Narcos - Primeira Temporada (Netflix, 2015)


A vida de Pablo Escobar possui uma infinidade de elementos que transformam a trajetória do maior traficante de drogas do século XX - e um dos maiores criminosos dos tempos modernos - em algo que beira a ficção. Não por acaso, diversos filmes e séries tem Escobar como personagem principal. Narcos, produção original da Netflix lançada no final de agosto, é o mais recente destes projetos.

Com produção de José Padilha (o diretor de Tropa de Elite e da nova versão de Robocop, e que também assina a direção dos dois primeiros episódios), Narcos traz Wagner Moura na pele de Pablo Escobar e conta com um elenco multinacional - Pedro Pascal, o Oberyn Martell de Game of Thrones, entre eles. A trama conta a formatação e ascensão da indústria da cocaína, e utiliza como fio condutor a trajetória de Escobar. Lançando mão de um artifício presente em Tropa de Elite - a locução em off -, a série ganha um clima documental através do relato do agente norte-americano Steve Murphy, integrante do DEA e parceiro do personagem vivido por Pascal na busca incessante por Escobar.

Tecnicamente, Narcos beira a perfeição. Com excelente fotografia - a cargo de Lula Carvalho - e rigorosa reconstituição de época, os dez episódio prendem o espectador de maneira precisa. Com diálogos bem escritos, a série revela, um a um, os inúmeros integrantes da teia de Escobar, personagens que apresentam uma dicotomia onipresente, colocando sempre seus interesses pessoais em primeiro plano. Falada em inglês e espanhol, Narcos mantém os idiomas de origem dos personagens, e esse é um dos seus maiores acertos.

A analogia feita ao realismo fantástico logo no primeiro capítulo revela-se como uma espécie de introdução para tudo que virá a seguir, com Pablo Escobar assumindo o protagonismo de uma trama que não fica devendo nada, em reviravoltas e fatos insólitos, à história da família Buendía contata por Gabriel García Marquez no clássico Cem Anos de Solidão. Porém, como uma diferença fundamental: a história de Pablo realmente aconteceu.

Sem tomar partido de nenhum dos lados, os episódio mostram o assombroso poderia econômico e social conquistado por Escobar, com extensão para todos os braços da sociedade colombiana. A interpretação de Wagner Moura, que entrega um Pablo sereno e calmo na grande maioria das cenas, deixa ainda mais perturbadora a imagem do patrão da cocaína.

Com personagens ricos e interpretações de alto nível da maioria do casting, Narcos alcança um resultado final muito bom, atestando a alta e já conhecida qualidade das produções da Netflix. Só fica uma dúvida: com a história chegando praticamente ao fim na primeira temporada, a já anunciada segunda temporada dá todas as dicas de que irá muito além de Pablo Escobar, englobando também outros criminosos, principalmente os integrantes do Cartel de Cali. Se isso realmente acontecer, será mais um acerto.

Assista, vale muito a pena - ah, e a trilha sonora é demais!

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