Review: Green Day – Father of All ... (2020)



Quer você queira ou não, o Green Day já conquistou um espaço no rock clássico graças aos seus vários hits e a pelo menos três álbuns seminais do tal pop/punk nos anos 1990 e década passada. Em seu décimo terceiro disco, Father of All ..., o trio californiano aparentemente se despede de sua atual gravadora, mandando um inspirado e irônico “foda-se” a todos os caretas da atualidade.

Aqui, os caras visaram um som diferente: um rock and roll espontâneo e polido ao mesmo tempo, unindo abordagens retrô e produção moderna no mesmo pacote. Quase todas as letras são bem-humoradas e ácidas, seja em suas críticas políticas (adivinhem os alvos) ou nos momentos de “crise adolescente de meia-idade”. Entre as acertadas mudanças, o vocalista Billie Joe Armstrong canta com uma voz mais aguda e influenciada pela Motown, enquanto o baixista Mike Dirnt e o baterista Tré Cool se divertem com novas possibilidades de grooves.

Na ótima faixa-título “Father of All...”, há um belo exemplo da vitamina sonora do disco: das batidas à la “Fire” de Jimi Hendrix a uma espécie de indie-punk com temperos de soul sacolejante, pronta para levar sua letra sobre o caos mundial a algum comercial de carro. A também ótima “Fire, Ready, Aim” remete aos singles do The Hives e se mostra eletrizante em cima de sua esperta temática sobre pessoas que tomam atitudes precipitadas.

A bacaníssima “Oh Yeah!” é um glam rock modernoso que aborda a distração das pessoas com mídias sociais num planeta problemático, e ainda traz samples da versão feita pela Joan Jett para "Do You Wanna Touch Me", do condenado cantor Gary Glitter. Outra música de tom político certeiro é a boa “Graffitia”, que junta fatos passados e presentes no mesmo raciocínio social, soando como uma melódica fusão do Bruce Springsteen com o The Clash.

A ótima “I Was a Teenage Teenager” é um indie rock fofinho de letras nostálgicas e guitarras pesadas à la Weezer. A excelente “Stab You in the Heart” é quase um rockabilly meio anos 1950, no qual Armstrong encarna com irreverência um personagem misógino e idiota. Entre os pontos fracos, “Meet Me on the Roof” é boba em sua tentativa de levar o ouvinte a um cenário feliz dos anos 1960, enquanto que “Junkies on a High” soa como um Imagine Dragons dopado.

Father of All... é o início de uma nova e desapegada fase para o Green Day. Seu maior acerto é nos fazer esquecer brevemente de álbuns como Dookie (1994) e American Idiot (2004), graças às suas novas nuances sonoras e formas frescas de abordar os temas de sempre. Algumas vezes, só precisamos de 26 minutinhos de canções grudentas e dançantes em algum Spotify da vida. Sim, punks de butique também podem ser motherfuckers!



Comentários

  1. Nem lembrava que essa banda existia, vai ser uma experiência interessante ouvir esse novo disco depois de tantos anos longe do som dos caras.

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  2. O Green Day já se aventura há algum tempo por territórios além do punk rock, onde iniciou sua carreira com o irretocável Dookie. Entretanto, este álbum parece-me o mais distinto das origens da banda - eu diria até que é outra banda! Impressionante a disposição de renovarem-se constantemente.

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