Review: Demons & Wizards – III (2020)



O Demons & Wizards chacoalhou as estruturas do metal quando lançou o seu primeiro disco, em 2000. Afinal, a banda era a união do vocalista alemão Hansi Kürsch com o guitarrista norte-americano Jon Schaffer, ambos as cabeças criativas de dois dos principais ícones do metal dos anos 1990: o Blind Guardian e o Iced Earth.

O debut da dupla é excepcional e um dos melhores discos da década de 2000. Seu sucessor, Touched by the Crimson King (2005), não alcançou o mesmo impacto, apesar de ser um bom disco. E agora, quinze anos depois, Hansi e Jon unem forças novamente em III, álbum lançado dia 21 de fevereiro. Vale informar que, assim como relançou os dois primeiros discos em edições especiais em 2019, a Hellion Records já confirmou que irá disponibilizar o novo trabalho também no Brasil.

Avaliar III passa por avaliar também o que tanto o Blind Guardian quanto o Iced Earth produziram nos últimos quinze anos. Enquanto a banda alemã mergulhou ainda mais na abordagem barroca de sua música, que ficou ainda mais grandiosa e cheia de detalhes e acabou culminando no álbum orquestrado lançado em 2019, o impressionante Legacy of the Dark Lands, o grupo norte-americano viveu tempos conturbados com a rápida passagem de Tim “Ripper” Owens, o retorno e a nova despedida do vocalista Matt Barlow e a efetivação de Stu Block como frontman, tudo isso acompanhado por uma intensa troca de integrantes, o que acentuou ainda mais a sensação de que o Iced Earth é muito mais um projeto solo de Schaffer do que efetivamente uma banda. E no meio disso deu aos fãs discos que variaram entre decepcionantes (o retorno à saga Something Wicked em Framing Armageddon e The Crucible of Man, de 2007 e 2008) e revigorantes (Dystopia, de 2011).

III é vítima disso. Enquanto traz Hansi Kürsch mais uma vez cantando de maneira surreal, do outro lado mostra um Jon Schaffer sem a mesma inspiração de outrora. Essa dicotomia, logicamente, acaba refletida no resultado final do álbum. Some-se isso a uma produção que imprimiu um timbre discutível nas guitarras, que soam um tanto sem força, e percebe-se claramente um dos principais pontos a serem discutidos no disco. Schaffer vem repetindo ideias e dando voltas ao redor da sua abordagem do instrumento já há alguns anos, e isso se repete aqui. Os riffs em alguns momentos soam familiares aos ouvidos, para não usar outros adjetivos. E há uma grande diferença entre soar repetitivo e ter um estilo próprio, que isso fique bem claro.

No outro lado da moeda, Hansi puxa tudo para cima. A abertura, com a sombria e climática “Diabolic”, é um dos destaques do disco, assim como a linda e arrepiante acústica “Timeless Spirit”. “Children of Cain” fecha o trio de grandes canções de III. Temos outros bons momentos em “Split” e “Dark Side of Her Majesty”, e até mesmo uma inusitada influência do AC/DC nos riffs de “Midas Disease”. No entanto, canções fracas como “Invincible” e “New Dawn” mostram o lado não tão positivo do disco.

No geral, III está no mesmo nível de Touched by the Crimson King. É um disco que não chega aos pés da estreia, mas mesmo assim gera momentos de alegria e bateção de cabeça durante a audição. A produção poderia ser melhor e corrigiria alguns problemas, mas se você é fã do projeto e das bandas de seus integrantes certamente irá, como eu, achar o resultado final mais positivo do que negativo.

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