíssimos de Andrew Stockdale mostram que, em tempos de lançamentos fracos, o revival da década de 1970 continua firme.



Não parecia planejado, mas o Mr. Big se reuniu às pressas para gravar e lançar ...The Stories We Could Tell antes que a saúde do baterista Pat Torpey, diagnosticado com mal de Parkinson, piorasse. O disco é bem saudosista em relação às influências do grupo: dá para sentir um pouco do hard rock setentista nas canções. As músicas estão menos aceleradas e a virtuose não marca tanta presença. Como conjunto, trata-se de um álbum melhor do que o antecessor, What If... (2011).

Lenny Kravitz – Strut

Lenny Kravitz gravou um dos melhores discos lançados na década de 2010, o excelente Black and White America (2011). É natural que o sucessor não fosse tão bom. Mas ainda assim, Strut é ótimo. Aqui, Kravitz retomou suas influências roqueiras, que nos trabalhos anteriores deram lugar à black music, e desfilou hits ao longo da tracklist. Lenny não é só um bom cantor/guitarrista, mas também – e especialmente – um compositor de mão cheia.

Radio Moscow – Magical Dirt

O Radio Moscow tem mais cheiro de passado do que o próprio AC/DC, lembrado neste top 10. O som do trio liderado pelo grande Parker Griggs consegue apresentar elementos psicodélicos sem perder a concisão, algo que poucos conseguiram até hoje, em meu ver. Sem muitas mudanças em relação aos lançamentos antecessores, Magical Dirt é mais um cartão de visitas do grupo, que traz blues, stoner, garage e hard rock setentista com doses de influência de Jimi Hendrix Experience. Não há nenhuma música ruim nesse trabalho.

Blues Pills – Blues Pills

Fãs mais entusiasmados comparam o Blues Pills ao Led Zeppelin e, de fato, há alguns elementos no disco de estreia dos novatos que remetem a um dos quartetos mais consagrados da música popular. Mas vamos com calma. O primeiro álbum dos suecos não é genial, só é muito divertido e bem tocado. A cantora Elin Larsson tem um timbre de voz bastante peculiar, o que dá o charme no grupo. Ainda sinto que podem evoluir, mas o pontapé inicial já entra no meu top 10 de 2014.

Ace Frehley – Space Invader

Extra! Extra! Ace Frehley deixou de ser preguiçoso pela primeira vez desde o fim da década de 1980!”. Se Space Invader fosse um jornal, poderia ser anunciado dessa forma nas ruas. Mas é um disco – e dos bons. Frehley parece ter ouvido os fãs e proporcionado a eles o que queriam. Por isso, Space Invader é satisfatório: traz hard rock direto, cru, com ênfase nos riffs e solos e a pontinha de genialidade que colaborou na explosão do Kiss há quase quarenta anos.

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