O disco seguinte: álbuns que sucederam campeões de vendas


Alcançar um grande sucesso é difícil. Repetir o feito, mais ainda. E isso fica claro quando analisamos alguns dos álbuns mais vendidos de todos os tempos e os discos que vieram a seguir na carreira dessas bandas. Não que o sucesso de vendas e de público tenha algo a ver com a qualidade desses trabalhos, mas a pressão em repetir os números alcançados anteriormente certamente foi um dos fatores centrais na produção dos álbuns abaixo.


Michael Jackson – Bad (1987)

Bad teve a tarefa mais ingrata de todas: ser o sucessor de Thriller (1982), o disco mais vendido da história. E fez isso bem, tanto artisticamente quanto comercialmente. Oito das dez faixas do álbum foram lançadas como single, e seis deles alcançaram o top 10 nos Estados Unidos. Musicalmente, Bad é uma evolução de Thriller, com o som ficando mais encorpado e pesado, além de incorporar características marcantes da década de 1980 como os teclados em destaque e o uso constante da bateria eletrônica. No total, Bad vendeu mais de 35 milhões de cópias em todo o mundo e se tornou o segundo disco mais vendido de Michael Jackson, atrás apenas de Thriller, que superou a marca de 70 milhões.


AC/DC – For Those About to Rock (We Salute You) (1981)

O AC/DC protagonizou um dos maiores renascimentos do rock com Back in Black, álbum lançado em julho de 1980, apenas cinco meses após a trágica morte do vocalista Bon Scott em 19 de fevereiro daquele ano. Disco de maior sucesso da banda australiana, superou a marca de 50 milhões de cópias vendidas. Seu sucessor, no entanto, não conseguiu repetir o êxito. For Those About to Rock (We Salute You) deu à banda um de seus maiores clássicos – a fenomenal faixa título, que encerra os shows do grupo desde então ao som ensurdecedor de canhões -, mas o restante de suas músicas se perdeu no tempo. Isso não quer dizer que não existam grandes canções em For Those About to Rock, como é o caso de “Let’s Get It Up”, “Inject the Venom”, “Evil Walks”, “C.O.D.” e “Breaking the Rules”. Comercialmente, o álbum ficou bem abaixo de Back in Black, com cerca de 7 milhões de cópias vendidas. No entanto, foi o primeiro disco do AC/DC a chegar ao primeiro lugar da Billboard, onde permaneceu por três semanas.


Pink Floyd – Wish You Were Here (1975)

The Dark Side of the Moon (1973) não apenas transformou a carreira do Pink Floyd e mudou a história da música, como também se tornou um dos discos mais vendidos de todos os tempos com números absolutamente incríveis. Foram nada mais nada menos que 968 semanas na parada norte-americana (até o momento) e mais de 45 milhões de álbuns vendidos. Diz a lenda que uma fábrica de vinil localizada na Alemanha funcionava 24 horas por dia prensando exclusivamente o LP para atender a altíssima demanda pelo título. Seu sucessor, Wish You Were Here, pode não ter alcançado os números surreais de Dark Side, mas não fez feio. Lançado em setembro de 1975, traz em seu tracklist a surreal suíte “Shine On You Crazy Diamond”, dedicada ao antigo colega Syd Barrett, e  uma das músicas mais conhecidas da banda, justamente a canção que batiza o disco. Musicalmente, funciona como uma sequência lógica do que o quarteto havia feito e o que faria nos anos seguintes nos igualmente sensacionais Animals (1977) e The Wall (1979). Suas mais de 20 milhões de cópias vendidas atestam o fascínio de um álbum que sobreviveu ao tempo.


Eagles – The Long Run (1979)

Com Hotel California (1976), o Eagles conquistou o mundo após já ter conquistado a América. É surpreendente para toda pessoa que mora fora dos Estados Unidos ver os números de venda do quinteto pré-Hotel California e perceber que eles já eram gigantes nos Estados Unidos e permaneciam como ilustres desconhecidos fora de sua terra natal. Hotel California mudou o jogo com suas mais de 42 milhões de cópias nas casas de todo o planeta, puxado não apenas pela antológica faixa título mas também por pérolas como “New Kind in Town” e “Life in the Fast Lane”. The Long Run chegou três anos depois, em setembro de 1979, e acabou sendo o último trabalho da banda, que encerrou as atividades no ano seguinte e retornou apenas em 1994. Entre as canções, destaque para a música que batiza o disco, um dos grandes clássicos do grupo, e também para a balada “I Can’t Tell You Why”, para os riffs pesados de “In the City” (que chegam a lembrar o James Gang, de onde veio Joe Walsh) e “Heartache Tonight”, que se transformou em um grande hit, além de “Those Shoes”, uma das pérolas do repertório do grupo. No entanto, as mais de 8 milhões de cópias vendidas nos EUA não foram suficientes para manter o Eagles na ativa.


Fleetwood Mac – Tusk (1979)

Vir na sequência de um álbum perfeito e que foi um fenômeno de vendas como Rumours (1977) é uma tarefa das mais ingratas. Tusk encarou esse desafio com uma coleção de vinte canções que formam um dos trabalhos mais sólidos e consistentes do Fleetwood Mac. Ainda que muito distante das mais de 40 milhões de cópias de seu antecessor – vendeu apenas 10% disso -, é um álbum que sofreu com a comparação e teve problemas também com o alto valor gasto em sua produção – quase US$ 1,5 milhão na época -, o que só aumentou a cobrança e a expectativa da gravadora sobre a banda. Porém, apesar da decepção com as vendas, o tempo fez jus à qualidade do trabalho, que é considerado um dos discos mais subestimados da história e figura, inclusive, na lista de 500 Maiores Discos de Todos os Tempos da Rolling Stone. A questão é que o apelo pop onipresente em Rumours não é tão evidente em Tusk, o que não significa que ele seja um disco ruim, muito pelo contrário. Canções como “Think About Me”, “Sisters of the Moon”, “Angel” e “Tusk” são exemplos do exercício de tapeçaria pop comandado por Lindsey Buckingham no estúdio. E temos “Sara”, pérola escrita por Stevie Nicks e que fala tanto sobre a filha que gostaria de ter tido com Don Henley, vocalista e baterista do Eagles com quem teve um relacionamento, quanto sobre a amiga de longa data que mais tarde se casaria com Mick Fleetwood.


Led Zeppelin – Houses of the Holy (1973)

Houses of the Holy deu fim não apenas à sequência de álbuns autointitulados do Led Zeppelin, como teve a responsabilidade de vir após Led Zeppelin IV (1971), disco mais celebrado da banda inglesa e considerado um dos melhores álbuns de todos os tempos. Musicalmente, trata-se de um dos melhores trabalhos do Led Zeppelin, com canções absolutamente sensacionais como “The Song Remains the Same”, “The Rain Song”, “No Quarter” e “The Ocean”, além do hard reggae “D'yer Mak'er” e do folk pesado “Over the Hills and Far Away”. Comercialmente, foram quase 18 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, o que, apesar da ótima performance, ficou bem longe dos 37 milhões de discos de Led Zeppelin IV.


Metallica – Load (1996)

Há discos que mudam o rumo da música, e o autointitulado trabalho lançado pelo Metallica em 1991, que ficou conhecido como Black Album, é um dos maiores exemplos. O trabalho mudou o som da banda, trouxe o heavy metal para o topo do mundo e se transformou no álbum de metal mais vendido de todos os tempos, com mais 31 milhões de cópias comercializadas. Load teve que encarar apenas isso ... Lançado cinco anos após o estouro planetário do Metallica, soa musicalmente como uma sequência coerente do que a banda apresentou no Black Album, e leva o som do quarteto para caminhos ainda mais distantes do thrash metal presente nos quatro primeiros discos. Os fãs, que esperavam um retorno às “origens”, se decepcionaram e ficaram ainda mais p... com os músicos após a divulgação das fotos promocionais, onde a banda apareceu com cabelos curtos e maquiagem. A fragilidade heterossexual do fã de metal sofreu um de seus maiores golpes, e muitos não se recuperaram até hoje. Há ótimas canções em Load, e a abertura com “Ain’t My Bitch”, por exemplo, poderia não apenas estar no Black Album como soa superior a algumas das faixas do disco de 1991. Outros grandes momentos podem ser ouvidos em “2x4”, “Until It Sleeps”, “King Nothing”, no sensacional metal psicodélico “Bleeding Me”, na balada country “Mama Said” e na pesadíssima “The Outlaw Thorn”, que fecha o trabalho como uma carta de amor ao Black Sabbath.


Guns N’ Roses – Use Your Illusion I & II (1991)

Ainda que conste como o álbum seguinte a Appetite for Destruction na discografia do Guns N’ Roses, Lies (1988) é na verdade a união de dois momentos distintos: o EP ao vivo Live?!*@ Like a Suicide, que saiu originalmente em dezembro de 1986, e as sessões acústicas que geraram as quatro músicas restantes, incluindo o hit “Patience”. Na prática essa união não configura um álbum, e, por essa razão, o verdadeiro sucessor de Appetite for Destruction é a dupla Use Your Illusion, lançada quatro anos depois. Dois álbuns duplos em vinil, totalizando trinta novas músicas. Use Your Illusion calcificou de maneira definitiva o status do Guns N’ Roses como uma das maiores bandas da história do rock, e cada um de seus volumes vendeu mais de 18 milhões de cópias, número de respeito para encarar os 30 milhões da estreia da banda. Clássicos como “Don’t Cry”, “November Rain”, “Civil War”, “Yesterdays”, “Estranged” e “You Could Be Mine” reafirmam a força dos Illusions até hoje, e justificam aqueles que consideram a dobradinha como os melhores trabalhos de Axl, Slash e companhia.


Dire Straits – On Every Street (1991)

O Dire Straits se transformou em uma banda de alcance global com Brothers in Arms (1985), seu quinto disco. E o passo seguinte do grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Mark Knopfler demorou seis anos para ser dado. On Every Street foi lançado em setembro de 1991 e acabou sendo o último disco da banda inglesa, que vinha de um hiato entre 1987 e 1990 e se separou de vez em 1995. O álbum não fez feio comercialmente, ainda que não tenha chegado perto das mais de 30 milhões de cópias de Brothers in Arms. On Every Street chegou ao número 1 no Reino Unido e ao número 12 nos Estados Unidos, onde vendeu mais de 1 milhão de cópias – no mundo, o álbum superou a marca de 9 milhões de discos vendidos. Musicalmente, soa bem diferente e mais sombrio de seu antecessor e possui ótimas canções como o single “Calling Elvis”, “When It Comes to You”, “The Bug” e “Heavy Fuel”, provavelmente a música mais pesada da história do Dire Straits.


U2 – Rattle and Hum (1988)

O U2 mergulhou na rica tradição musical dos Estados Unidos com The Joshua Tree (1987) e, não satisfeito com a imersão, foi ainda mais fundo em Rattle and Hum. Híbrido entre um álbum de estúdio e ao vivo, o disco (duplo em vinil) traz dezessete faixas e veio acompanhado de um documentário com o mesmo título, que eternizou em vídeo as aventuras da banda pela cultura norte-americana. O que temos aqui é o fechamento da primeira fase da carreira do quarteto irlandês, que na década de 1990 viraria a sua música de cabeça para baixo a partir do espetacular Achtung Baby (1991). Rattle and Hum é uma obra-prima que traz pérolas como “Desire”, “Angel of Harlem”, “When Loves Comes to Town” (com participação de B.B. King) e “God Part II”, além de versões ao vivo antológicas para “Helter Skelter” (dos Beatles), “All Along the Watchtower” (de Bob Dylan), “Silver and Gold” e “Bullet the Blue Sky”, com direito à gravação definitiva da imortal “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” com o The New Voices of Freedom, coral de vozes negras do Harlem. Foram mais de 14 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, uma performance mais do que digna para os 25 milhões de discos de The Joshua Tree.


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