Review: Therion - Beloved Antichrist (2018)


Após passar três semanas ouvindo o novo lançamento da banda sueca Therion, a ópera Beloved Antichrist, que chegou no dia nove de fevereiro último, aquilo que inicialmente para mim soou como um longo e dificílimo quebra-cabeça musical a ser explorado agora soa como uma obra deveras e prazerosamente familiar.

Primeiramente devo dizer que se você leitor não tem afeição alguma por música clássica, fuja. Porém, se aprecia uma obra contendo peças musicais imersas em vozes e orquestrações magistrais aptas a levá-lo ao mais alto grau de contemplação, então aqui você encontrará seu paraíso.

Possuindo pouco mais de três horas de duração em quarenta e seis canções entoadas por trinta vocalistas entre tenores, barítonos, baixos e sopranos que se revezam entre as faixas que discorrem sobre a história baseada no livro A Story of Antichrist, de Vladimir Solovyov. O livro conta com vinte e sete personagens onde o protagonista é o médico greco-russo Seth Thanos, que de tão aprofundado em seus estudos científicos e teológicos começou a crer que ele sim seria também um filho encarnado de Deus, o segundo, com a missão de conduzir a humanidade à redenção. O trabalho foi instrumentalmente composto pelo guitarrista e líder do Therion, o esplêndido Christopher Johnsson, e todas as letras baseadas na temática acima descrita ficaram a cargo de Per Albinsson.

Resolvi não destacar quaisquer canções aqui, embora confesse que algumas tenham sobressaltado aos meus ouvidos e infestado minha mente, felizmente. Com algum tempo de seguidas audições, todas as partes começam a parecer somente um lindo todo. Outra coisa a que me propus foi abandonar aqui os usos de termos como ópera-rock ou ópera metal, pois Beloved Antichrist é, por excelência, uma ópera lírica feita com esse fim, tudo sendo conduzido dentro de um esqueleto rítmico de metal, com bateria, teclado, guitarra e baixo, tendo este último o maior destaque dentre os instrumentos convencionais. Digo isso porque em praticamente todo o trabalho não se percebe floreios de virtuosismo de guitarras com riffs ou "soleiras", tampouco grandes variações de bateria. A banda literalmente aqui serve ao papel de entregar a base e andamento para que os cantores e orquestra brilhem erudita e eruptivamente. E nessa solene cozinha as linhas de contrabaixo são notoriamente elegantes, inclusive abrindo a ópera.

Alguém pode surgir e dizer: “Ah, mais isso já foi feito antes em álbuns do Ayreon ou do Avantasia”. E a resposta é "não", pois diferentemente dos supracitados, que fizeram trabalhos enfocados no metal progressivo com partes de sonoridades e temáticas clássicas, aqui o objetivo foi realmente criar uma ópera, com cem por cento de preocupação com o eruditismo, com toques sutis de heavy metal. É como pingar gotas de leite num café preto.

Concluindo, o Therion esbanjou categoria ao mostrar que acima de qualquer peso ou celeridade está a música em sua mais linda e lírica essência, não importando mais se ela é leve ou pesada, contando que seja feita com esmero e encante os bons ouvidos.

Quer um conselho? Ouça Beloved Antichrist com tempo e tranquilidade. Quer outro? Repita isso inúmeras vezes e verá como ela começará a integrar a sua vida.



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