Decades: Live in Buenos Aires (2019): Nightwish revisita a própria história em um dos melhores lives da carreira
Decades: Live in Buenos Aires (2019) não é apenas mais um registro ao vivo do Nightwish, embora, olhando friamente, pudesse parecer. Gravado durante a Decades World Tour no sempre inflamado público de Buenos Aires, o álbum funciona como uma espécie de cápsula histórica: um resumo panorâmico da trajetória da banda finlandesa, revisitando eras distintas e conectando, em um mesmo palco, músicas que nasceram em momentos completamente diferentes da vida do grupo.
A proposta da turnê já vinha com esse DNA. A ideia era olhar para trás, cavar as próprias raízes e trazer à superfície tanto os clássicos indiscutíveis quanto faixas menos lembradas. Esse conceito aparece de forma muito clara no setlist, que passeia por hits como “Wish I Had an Angel”, “Nemo” e “Ghost Love Score”, mas que também abre espaço para músicas que raramente voltam ao repertório como “Deep Silent Complete”, “Dead Boy’s Poem” e “Gethsemane”, resgatando nuances que muitas vezes ficam escondidas pela grandiosidade sempre crescente do Nightwish.
O que realmente faz Decades funcionar é a performance. A banda soa afiada, sólida, com uma entrega que só uma formação madura consegue oferecer. Em estúdio, o Nightwish frequentemente opera em escala imensa, cercado de camadas, orquestrações e texturas milimetricamente encaixadas. Ao vivo, essa densidade pode virar um obstáculo, mas aqui acontece justamente o contrário: tudo respira, tudo se encaixa, tudo parece vivo. A captação no Microestadio Malvinas Argentinas foi feita com rigor, traduzindo para áudio e vídeo a intensidade do show e, principalmente, o entusiasmo do público argentino, que funciona quase como um integrante extra.
E há, claro, Floor Jansen. A vocalista comanda o palco com uma segurança que remodela, sem apagar, as fases anteriores do Nightwish. Ela transita entre épocas e estilos com naturalidade: entrega o peso quando a música pede, encontra delicadeza nas melodias mais suaves e recria as canções clássicas com respeito, mas sem imitação. É graças a essa versatilidade que o recorte histórico proposto pelo álbum soa coerente, mesmo misturando canções concebidas nas fases com as vocalista Tarja Turunen e Anette Olzon, com intenções bem diferentes.
A discussão sobre o número de álbuns ao vivo lançados pela banda é legítima, especialmente porque Decades chegou poucos anos depois de outros registros com a mesma formação. Vamos lá: até agora, já são seis registros ao vivo. Mas, na prática, o disco justifica sua existência pelo recorte do repertório e pelo contexto da turnê. Mais do que documentar um show, ele registra uma celebração de identidade: o Nightwish olhando para a própria história, reorganizando suas peças e mostrando como, apesar das transformações, existe uma linha contínua que amarra tudo.
Como documento, Decades: Live in Buenos Aires é grandioso. Como show, é envolvente. Como síntese de uma carreira que nunca teve medo de mudar, é um dos registros ao vivo mais sólidos que o Nightwish já colocou na praça. E, para quem acompanha a banda desde os primeiros anos, um lembrete poderoso de por que eles chegaram tão longe.
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