Minha Coleção: conheça os discos de Rodrigo Nogueira, da cidade paulista de Tatuí


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Meu nome é Rodrigo Nogueira, tenho 40 anos. Sou casado há 21 anos com a dona Flávia e temos dois filhos: Ravena, de 19 anos e Pedrinho, de 4 anos de idade. Sou formado em Filosofia e leciono essa disciplina, além de Sociologia, para o Ensino Médio. Nasci em São Paulo capital e já morei em várias cidades. Novo Hamburgo, no RS e Itanhaém (uma bela cidade de praia) foram algumas. Atualmente resido em Tatuí, no interior do estado de SP - também conhecida como a "capital da música" por conta do conceituado conservatório público Dr. Carlos de Campos localizado nela.

Quantos discos você tem em sua coleção?

A última contagem totalizou 1.948 itens, entre CDs e LPs. A coleção de LPs é ligeiramente maior que a de CDs, quase um empate técnico.

Quando você começou a colecionar discos?

Acredito que o início da coleção à sério foi por volta de 1995. Eu mantive alguns LPs que tinha, mas comecei a colecionar mesmo os CDs. A coleção de LPs iniciou pra valer por volta do ano de 2002.


Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Meu primeiro LP foi provavelmente a trilha do programa de TV Pirlimpimpim, que não possuo mais. Já o primeiro CD eu tenho certeza que foi o X-Factor do Iron Maiden, que comprei junto com o meu primeiro aparelho de CD. Lembro-me que no mesmo dia também comprei o Boy do U2, mas como a intenção de compra era mesmo o X-Factor, considero então esse o primeirão. Tenho ambos até hoje na coleção.

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Ah, desde o primeiro CD comprado eu já adquiri com a intenção de iniciar a coleção.

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Os LPs eu organizo por ordem alfabética, basicamente. Entretanto, achei melhor criar algumas sessões para música erudita, trilhas de filmes, trilhas de novelas e miscelâneas. Já os CDs eu separo os artistas nacionais dos internacionais e os organizo em ordem alfabética. Miscelâneas e músicas eruditas também têm suas próprias sessões.



Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Embora eu considere isso uma necessidade no atual estágio da coleção, ainda não consegui comprar um móvel adequado para guardá-la. Uso estantes e racks genéricos por enquanto.

Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

Cuidados com a armazenagem é essencial, claro, mas os cuidados com o manuseio dos itens também é muito importante. Sempre antes de ouvir um CD ou LP, passo um pincel macio e depois um pano de microfibra (que é macio e não solta fios). Passar o pano sem pincelar antes é um perigo, pois os grãos de poeira precisam ser retirados antes, senão lixarão a mídia, literalmente!

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

Confesso que há um ou outro disco da coleção que nunca ouvi. Eu ouço meus discos diariamente. Não tenho mais o hábito de escutar estações de rádio, YouTube ou streaming, principalmente quando se trata da primeira audição que faço de um artista ou banda, pois acho que podem dar uma impressão errada ou limitada do trabalho, e assim prejudicar a formação da minha opinião sobre ele.




Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Me considero bastante eclético com estilos musicais. Trafego bem por coisas que vão da música folclórica dos cantos mais distantes do mundo, até a música erudita. Porém, meu estilo favorito é o jazz. Sobre a banda favorita, bem, fiquei surpreso comigo mesmo ao tentar responder essa pergunta, pois me dei conta de que minhas preferências estão mais relacionadas a artistas do que a bandas. Atualmente acredito ser correto dizer que a banda que mais gosto é o Steely Dan. O curioso é que, apesar de conhecer toda a discografia deles, não tenho ainda nenhuma mídia física na coleção! Atribuo a isso dois fatores primordiais: o alto valor cobrado pelos discos deles e a dificuldade de achar nos garimpos, apesar disso, pretendo ter tudo dessa banda algum dia. Outra banda que posso citar como favorita é o Yes. Atualmente tenho gostado de garimpar e estudar bastante o seu repertório.

De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

U2, pois por muito tempo essa foi a minha banda favorita.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Não tenho muita noção do que é raro ou não, pois isso nunca é critério quando adquiro itens para a coleção. Acredito que é bem provável que eu tenha algumas coisas raras, mas eu não sei dizer. Outro dia mencionaram que o LP do Moto Perpétuo de 1974 que tenho é raro, então cito esse. Os meus favoritos são a edição estadunidense de 1959 do Kind of Blue, do Miles Davis, que ganhei de um grande amigo também colecionador, e o Winelight do saxofonista Grover Washington Jr., que meu pai me deu há muitos anos e que me serviu de porta de entrada para o universo maravilhoso do jazz.


Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

Apesar de também colecionar CDs, a minha preferência é o LP. Sendo assim, se tenho algum álbum em CD, procuro também tê-lo em LP. O contrário raramente ocorre. Resumindo: não me importo em ter vários itens diferentes do mesmo disco, mas eventualmente me interessa tê-lo nas versões CD e LP. Acho lindas aquelas chamadas "edições de colecionador", mas como estão fora da minha realidade financeira no momento, então nem as considero, salvo alguma promoção do tipo 80% de desconto.

Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?

Embora eu tenha dado uma abandonada, coleciono também filmes e séries de TV. Tenho um bom número de livros de Filosofia, mas não diria que os coleciono, funciona mais como material de trabalho. Eu colecionava também histórias em quadrinhos do Tex. Dei uma parada com essa coleção, mas pretendo retomá-la algum dia.

Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

As compras de CDs geralmente são feitas pela internet. Uma coisa que gosto de fazer é explorar as promoções das grandes redes online. Eu percebi que há muita coisa desconhecida por mim nesses setores das lojas e gosto de investigar. Já descobri artistas ótimos desse modo, como o guitarrista André Martins, o virtuoso do violão Marcelo Lavrador, a flautista Marta Ozzetti e muitos outros. Já os LPs eu faço questão de "bater perna" para comprá-los, nunca adquiri pela rede.



Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Para CDs eu costumo explorar bastante a Saraiva e as Americanas. Sei que há ótimas lojas online com um incrível catálogo diferenciado, mas eu acho os preços proibitivos. Para LPs não recomendo loja nenhuma, pois é um absurdo o que andam pedindo e tratam qualquer disco comum como se fossem raridades. Imagino que existam lojas que sejam excessões, mas não as conheço.

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

Eu praticamente só vou em lugares estranhos. Meus garimpos costumam ser em brechós, ferros-velhos, antiquários, feiras beneficentes e converso muito com as pessoas para receber indicações de particulares que querem se livrar de suas antigas e desprezadas coleções - é a isso que me referi quando disse que meu negócio é bater perna.

O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Ninguém jamais me criticou ou ridicularizou abertamente por isso. Geralmente elogiam ou são indiferentes. Pensando bem, recebi uma crítica sim, teve um amigo que me perguntou se eu não me importava de reter um acervo de modo a privar a comunidade do valor cultural que possuo em casa. Em outras palavras, ele me chamou de egoísta, elitista e capitalista sujo (risos).


Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Fico maravilhado com as belas coleções de alguns amigos, mas eu trato o meu colecionismo de modo extremamente pessoal: gosto de fazer a minha coleção tendo como base só as minhas investigações e descobertas. Isso não significa que não ouço ninguém ou não aceito indicações (sou muito grato quando acontecem), mas geralmente evito influências externas, quero que a minha coleção expresse de certa forma a minha identidade, o que faz com que, no final das contas, o meu colecionismo seja não apenas a expressão do meu gosto ou interesses musicais, mas que seja, acima de tudo, uma investigação que faço sobre o meu próprio ser.

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

Dou extremo valor à minha coleção, conforme expliquei na resposta anterior. Afora isso, há a importância cultural que meu amigo crítico citou. O valor financeiro é relativo à moda social do momento, esse lado nunca me interessou muito, embora seja bacana descobrir que um disco ou outro que possuo, de repente vale uma boa grana.

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Duvido que chegue a hora em que a satisfação seja plena e eu pare de colecionar. O universo musical é muito amplo para que em apenas uma vida eu dê conta de explorá-lo.


O que significa ser um colecionador de discos?

Como eu disse anteriormente, o meu colecionismo, além de expressar o meu amor pela música, representa uma busca pelo autoconhecimento. Entretanto, ele também me possibilitou o convívio com outros colecionadores e isso me deu uma boa base para refletir sobre o que é ser um colecionador. Baseado nos amigos e colegas que fiz nesse mundo, posso dizer que ser um colecionador é ser uma pessoa de grande generosidade. É aquele que se prontifica a ajudar o outro com troca de informações. É celebrar junto as alegrias e se solidarizar com as tristezas. É contribuir para a ampliação do mundo musical do outro, seja por meio de indicações, seja pelo envio de presentes, ou outros modos de compartilhamento, e tudo isso de modo genuinamente altruísta, ou pela satisfação de ter proporcionado alegria a outro amante da música. Muitos dos colecionadores que conheço, apesar de nunca tê-los encontrado pessoalmente, considero-os verdadeiros amigos que tenho.

Qual o papel da música na sua vida?

Ela exerce um papel fundamental! Ela serve para embalar as alegrias e confortar nas tristezas, mas vai muito além disso. Comecei desde cedo como ávido gravador de fitas K7. Na adolescência fui cantor de banda e isso serviu até para direcionar a minha vida amorosa, pois ao tentar aprender a cantar, conheci a pessoa que passou a ser a minha companheira de vida - minha professora de canto tornou-se a minha esposa. Com ela estudei também a teoria musical e com o tempo tornei-me professor de música. Eu e ela tocamos em casamentos, festas de debutante, formaturas. Hoje a música não faz mais parte da minha vida profissional, mas minha esposa segue no ramo de forma cada vez mais brilhante. Atualmente ela é regente do coro municipal da cidade de Boituva, segue lecionando e ajuda muita gente por meio da musicoterapia. No tempo livre rodamos juntos vários discos.

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?


No momento tenho dado maior atenção às discografias do Milton Nascimento e do Yes. Recomendo humildemente que os colegas amantes da música procurem não ficar em apenas um estilo musical, se privando assim das maravilhas que podem ser encontradas e fruídas nos outros tipos de música. Agradeço a oportunidade, um abraço a todos!

Comentários

  1. EssaS entrevistas sempre são um incentivo para continuar a minha coleção. Gosto de ver que há muitos iguais a mim que valorizam as obras,artistas e a música.

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  5. Parabenizo o meu amigo Rodrigo, colecionador dos melhores, por sua bela coleção de LPs e CDs, e pela ótima entrevista. É sempre bom ler opiniões e sugestões de quem tem conhecimento sobre o assunto. Rodrigo discorre com categoria, e mostra que a música, além de ser um entretenimento prazeroso, é parte fundamental para o seu autoconhecimento, sendo assim presença constante e essencial à sua vida.
    Viva a música!
    Ela saúda feliz seu guardião e pede passagem!
    Grande abraço,
    Felício Torres.

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