As aventuras de um DJ amador nas décadas de 1980 e 1990



Você pegava todas as suas caixas de discos, colocava no carro e levava para o local da festa. E lá, sentado atrás de todos aqueles mixers, amplificadores e vitrolas, usava a imaginação para combinar uma música com a outra, mantendo a atenção do público sempre constante. Quando acabava, carregava tudo de novo de volta pra casa, com direito a algumas manchas de bebidas e marcas nas capas - afinal, discos são feitos pra ouvir e curtir e não pra serem expostos na prateleira, certo?

Como todo colecionador de discos, sempre gostei de ouvir música. Isso é óbvio. Mas eu gostava, e ainda gosto, de ouvir música de um jeito diferente: uma canção de cada artista, na construção de uma playlist infinita. Fazia isso com os meus LPs, depois fiz com os CDs, e agora faço com as playlists que crio no Spotify. Mas, é claro, com os discos de vinil a coisa era bem mais complexa.

Pra começo de conversa, uma caixa cheia de LPs pesa pra caramba. Sempre tive muitos discos, e a minha coleção de vinis tinha por volta de 2 mil títulos, guardados naquelas caixas plásticas em que se carregavam frutas, verduras e legumes. Não lembro direito, mas acho que cada uma dessas caixas tinha capacidade para uns 300 ou 400 itens. Pra fazer uma festa, fazia uma pré-seleção e ia com mais ou menos uns 1.000 LPs para o local do evento - sim, sempre fui exagerado e gostava de ter cartas na manga (outro ponto importante: tudo era feito na espontaneidade, sem seleções pré-definidas. Gosto mais assim, acho que tudo fica mais verdadeiro. Enfim …)

Eu e minha turma éramos de uma cidade bem pequena - Espumoso, lá no interior do Rio Grande do Sul, com os seus 15 mil habitantes. Quando não havia nenhum evento pra gente, nós mesmos organizávamos uma festa em algum local - a garagem da casa de um amigo, o Clube Aquático, a boate do clube da cidade, qualquer lugar. E, quase todas as vezes, eu estava lá brincando de ser DJ.

Você ficava atrás de um amplificador, um mixer e dois pratos de vinis. Ao seu lado, umas três caixas cheias de discos. E, bem próximos às vitrolas, uma luz pra iluminar. Então, um fone de ouvido que você usava pra colocar a agulha no lugar exato do LP, segurando a rotação e largando suavemente, pra que a próxima canção encaixasse exatamente no final da anterior. E ai de quem chegasse perto de toda essa parafernália: era enxotado dali, afinal, poderia bater acidentalmente no local e fazer a agulha deslizar loucamente pela superfície do vinil, estragando tudo.

O que a gente tocava era rock. Mas não apenas rock “pra dançar”: rock de modo geral. E a gente então dançava o rock, mesmo o que não era primordialmente feito pra dançar. Lembro perfeitamente: “School”, clássico do Supertramp, tocando a pleno volume. E então chega a parte central da música, com aquele solo de piano do Rick Davies e um amigo, alto como o som, sai girando de braços abertos pelo salão, em um transe musical intenso. Ou então quando “The End”, dos Doors, sai dos alto-falantes lá pelas 3 da manhã e outro chapa faz o seu próprio swing, enquanto equilibra o copo de cerveja que teima em escapar de sua mão.

Na trilha destas festas inesquecíveis estavam canções que marcaram minha adolescência - e espero que também a dos amigos que nelas estavam -, e volta e meia retornam aos meus ouvidos. Faixas como “Crushing Day” de Joe Satriani, “Don't Wanna Let You Go” do Quiet Riot, “I Was Made For Lovin’ You” do Kiss, “Princess of the Dawn” do Accept, “Alexander the Great” do Iron Maiden, “Lady in Black” do Uriah Heep, “I Can Feel Him in the Morning” do Grand Funk, “Down Down” do BTO, “Breaking All the Rules” do Peter Frampton, e muitas outras.

Todo esse povo que estava presente nessas festas hoje está espalhado pelo Brasil. Um é promotor no RS, outro é médico em SP, outro é um pai de família lá no interior. Mas, quando nos reunimos, voltamos a ser o que nunca deixamos de ser: amigos eternamente adolescentes e apaixonados por música e uma boa conversa regada a cerveja gelada. Tenho vontade de reunir todo esse povo novamente e reviver os tempos do passado, ouvindo canções que todos nós conhecemos, relembrando histórias, escutar novamente aquelas risadas saudosas.

Enquanto isso não acontece, as velhas canções fazem o atalho para a parede da memória, fazendo das lembranças um quadro que não se apaga jamais.

Pra curtir e dançar todos os rocks, uma playlist com sons que rolavam nestas festas de anos e anos atrás.


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