Review: Anciients – Voice of the Void (2016)


A primeira sensação ao ouvir os acordes de "Following the Voice" é a de que uma intensa energia emana dos alto-falantes, num transbordamento musical que inunda todo o ambiente com suas ondas maciças de riffs. E isso é apenas o começo. 

Voice of the Void é o segundo registro do Anciients, e mostra uma banda ainda mais afiada do que no álbum de estreia, o ótimo Heart of Oak (2013). Os canadenses continuam a transitar com segurança entre o prog, o stoner e o sludge, apresentando marcantes influências de grupos como Baroness e Mastodon. Entretanto, em relação a tais nomes, as músicas presentes neste novo trabalho trazem uma dose extra de agressividade, em passagens que flertam abertamente com o black e o death metal. É o que se vê, por exemplo, no riff inicial e nos blast beats de “My Home, My Gallows”, em uma performance fenomenal do excelente baterista Mike Hannay. Já “Ibex Eye” lembra bastante o que o Intronaut anda fazendo em seus discos mais recentes.

Mas não fica por aí: os inspirados riffs criados pela dupla Chris Dyck e Kenneth Paul Cook  passeiam inclusive pela New Wave of British Heavy Metal nos mais de dez minutos da épica “Buried in Sand”. Aliás, essa música pode ser considerada uma das melhores amostras do som do Anciients, por explorar todas as facetas que suas composições costumam assumir: o início é um ataque brutal e inesperado, seguido dos já mencionados riffs de metal tradicional, de um trecho atmosférico e das inteligentes variações e quebras de andamento tão características do sludge. Em todas as faixas, a alternância dos vocais limpos e guturais do também baixista Aaron Gustafson contribui decisivamente para a efetividade desse amálgama de estilos, o qual confere à banda uma forte identidade. 

Além disso, é notável a capacidade do Anciients de construir canções cujas estruturas são bastante diferentes do que estamos acostumados a ouvir, recombinando elementos já conhecidos de uma forma única – as composições fogem dos arranjos mais usuais, desconstruindo fórmulas prontas. Assim, passagens brutais que remetem ao metal extremo produzido na Noruega durante a década de 1990 são sucedidas por trechos progressivos, viajantes, de uma beleza hipnótica capaz de transportar o ouvinte para outras dimensões. Introduções cheias de clima que poderiam figurar em qualquer álbum do Pink Floyd dão lugar a momentos de pura quebradeira, como em “Serpents” e “Incantations”. E essa imprevisibilidade torna a audição do disco extremamente recompensadora e viciante.

Outro fator importante para a obtenção desse resultado são as camadas sobrepostas de peso e melodias elaboradas que permeiam o álbum, executadas com maestria pelos integrantes, todos exímios músicos. E, dentro da miríade de possibilidades criada por tais fatores – a técnica apurada, a ousadia criativa, as excelentes referências – existe espaço até para uma balada instrumental encharcada de melancolia, a sublime “Descending”.

A produção, mais uma vez a cargo de Jesse Gander, torna bastante claro o som de cada instrumento, sem prejudicar o peso onipresente e os timbres encorpados. 

Por todos esses motivos, Voice of the Void é um dos melhores discos de 2016 e representa um passo adiante na carreira do Anciients, uma das mais originais e fascinantes bandas de metal da atualidade. Trata-se de um trabalho que irá satisfazer os apreciadores da reinvenção do metal levada a cabo por uma nova geração de músicos, os quais sabem que as regras existem para serem quebradas.

Corra atrás e ouça. Garanto que valerá muito a pena!

Por Pedro Teixeira

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