Bandas de um disco só: Gandalf - Gandalf (1969)


O Gandalf tinha tudo para figurar entre os ícones da psicodelia norte-americana, mas uma série de trapalhadas e um fator geográfico determinante impediram tal ascensão, relegando a banda ao subterrâneo da cena lisérgica do final dos anos 60. Nada conseguiu evitar, porém, que o único disco lançado pelo quarteto galgasse degraus importantes ao longo do tempo até atingir o status de clássico. Atualmente, é item cobiçado por colecionadores dos quatro cantos do planeta.

A origem do Gandalf remonta ao início da década de 1960, quando a psicodelia ainda era algo distante, e passa pela infância musical de Peter Sando, fundador, líder e mente maligna por trás da concepção da banda. Sobrinho de Dolly Dawn, uma importante cantora de jazz, desde cedo Sando teve contato com o mundo mágico dos sons. Chuck Berry e Bo Diddley foram as primeiras influências do garoto, que rapidamente se arriscaria em montar o próprio grupo.

A primeira empreitada de Peter Sando foi o Thunderbirds, que ficou na ativa de 1962 a 1964 após ser formado com amigos de escola. Não durou muito, tampouco teve grande impacto em Tenafly, cidade do estado de Nova Jersey, berço do que futuramente viria a ser o Gandalf. No entanto, foi fundamental para o surgimento da parceria com outro jovem da região: Bob Muller.


O próximo passo, a partir de 1965, já foi algo mais maduro e, de fato, pode ser considerado o embrião do Gandalf: The Rahgoos. As influências mais latentes passam a ser de nomes como Beatles, Rolling Stones e Zombies, e o primeiro show ocorre em 1967 no Club Car, em Greenwood Lake, Nova York. Se antes Peter Sando e seus comparsas estavam confinados apenas em sua cidade natal, com a chegada do ano do Verão do Amor a música dos garotos ganha espaço e toma de assalto vários clubes novaiorquinos, dentre eles The Electric Circus, Scott Muni's Rolling Stone, The Phone Booth, Murray the K's World e o aclamado Night Owl Cafe.

Com a entrada de Frank Hubach e Davy Bauer, o Rahgoos estabilizou sua formação clássica e, por meio de uma versão da canção "Golden Earrings", conseguiu chamar a atenção de uma subsidiária da Capitol. Era hora de gravar um disco. Quando da assinatura do contrato, dias antes de entrar em estúdio, vem a exigência da gravadora: a banda teria que mudar de nome. O quarteto reluta, mas cede à imposição. A nova alcunha, Gandalf, é escolhida a partir de um livro que Bauer lia à época: O Hobbit, sendo essa a única conexão entre a música do grupo e a vasta obra de Tolkien.


Sem tantas músicas próprias, o Gandalf decide incluir no álbum canções de outros compositores. Tim Hardin, que pertencia à mesma gravadora, contribui com três: "Hang on to a Dream", "Never Too Far" e "You Upset the Grace of Living", que ganham novos arranjos e figuram entre as melhores. "Can You Travel in the Dark Alone" e "I Watch the Moon", assinadas por Peter Sando, são as únicas de autoria da banda, mas também brilham com louvor. "Me About You" é outro destaque e sintetiza em pouco mais de quatro minutos o pop psicodélico que nomes badalados como Tame Impala e Temples vêm fazendo atualmente. "Scarlet Ribbons" e, sobretudo, "Tiffany Rings" lembram um Beach Boys mais ácido. "Nature Boy", por sua vez, é a menos interessante do disco.

As gravações aconteceram no Century Sound Studio, em 1968, sob a batuta dos produtores Charles Koppelman e Don Rubin. Os integrantes do Gandalf, no entanto, não participaram do trabalho de mixagem, fato que irritou profundamente Peter Sando, que odiou o resultado final. A longa demora na conclusão desse processo também esfriou o ânimo da banda, que ruiu e se separou antes mesmo de ver o disco nas lojas. O lançamento estava previsto para acontecer no fim do ano, mas um fato inusitado atrasou tudo. Após a prensagem, na hora de distribuir a bolacha, descobriu-se que a embalagem estava trocada e continha o disco de outro grupo: Lothar & The Hand People's. Até se corrigir o equívoco, já estava tudo acabado para o quarteto de Nova Jersey.

O álbum, homônimo à banda, saiu apenas no início de 1969. Dissolvido e distante da Costa Oeste, o Gandalf sequer conviveu ou teve maior contato com a efervescente cena da Califórnia, onde as coisas realmente aconteciam. Com pouca promoção por parte da gravadora, o trabalho logo se perdeu e, na época, caiu no ostracismo. Com o passar dos anos, entretanto, foi redescoberto e relançado em 2002 pela Sundazed, que depois também soltaria um Gandalf 2 (2007), desnecessário e apenas com sobras de estúdio. Algo discreto perto da obra original, que há 45 anos se perpetua como um dos melhores discos malditos da psicodelia dos anos 60.


Formação

Peter Sando (guitarra e vocal)
Bob Muller (baixo e vocal)
Frank Hubach (teclado, piano e harpsichord)
Davy Bauer (bateria)


Faixas

1 Golden Earrings - 2:45 - (J. Livingston, V. Young e R. Evans)
2 Hang on to a Dream - 4:12 - (Tim Hardin)
3 Never Too Far - 1:50 - (Tim Hardin)
4 Scarlet Ribbons - 3:02 - (J. Segal e E. Danzig)
5 You Upset the Grace of Living - 2:38 - (Tim Hadin)
6 Can You Travel in the Dark Alone - 3:07 - (Peter Sando)
7 Nature Boy - 3:06 - (Eden Ahbez)
8 Tiffany Rings - 1:48 - (G.Bonner e A. Gordon)
9 Me About You - 4:54 - (G.Bonner e A. Gordon)
10 I Watch the Moon - 3:50 - (Peter Sando)

Por Guilherme Gonçalves

Comentários

  1. Bandas de 1 álbum só são sempre incríveis, a Gandalf é uma delas. Que som! Pensando nessas bandas criei o site https://bandas1album.com.br/ para eternizar essas pérolas.

    Viva o rock!

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