Não precisamos voltar ao normal



Nesses tempos de pandemia, somos inundados todos os dias por sugestões sobre o que fazer nesse período em que estamos em casa. Cursos, meditação, arrumações, culinária, limpezas, desapego: o que não faltam são dicas de como ocupar o tempo, do que assistir, ler e ouvir nesses dias estranhos.

Mas se não quisermos fazer nada disso? Equilibrar as atividades do dia a dia com a interrogação que é a realidade atual é uma tarefa não muito fácil para a cabeça. Precisamos trabalhar, precisamos viver, e também precisamos aprender a conviver com a ansiedade, as incertezas e tudo que veio junto com a pandemia. Quem, como eu, pode realizar a sua atividade profissional em home office, tem as suas vantagens. A mais óbvia é não precisar sair para a rua e se expor ao vírus. Mas nossas casas, nossos apartamentos, nossos lares, não são ambientes de trabalho. Não estávamos acostumados a enxergá-los desta forma. Eles eram refúgios onde recarregávamos as energias após um dia cheio, onde relaxávamos e descansávamos. Hoje são também nossos escritórios, e o fato de não sairmos para a rua e não convivermos fisicamente com outras pessoas como fazíamos antes são questões que precisam ser aprendidas e desenvolvidas nessa nova realidade. A falta de contato humano tem um preço, e estamos percebendo isso da pior forma possível todos os dias.

E tem, obviamente, quem não pode realizar o seu ofício ficando em casa. A questão da pandemia é que, olhando historicamente, não estamos diante de um quadro que se resolverá em sessenta dias, que é o tempo aproximado que estamos em quarentena. Ao olharmos para outros momentos como esse na história humana, fica claro que o tempo é muito maior. Dois meses não são nada em termos históricos. Parece-me que não chegamos nem na metade ainda desse processo, e que as coisas só irão começar a voltar ao normal a partir do segundo semestre. Enquanto isso, não dá pra ficar simplesmente parado. A vida segue apesar da pandemia, e temos que aprender a viver nesse novo mundo.

Não precisamos voltar ao normal. O que necessitamos, isso sim, é aprender com o que está acontecendo e tentar sermos melhores do que fomos até agora, tanto como indivíduos quanto, sobretudo, como sociedade.

Existe um novo mundo lá fora, e temos que nos adaptar a ele. Como faremos isso? Com erros e acertos. Mas o fato é que, do trabalho às relações pessoais, tudo mudou e nada será como antes. Nem nós mesmos.

Comentários

  1. Começar a semana com seu excelente texto é muito salutar.
    Concordo plenamente nada será como antes.
    Se me permiti gostaria de compartilhar com outras pessoas.
    Sempre ligado na COLLECTORS ROOM com seus conteúdos de excelência.
    Grande abraço Ricardo.

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  2. Excelentes colocações, Cadão, acho que o normal já não existe mesmo.

    Deverá haver um novo normal, e que seja nossa obrigação fazê-lo melhor do que até agora.

    Muito se vê sobre como o abismo social que há no mundo torna-se ainda mais agigantado neste momento de aflição, uma vez que o vírus é o mesmo para todos, mas não o são as condições de enfrentá-lo. Há aspectos até positivos, como menos poluição, menos acidentes de trânsito, menos sujeira nas ruas.

    Há lições muito importantes a aprendermos aí, e é imperativo que possamos preservar estas melhoras sem a presença de um agente tão ameaçador, e que aprendamos a olhar um para o outro como o vírus nos olha: sem distinção.

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