Rock Forever: esperanças, revoluções e rock and roll


Muitos amaram e amam o rock! Gerações desde a década de 1950 ilustram suas vidas com regras pré-estabelecidas por músicos que elegeram o rock como modo de vida ou como apenas um pensamento ideológico. Nos últimos anos o rock vive de histórias e atitudes. Talvez mais de história do que de atitudes. Festivais como Lollapalooza, Coachella, Wacken e Glastonbury são grandes oportunidades de se presenciar pessoalmente momentos atuais do estilo. Mas só festivais datam ou simbolizam o rock? Não, é claro.

E os lançamentos de álbuns? Será que há, realmente, uma ação rocker funcionando como propulsora de um sentimento musical e ideológico atualmente com os discos? Recentemente o Judas Priest lançou Firepower (2018) e este álbum diz muito sobre o rock atual. O Judas Priest é um dinossauro do rock e do heavy metal. Iniciou suas atividades no ano de 1969 e lançou seu primeiro disco ainda na primeira metade da década de 1970: Rocka Rolla (1974). Passou pelo movimento punk imune, ajudou a desenvolver uma nova geração de metal na Inglaterra (a chamada New Wave Of British Heavy Metal), durante a década de 1980 (principalmente a primeira parte) apresentou pelo menos dois álbuns clássicos e essenciais - British Steel (1980) e Screaming For Vengeance (1982), e fez da década de 1990 seu caminho para ser seguido por várias bandas com o disco Painkiller (1990), fazendo história com um heavy metal ainda mais agressivo e ultrajante. Depois da saída o vocalista Rob Halford a banda se perdeu - ou melhor, se descaracterizou.


Agora em 2018, Firepower é praticamente uma volta aos melhores tempos, e com Rob Halford de volta. Correto! Mas por mais que se renda às novas canções como “Lightning Strike” e “Evil Never Dies”, há uma falta de novas ideias e novas ações estéticas dentro do rock e, claro, dentro de suas ramificações como o heavy metal.

No livro Minha Vida Como Um Ramone (2015), Marky Ramone diz o seguinte sobre Jimi Hendrix: “O The Jimi Hendrix Experience com Jimi Hendrix na guitarra era diferente de tudo o que qualquer pessoa já tivesse ouvido. Jimi empolgava as pessoas com seu visual selvagem e tocando guitarra nas costas e com os dentes. No Monterey Pop Festival, na Califórnia, ele ateou fogo à guitarra como se estivesse fazendo um sacrifício. Mas se você fechasse os olhos e apenas ouvisse, a força real da música surgia. Era blues, rock e soul reinventados, levados aos limites absolutos e além até serem transformados quase em um novo tipo de música. A guitarra era uma arma ou uma varinha mágica tanto quanto um instrumento. Esse sujeito era tão bom que os Beatles e os Rolling Stones eram seus maiores fãs”. É claro que esperar por um Jimi Hendrix novamente é uma ignorância anacrônica, mas uma novidade estética e ideológica sempre se deve esperar e com muita ansiedade. As palavras de Marky são simples, mas refletem uma revolução.

E o ótimo novo álbum do Judas Priest é uma preciosidade por um lado (uma volta da banda às suas melhores fases) e um lamento por outro (por apenas trazer momentos do passado, mesmo que louváveis). É óbvio que novas bandas trazem algo novo, um suspiro atual para momentos atuais. O indie rock (que para muitos nem se trata de um movimento musical, mas algo mais volátil e aberto) trouxe, por exemplo, bandas como The Strokes, Arctic Monkeys, Kings of Leon e The White Stripes. E até as pesadas (bem longe do que poderia ser classificado como indie, é claro!) Mastodon, Agalloch, Amon Amarth, Ghost, Between the Buried and Me e Meshuggah também trazem um novo fôlego ao rock!


Agora, algo revolucionário, revigorante e extremamente crítico o rock não se permite desde o Nirvana. Muitos headbangers poderão miar enlouquecidos, mas nenhum álbum lançado desde o ano de 1991 foi tão estrondoso na história do rock quanto Nevermind. Será falta de algo para amar e odiar? Será que os gênios da música estão desacreditados? Será que a nossa história tem proporcionado uma vida excessivamente mecanizada e insípida? Uma banda que poderia (e pode!) conceituar arte musical com uma crítica ao atual momento da sociedade seria o Radiohead, mas aí estaremos falando de algo da década de 1990, vide os discos Ok Computer (1997) e Kid A (2000) (e é bom lembrar que o Radiohead tem feito mais experimentações estéticas do que propriamente rock nos últimos anos e nos seus trabalhos recentes).

Alguém sugere alguma revolução ou este senhor aqui está maluco achando que não teremos tão cedo outros abalos sísmicos em formato rock como Elvis Presley (1956), Here’s Little Richard (1957), Chuck Berry is on Top (1959), My Generation (1965), Highway 61 Revisited (1965), Pet Sounds (1966), The Doors (1967), The Velvet Underground & Nico (1967), Sgt. Pepper’s Lonely Hearts  Club Band (1967), Electric Ladyland (1968), Beggars Banquet (1968), Paranoid (1970), Led Zeppelin IV (1971), Machine Head (1972), The Dark Side of the Moon (1973), Born to Run (1975), Ramones (1976), Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols (1977), London Calling (1979), Back in Black (1980), Blizzard of Ozz (1980), Moving Pictures (1981), The Number of the Beast (1982), Brothers in Arms (1985), Reign in Blood (1986), Master of Puppets (1986), Hysteria (1987), Whitesnake (1987), Appetite For Destruction (1987), Nevermind (1991) e OK Computer (1997)?


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The Beatles - Rubber Soul (1965)

Lançamento: novembro de 1965
Produção: George Martin
Gravadora: Parlophone
Formação: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr
Músicas: Drive My Car, Norwegian Wood (This Bird Has Flown), You Won't See Me, Nowhere Man, Think For Yourself, The Word, Michelle, What Goes On, Girl, I'm Looking Through You, In My Life, Wait, If I Needed Someone, Run For Your Life

Rubber Soul é o primeiro álbum dos Beatles. Não se trata do primeiro de sua discografia, mas o primeiro como banda adulta e consciente de si. Os discos Please Please Me (1963), With the Beatles (1963), A Hard Day’s Night (1964), Beatles For Sale (1964) e Help! (1965) são antológicos, porém fazem parte de uma primeira fase mais pop e muito mais ingênua.

Canções como “Drive My Car”, “Norwegian Wood (This Bird Has Flow)”, “Nowhere Man” e “Michelle” demonstram uma banda num processo de elevação “artística” maior. E para resumir Rubber Soul numa canção, ouça “Wait”. Por mais que seja simples e com uma singela letra romântica, a melodia resplandece na precisa bateria de Ringo, na dualidade das vozes de Lennon e McCartney e na força rítmica da guitarra de Harrison refletindo uma banda num estágio sublime. Com Rubber Soul, os Beatles estavam subindo e subindo os degraus.


Por Eduardo Lima

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