Andre, Kiko e Dave: do choque à redescoberta



A morte de Andre Matos já completou mais de um mês – o vocalista faleceu no dia 8 de junho -, mas continuo sentindo os seus efeitos. 

Após o choque, o primeiro deles foi a imediata reaproximação com a obra do Angra, uma banda que sempre ouvi e curti muito, mas que por diversas razões, incluindo a minha postura em algumas matérias que escrevi a respeito do grupo e a consequente resposta dos músicos, fez com que eu me afastasse dos discos da banda. Com a partida de Andre ouvi novamente todos os álbuns, escrevi sobre alguns deles e comecei a consumir muito material sobre o grupo, em um conjunto de ações que fez com que eu reavaliasse a minha relação com o quinteto e também a minha opinião sobre a banda.


A outra foi um passo natural – pelo menos pra mim -, e me levou a acompanhar os vídeos de Kiko Loureiro no seu canal no YouTube, onde o guitarrista posta vídeos de bastidores, entrevistas, depoimentos e músicas. Essa relação mais próxima que as redes sociais propiciam faz também com que percepções anteriores sejam derrubadas. Encontrei Kiko e o Angra uma vez, há anos e anos atrás quando morava em Chapecó. Foi em uma sessão de autógrafos que me rendeu assinaturas em minhas edições de Rebirth e Temple of Shadows e uma ideia não tão simpática em relação ao guitarrista. 

Mas – e outra vez Andre é  agente da mudança -, o vídeo em que Kiko fala sobre a sua reação à morte do primeiro vocalista do Angra é de uma sinceridade e de um desnudamento desconcertantes, transpira autenticidade e sentimento e aquilo fez com que eu passasse a perceber Kiko com outros olhos. Seu canal no YouTube é ótimo e mostra um mundo muito diferente da cena brasileira – vale lembrar de que, além de guitarrista do Megadeth, o músico reside nos Estados Unidos já há alguns anos. E, é preciso dizer, trata-se de um instrumentista único, com um vocabulário tanto técnico quanto musical muito amplo e que é capaz de tocar de tudo. 


Logicamente, o próximo passo dessa jornada iniciada no início de junho foi me reaproximar do Megadeth, banda que nunca fui o maior dos fãs. Comecei a ouvir novamente meus discos da banda, comprei novos CDs e mergulhei em vários álbuns do grupo. Quem acompanha o site sentiu as consequências disso, com alguns textos sobre a obra de Mustaine. Sempre fui “team Metallica” nessa história toda, e redescobrir o Megadeth na maturidade mexeu bastante comigo. O ranço que tinha com a voz de Dave foi pra debaixo do tapete, e a experiência como ouvinte tornou ainda mais claro o quanto o Megadeth é uma banda muito mais técnica e, em diversos aspectos, mais inovadora que o Metallica. Pra fechar toda essa jornada, no meio deste processo todo Mustaine anunciou que está com câncer, fazendo a urgência assumir ares de ansiedade épica na minha busca pessoal pela audição e entendimento profundos de sua obra.

A perda de Andre Matos me fez reavaliar várias coisas. Minha relação com o Angra, minha relação com o metal nacional e diversos outros aspectos, inclusive pessoais. Olhei para o passado e vi meus erros e o quanto fui babaca e arrogante em certos momentos, e, por mais que essas atitudes me causem uma enorme vergonha hoje em dia, aprendi com elas e tento me tornar um cara melhor a cada dia.

Para mim, a música nunca foi só música. E esse texto é só um exemplo de como ela tem um peso fundamental na minha relação com o mundo.

Vamos em frente.

So, carry on,
There's a meaning to life
Which someday we may find...
Carry on, it's time to forget
The remains from the past, to carry on

Comentários

  1. Eu mesmo, cara, já me desentendi contigo você aqui no collectors, e às vezes até achei tua postura meio ''azeda''. No entanto, sempre tive um grande respeito por ti como crítico, e fico feliz com a possibilidade de comentar sempre que posso, sempre fomentando a conversa que nos une, apaixonados por música que somos! Longa vida ao Collectors, e parabéns pela postura, brother!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.