Review: Arcade Fire - Everything Now (2017)


É fácil criar uma antipatia com o Arcade Fire, principalmente se você for um cara “do rock”. Motivos para isso não faltam: os canadenses são idolatrados como uma das bandas mais criativas do chamado indie rock, qualquer nota tocada pelo grupo soa sempre genial para parte da crítica e do público e o sexteto transmite uma prepotência e arrogância constantes.

No entanto, ao ouvir a música do Arcade Fire, também é bastante fácil identificar e perceber as qualidades do grupo. E mesmo com uma trajetória relativamente curta - o primeiro disco saiu em 2004 -, os caras já produziram uma discografia de respeito. 

Everything Now, quinto álbum da banda, foi lançado no final de julho e segue a cartilha do grupo: reinvenção. Mais uma vez, o Arcade Fire muda o que tinha feito antes e aposta em novos caminhos sonoros. E isso, por si só, sempre será motivo de elogios. Em Everything Now, temos uma sonoridade muito mais dançante que nos trabalhos anteriores, ainda que este aspecto já tivesse sido apontado em Reflektor (2013). Há menos guitarras e mais groove. Há menos energia e mais refinamento. Há menos juventude e mais vida adulta. E isso, como bem sabemos nós que já passamos dos 30 ou 40 anos, não é algo necessariamente ruim.

Tendo entre seus produtores o Daft Punk Thomas Bangalter, Everything Now traz treze faixas (que na prática são onze se descontarmos os interlúdios que abrem e fecham o disco) dançantes e que apresentam um pop de muito bom gosto e bastante acessível. É música não apenas para sacudir o corpo, mas sobretudo para encarar o ritmo cada vez mais frenético dos nossos tempos, que aliás é a principal inspiração lírica do álbum, ainda que o discurso das letras explore o tema de uma maneira bastante rasa, de modo geral.

A mixagem é algo digno de elogios, com timbres que, ainda que coloquem teclados e outros gadgets eletrônicos como protagonistas, jamais soam amorfos e sem vida. O baixo é o principal instrumento do disco, pulsando e conduzindo todas as canções em uma performance digna de elogios. 

De modo geral, temos em Everything Now um álbum redondo e na medida. Ainda que uma ou outra música pudesse ser cortada para que o resultado final ficasse mais enxuto e eficiente, isso não compromete o resultado final. A banda entrega doses generosas de melodia, com arranjos que bebem direto de inspirações como David Bowie e ABBA. 

Com Everything Now, o Arcade Fire conseguiu colocar mais um ponto alto em sua discografia. Sem se repetir ou apelar para soluções fáceis como emular fórmulas que já funcionaram no passado, os canadenses mostram que são dignos de todos os elogios, por mais exagerados que alguns possam ser.

Discão, mais uma vez.

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