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Quando o rock se recarrega: o renascimento do AC/DC em Power Up (2020)


Poucas bandas na história do rock conseguem soar tão familiares e, ao mesmo tempo, tão vivas quanto o AC/DC. Lançado em novembro de 2020, durante a pandemia de COVID, Power Up é uma celebração da própria resistência – tanto da banda quanto dos fãs. Após a morte de Malcolm Young em 2017, muitos acreditavam que a trajetória do grupo havia chegado ao fim. Mas Angus Young, o guardião do legado do grupo, decidiu o contrário: reuniu Brian Johnson, Phil Rudd, Cliff Williams e Stevie Young para gravar um álbum que soa como um tributo direto ao irmão e cofundador do AC/DC.

As sessões ocorreram no Warehouse Studio, em Vancouver, sob a produção de Brendan O’Brien, o mesmo responsável por Black Ice (2008) e Rock or Bust (2014). O resultado é um disco que, em essência, condensa tudo o que tornou o AC/DC uma instituição do rock: riffs cortantes, refrães imediatos e uma pegada que parece vinda de um motor V8 prestes a explodir. O próprio título, Power Up, é simbólico: trata-se de ligar novamente a corrente elétrica que manteve a banda viva por quase cinco décadas.

Musicalmente, o álbum resgata a energia dos anos 1970 e 1980 com um frescor surpreendente. “Shot in the Dark”, o single principal, é puro AC/DC clássico: um groove irresistível, uma linha de baixo que empurra tudo à frente e Brian Johnson soando como se o tempo tivesse parado. Faixas como “Realize”, “Rejection” e “Kick You When You’re Down” são um lembrete de que Angus ainda domina a arte do riff simples e letal. Já “Through the Mists of Time” revela uma faceta rara — quase nostálgica —, soando como uma carta de amor à própria história da banda e à memória de Malcolm. E a cativante “Demon Fire” cativa de imediato e vem impregnada com o DNA inconfundível da banda.


Não há reinvenção aqui, e tampouco é isso que se espera. O AC/DC nunca precisou mudar de fórmula, porque a sua linguagem é universal. Power Up funciona como um compêndio do estilo criado por Angus e Malcolm: blues, boogie e rock fundidos em eletricidade pura. O som é mais limpo que nos álbuns setentistas, mas a alma continua a mesma: crua, direta e barulhenta.

O disco estreou em primeiro lugar em mais de 20 países e mostrou que o público ainda tem fome de rock genuíno. Mais que números, porém, Power Up representa um milagre em si: a volta de uma banda que parecia ter encerrado o ciclo e que, ao se reerguer, reafirmou o valor da persistência.

Power Up não é apenas um bom álbum do AC/DC — é  uma declaração de vitalidade. Um lembrete de que, enquanto houver energia correndo pelos cabos e amplificadores, o rock seguirá vivo e, provavelmente, usará uma camiseta preta com um raio estampado no peito.


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