Quadrinhos: Paper Girls 4, de Brian K. Vaughan e Cliff Chiang (2019, Devir)


Stranger Things antes de Stranger Things”. Esta definição, presente na contracapa do quarto volume de Paper Girls publicado pela editora Devir no Brasil, define bem a série escrita por Brian K. Vaughan (Saga, Y: O Último Homem, Os Leões de Bagdá), ilustrada por Cliff Chiang (Mulher-Maravilha) e colorizada por Matt Wilson (Thor, Demolidor, The Wicked + The Divine). A história gira em torna de quatro garotas pré-adolescentes, entregadoras de jornal, e que são envolvidas subitamente em uma avalanche de acontecimentos inexplicáveis.

Em Paper Girls 4, o roteiro começa finalmente a entregar algumas respostas. A viagem temporal se revela como um elemento central na trama, como já era antecipado nas edições anteriores, e conduz o quarteto formado por Erin, Mac, KJ e Tiffany, que viviam em 1988, para a virada dos anos 2000. No roteiro de Vaughan, o caos tanto alardeado e felizmente não ocorrido envolvendo o “bug do milênio” realmente aconteceu, fazendo a sociedade entrar em uma confusão tecnológica sem precedentes. E é nesse cenário que as protagonistas são subitamente jogadas após as aventuras mostradas no terceiro volume, quando estavam na era dos dinossauros.

Gosto bastante de Paper Girls, acho uma série muito bem escrita e lidamente ilustrada, que foge de convenções e entrega soluções surpreendentes. E gosto muito quando Vaughan promove encontros entre versões entre a mesma personagem vindas de linhas temporais diferentes. Isso já havia ocorrido em Paper Girls 2, quando Erin se vê frente à frente com uma versão de si mesma com 30 e poucos anos e totalmente distante do futuro que idealizou. Aqui é a vez de Tiffany confrontar o seu eu do amanhã, e a versão dos anos 2000 da garota é mais do que se poderia imaginar para a própria Tiffany. O confronto entre realidade e expectativa que essas uniões proporcionam sempre traz questões pertinentes e é muito bem explorado por Vaughan, além de levar a choques no leitor, que é confrontado com o seu próprio presente e aquilo que aspirava para si mesmo.



A série ganha pontos também por seguir apostando no olhar feminino do mundo. Os personagens masculinos são raros e tudo gira em torno das protagonistas e de outras mulheres marcantes que elas encontram pelo caminho. Isso faz com que temas como a chegada da puberdade (abordada no volume anterior) e a sexualidade (focada nesse) sejam trazidas à tona sob uma ótica diferente daquela que nós, leitores masculinos, estamos acostumados a ver. Além disso, a construção de uma série focada em ação e com fortes embates físicos serve também para quebrar paradigmas, pois, afinal, quem é que disse que um quadrinho cheio de aventura não pode ser protagonizado por garotas, não é mesmo? A sensibilidade de Vaughan, que sempre criou figuras femininas fortes em sua obra, é evidente, e o resultado é um quadrinho que conversa de maneira direta e profunda com leitoras de todas as idades.

Paper Girls 4 chega no belo formato que a Devir está publicando a série, com capa brochura e papel couché. Essa edição vem com 128 páginas e traz o sempre ótimo texto de Vaughan, com arte estupenda de Cliff Chiang e o trabalho de colorização espetacular de Matt Wilson, sempre amparado em paletas de tons muito bem escolhidos.

Um dos melhores títulos disponíveis nas bandas e livrarias brasileiras. Se ainda não leu, leia, pois Paper Girls terá ainda mais dois volumes publicados aqui no Brasil, fechando a série.

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