Batman, Tom King e a incontinência nerd



O leitor de quadrinhos, o fã de cultura pop, o nerd, é um indivíduo complexo e, na maioria das vezes, estranho. Uma de suas principais características é sentir-se dono dos personagens que gosta, renegando qualquer tentativa diferente de contar a história de seus heróis e que seja minimamente distinta daquela que ele imagina e idealiza. Isso aconteceu recentemente com a nova trilogia de Star Wars, vimos novamente no final de Game of Thrones e temos outro exemplo nessa edição de Batman, que mostra o casamento entre Bruce Wayne e Selina Kyle, a Mulher-Gato.

Escrita por Tom King – autor de pérolas como Xerife da Babilônia, Visão e Senhor Milagre -, a fase atual do Cavaleiro das Trevas humaniza o personagem de maneira profunda e o faz embarcar em um relacionamento com a Mulher-Gato – que sempre foi uma personagem com uma moral ambígua mas que, já há um bom tempo, deixou de ser retratada como vilã no Universo DC e está mais para uma anti-heroína.

Na edição 25 de Batman, lançada em maio pela Panini aqui no Brasil e publicada em julho de 2018 nos Estados Unidos, vemos o tão esperado casamento entre os dois personagens, que acaba não acontecendo devido a uma reviravolta encaixada pelo roteirista – e que, pessoalmente, fez todo sentido para mim, que acompanho a série desde o início.


A quebra de narrativa, a inversão de expectativa e a negação dos arquétipos tradicionais é mais uma vez utilizada para deixar o nerd tradicional com as calças na mão. E quando isso acontece, ao invés de tentar entender o propósito do autor e respeitar a história que ele quer contar, o leitor tem o mais típico dos comportamentos: confrontado com uma verdade que não é a sua, com uma visão de personagem que não bate com a que ele sempre idealizou, sai reclamando e ofendendo quem ousou fazer isso, revelando a criança mimada e mal criada que, convenhamos, sempre foi. Vimos esse comportamento em Star Wars, em Game of Thrones e agora vemos em Batman.

A história do casamento do Batman é linda, com um texto poético e muito bem escrito, onde Batman e Mulher-Gato declaram-se um para o outro enquanto relembram sua história juntos. E a revista ainda traz ilustrações de artistas que tiveram passagens marcantes pela mitologia do Batman, como Frank Miller e outros, fazendo também uma retrospectiva da história do personagem. A edição 25 de Batman é uma revista histórica e já clássica, emocionante em níveis altíssimos e belíssima para quem ainda possui um coração.

Mais uma vez, fica a lição: se nerd fosse bom, não existia.


Comentários

  1. Tem mesmo tanta gente reclamando? Li e não gostei de como foi contada. É uma ótima história, como foram todas as histórias escritas pelo Tom King. Mas achei esse desfecho meio forçado. O gibi anterior com as duas histórias do Coringa foi um dos melhores do Batman que eu já li. Já essa do 25 apesar boa, me pareceu meio esquisita.

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  2. Coloquei como ponto na minha vida nunca descartar qualquer material que fãs saudosistas falem mal...principalmente no tal meio "nerd", "geek"

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