Ame a música, não o formato

O debate que propusemos sobre o valor dos CDs aqui no Brasil levantou vários pontos interessantes, inclusive alguns que se relacionam diretamente com a Collectors Room. Por esse motivo, acho pertinente esclarecer alguns aspectos.

Pra começar, uma breve história. Sou colecionador de discos desde que ouvi rock pela primeira vez, em 1985. Ou seja, lá se vão trinta anos juntando coisas e aprendendo todos os dias. Já tive uma coleção de mais de 2.500 LPs, que me desfiz quando da popularização do CD. Hoje, possuo algo em torno de 1.500 CDs, uns 200 DVDs e uma centena e pouco de livros sobre música. Há uns dois anos atrás recomecei a comprar discos de vinil, o que faz com que hoje aproximadamente uma centena de LPs estejam comigo.

Como sempre gostei de música e sempre fui colecionador, isso acabou me levando a escrever sobre o assunto. Foi assim que criei a Collectors Room lá em 2005, ainda nos tempos em que colaborava com o Whiplash, inspirado na seção Minha Coleção da finada revista Bizz. A coluna cresceu, tornou-se uma das mais lidas do site, e acabou virando um blog em 2008. Entrevistei mais de 100 colecionadores de discos do Brasil e do mundo, e o resto vocês já sabem.

No entanto, com o passar dos anos, a Collectors Room foi mudando um pouco a sua proposta. No início realmente éramos um site feito por e direcionado para colecionadores. Mas logo percebi que era preciso ampliar um pouco esse leque, abrangendo mais assuntos. Assim, a CR acabou se transformando em uma espécie de portal sobre música, focada em grande parte no heavy metal e no rock, trazendo notícias, reviews e opiniões sobre o assunto. Hoje, estamos consolidados com essa proposta, de ser uma espécie de blog, site ou portal (chame como quiser, a escolha é sua) que tem como proposta levar música de qualidade aos leitores, apresentando novos sons e trazendo novamente à tona quem fez história no passado, sempre com pautas além do óbvio.

Ou seja, não somos mais um site focado em coleções de discos e feito para colecionadores de discos, e isso já faz alguns anos. Hoje, podemos dizer que somos um veículo destinado a quem gosta de música, principalmente rock e heavy metal.

Assim como a Collectors Room passou por toda essa transformação, a minha forma de se relacionar com a música também mudou com o passar dos anos. Já fui um cara que ficava louco com LPs, já fui apaixonado por CDs, já fui um pouco de tudo. Já comprei 30 LPs de uma vez só, já mantive uma média de adquirir 20 CDs todos os meses, mas hoje as coisas são diferentes. Não sei se isso se deu pelo fato de já ter passado muitos anos nessa toada, mas atualmente o formato físico já não me atrai tanto, e essa relação com LPs e CDs tem diminuído cada vez mais para mim. Mas, que fique bem claro, essa é a minha relação com a música, e somente ela. Cada um de vocês que está lendo este texto se relaciona de maneira diferente com a música.

E é aí que entra o ponto que quero discutir neste texto. Com o passar dos anos, fui largando de mão o apego com a mídia física, seja ela qual for, e fui focando na minha relação com a música propriamente dita. Gosto de pesquisar novos sons, descobrir novas bandas, ir atrás de inovações que estejam sendo feitas. O meu amor pela música se manifesta desta maneira, através da pesquisa constante em novos sons. É assim que funciona para mim.

A música é uma belíssima forma de arte. E, como tal, bate diferente em cada pessoa. Aquela canção que marcou a sua vida, que faz você lembrar do seu primeiro amor ou de momentos marcantes da sua trajetória, provavelmente não tem o mesmo impacto neste que vos escreve. Como uma forma de arte subjetiva, ela está sujeita às interpretações particulares de cada ouvinte. Neste sentido, o debate que propusemos sobre o preço dos CDs aqui no Brasil acabou se transformando em uma grande troca de ideias sobre formatos, desbancando para uma disputa sem sentido entre qual é melhor e mais "verdadeiro": CD, LP, digital, o escambau. Isso é irrelevante. O que vale é ter a música em sua vida, como parte importante dos seus dias. A forma como ela vem embalada é o de menos.

Se formos radicalizar, a própria transposição dos sons para um formato físico, seja ele qual for, fará com que você perca a magia de assistir ao artista executando a sua obra ao vivo. Era isso que deveria passar pela cabeça dos músicos quando os primeiros LPs começaram a ser prensados. E depois as fitas-cassete, os CDs e os tão falados formatos digitais. A questão é que toda pessoa terá uma relação particular com a música. O que funciona para mim, o que é mais conveniente para mim, diz respeito somente à minha relação com a música. Você irá se relacionar de forma diferente com os sons, preferindo os LPs, ou os CDs, ou qualquer outra plataforma que soe mais adequada para a sua realidade.

Acima disso tudo está algo muito mais importante: o amor puro e duradouro pela música. A curiosidade em procurar saber não apenas sobre o gênero que você gosta, mas pela própria história da música de uma maneira mais ampla. A atitude de manter o ouvido sempre curioso para novos sons, sejam eles atuais ou do passado. A certeza de que, por mais canções que você conheça ou por maior que seja a sua coleção - e o formato dela -, você ainda tem muito o que aprender sobre este universo maravilhoso e mágico que é a música.

Ninguém sabe tudo. Ninguém é melhor que ninguém. Nenhum formato é melhor que o outro.

É a música, acima de tudo isso, que realmente importa. Sempre.

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