Review: Megadeth – Youthanasia (1994)


O sexto disco do Megadeth foi lançado em 1 de novembro de 1994 e foi o terceiro com a formação preferida pela maioria dos fãs: Dave Mustaine, Marty Friedman, David Ellefson e Nick Menza. Novamente produzido por Max Norman, o mesmo do anterior Countdown to Extinction (1992), e repetindo o time também na arte da capa, mais uma vez criada por Hugh Syme (que assinaria ainda as de Cryptic Writings, de 1997, e The World Needs a Hero, de 2001), Youthanasia dá sequência à mudança sonora apresentada no álbum lançado dois anos antes. O Megadeth soa direto, deixando de lado o foco ostensivo na técnica que marcou os quatro primeiros trabalhos.

O refinamento melódico e a assertividade das composições são o ponto alto, resultando em hinos da carreira da banda e faixas que conquistaram os corações dos fãs como “Train of Consequences”, com um riff torto que só poderia sair da cabeça de Mustaine, e “A Tout Le Monde”, cujo refrão cantado em francês é um dos mais conhecidos da carreira da banda norte-americana. O som é mais cheio e mais grave e contrasta com a mixagem cristalina de Countdown to Extinction. Mustaine domina mais uma vez as composições, com parcerias pontuais com os demais integrantes em “Reckoning Day”, “Elysian Fields”, “Family Tree”, “I Thought I Knew It All” e “Black Curtains”.

Youthanasia abre com a percussiva “Reckoning Day”, construída a partir da interação entre a parede de guitarras e bateria marcial, em um grande trabalho de Nick Menza. O disco sobe às alturas com a genial “Train of Consequences”, com andamento quebrado e um trabalho rítmico de guitarra que mostra o Megadeth andando totalmente fora da caixa, desembocando em um refrão que entrega doses generosas de melodia. Nick volta a ditar as coisas na cadenciada “Addicted to Chaos”, uma das melhores músicos do disco, com uma excelente interpretação vocal de Dave Mustaine.

“A Tout Le Monde” entrega o momento de lirismo máximo de Youthanasia. Uma canção que mostra que o Megadeth também sabe fazer baladas, explodindo em um andamento pesado e com um refrão que é um dos mais belos da história do metal. Se não me engano – e, se estiver errado, por favor me corrijam -, “A Tout Le Monde” foi a primeira canção gravada pelo Megadeth e que pode ser caracterizada como uma balada, demonstrando toda a amplitude imaginativa de Mustaine e não deixando de ser uma espécie de resposta para a sua ex-banda, que naquele início dos anos 1990 dominava as paradas com canções igualmente contemplativas como “The Unforgiven” e “Nothing Else Matters”. O solo dobrado entre Mustaine e Marty Friedman é outro ponto alto, curto e certeiro, além dos excelentes trechos acústicos.

O Megadeth da década de 1990 dá as caras nas cativantes “Elysian Fields” e em “The Killing Road”, que soa contemporânea ao mesmo tempo em que revisita os primeiros anos da banda. “Blood of Heroes” é a jóia pouco falada de Youthanasia, uma excelente canção com um dos melhores refrãos do álbum, e que acabou não ganhando o mesmo destaque de clássicos como “Train of Consequences” e “A Tout Le Monde”. O mesmo vale para “Family Tree”, onde o vocal tradicionalmente cínico e irônico de Dave conduz uma composição que mostra todo o brilhantismo daquele período da banda, e traz outro refrão excepcional.

O disco se encaminha para o final com a faixa título, super cadenciada e com uma inegável aura sabbathiana, além de uma letra fortíssima que fala sobre a eutanásia de crianças e adolescentes. “I Thought I Knew It All” aposta mais uma vez em ritmos mais moderados, e é uma das pérolas perdidas do álbum. Já “Black Curtains” é prima de uma certa “Sad But True”, com estrutura similar a um dos maiores clássicos do Metallica e um desenvolvimento igualmente semelhante à faixa presente em Black Album (1991) – sei que alguns poderão não concordar, mas tenho essa opinião desde a primeira vez que a ouvi, há 25 anos. O disco fecha com “Victory”, que não acrescenta muito ao tracklist.

Youthanasia chegou ao quarto posto do Billboard 200 e foi muito bem também em países como Inglaterra (6º lugar), Suécia (4º) e Austrália (9º), e rendeu um disco de platina para o quarteto com mais de um milhão de cópias vendidas nos Estados Unidos.

Talvez Youthanasia seja o disco mais acessível dos quatro que o Megadeth gravou com o line-up Mustaine, Friedman, Ellefson e Menza. Seu sucessor, Cryptic Writings, equilibraria elementos de Countdown to Extinction e do próprio Youthanasia, mas sem o intenso brilho de ambos. Comemorando 25 anos no final de 2019, Youthanasia é um dos documentos mais marcantes do universo musical de Dave Mustaine e companhia, e um álbum que continua revelando surpresas mesmo duas décadas após o seu lançamento.

Comentários

  1. Eu considero Foreclosure of a Dream a primeira balada do Megadeth. Ou não seria? Rsrsrsrs

    ResponderExcluir
  2. Engraçado que, à época o lançamento, eu ali com doze anos, achei terrível essa guinada pro comercial, me achando o true thrasher!
    Agora que estou numa fase revisionista, é meu segundo favorito, atrás apenas do incontestável Rust in Peace!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.