Por
Ricardo Seelig
Nota:
8,5
O
Nazareth nunca foi uma banda do primeiro time do hard rock. Pra ser
sincero, nem do segundo. A banda liderada pelo vocalista Dan
McCafferty, há mais de quarenta anos na estrada, faz parte daquele
tipo de artista que vence pela insistência. Desde que o mundo é
mundo eles estão ali, perto de você, gravando discos e lançando
músicas que, mesmo não tendo um impacto muito grande em sua vida,
fazem barulho suficiente para você saber que ambos existem.
Analisando
em perspectiva e mesmo correndo o provável risco de os fãs do grupo
me amaldiçoarem, o fato é que esses escoceses lançaram apenas dois
álbuns verdadeiramente relevantes em toda a sua carreira –
Razamanaz (1973) e Hair of the Dog (1975) -, e desde então
apresentam somente lampejos momentâneos de criatividade. Isso é
facilmente percebido através da pluralidade de estilos explorada em
seus discos. Do hard ao heavy metal, passando pelo pop e até por um
equivocado flerte com a sonoridade mais eletrônica durante a década
de oitenta, o Nazareth atirou para todos os lados em sua longa
história, e, o que é pior, acertando em pouquíssimos alvos.
Por
tudo isso, fui ouvir Big Dogz, vigésimo-segundo álbum do quarteto,
com um pé atrás. Bem, na verdade com os dois pés atrás. Não
tinha expectativa alguma em relação ao disco. Não esperava
absolutamente nada. Para ser bem sincero com vocês, ele estava
enquadrado naquele nicho de materiais de divulgação recebidos de
gravadoras e que eu não tenho a mínima vontade de escrever a
respeito.
Então,
como estava dizendo, coloquei o álbum na vitrola e fui ouvir o
disco. E é aí que a porca torce o rabo. O início da faixa de
abertura, “Big Dog's Gonna Howl”, prendeu a minha atenção, e a
surpresa só foi acabar ao final da audição. Com uma pegada
totalmente influenciada pelo Free, “Big Dog's Gonna Howl” é um
excelente cartão de visitas para um trabalho muito bom. Com um
tracklist forte, Big Dogz traz o Nazareth executando um competente e
sólido blues rock, onde o peso é um dos elementos principais. O
áspero timbre da guitarra de Jimmy Murrison é um prazer inesperado
e, ao lado do vocal de McCafferty, embebido em generosas doses de
whisky e na linha do seu conterrâneo Bon Scott, é o principal
destaque do disco.
Algumas
músicas merecem comentários à parte. “When Jesus Comes to Save
the World Again” é uma composição densa que lembra novamente o
Free, mas dessa vez em seus momentos mais melancólicos. “Claimed”
é hard puro, uma viagem direto aos anos setenta. “Radio” é
ótima balada sem o excesso de açúcar habitual das músicas do
grupo. A excelente “No Mean Monster” é um rock com um groove
maroto, daquelas faixas feitas sob medida para pegar a estrada sem
destino.
Com
uma consistência e uma solidez que impressionam, Big Dogz é um
grande álbum de rock puro e simples temperado por generosas doses de
blues. Seguramente o melhor disco do Nazareth desde meados dos anos
70, com tudo para agradar não apenas os fãs, mas principalmente
pessoas como eu, que nunca deram muito bola para o grupo.
Duvida?
Então ouça!
Faixas:
- Big Dog's Gonna Howl
- Claimed
- When Jesus Comes to Save the World Again
- Radio
- No Mean Monster
- Time and Tide
- Lifeboat
- The Toast
- Watch Your Back
- Butterfly
- Sleeptalker
Faço de suas palavras "quase" as minhas ... esse disco é uma verdadeira voadora nas costas de quem não esperava mais nada do grupo .... para mim esta quase no mesmo nível dos dois citados ... que são realmente matadores .... realmente a banda em sua longa carreira não consegui manter a consistência alcançada no Hair of the Dog e no Razamanaz ... não acho que eles pertençam a um escalão tão baixo assim... acho que são sim do segundo escalão mesmo porque são bem conhecidos no meio rocker ... alguns bons discos deles são o Load and Proud, o No Mean City e o Expect no Mercy (este menos) .... em boa parte dos 80 realmente meteram o pé na jaca.... e em parte fizeram por merecer a desconfiança que despertam .... mas o disco Big Dogz é realmente ótimo ... mostra que se a banda tivesse focado nesta sonoridade poderia ter sido mais consistente....mas o se não existe...
ResponderExcluirÉ por aí mesmo, Fábio.
ResponderExcluirGostei da honestidade na avaliação de Ricardo Seelig.
ResponderExcluirSou muito fã da banda e chego a viajar de moto para o sul do país para assistí-los, saindo de São Paulo, quando eles vem tocar no Paraná ou Santa Catarina.
Sou da mesma opinião do Fábio de que a banda está no segundo escalão, indo para o primeiro.
O álbum é espetacular, principalmente pelas muito bem compostas Big Dogz, Radio e The Toast.
No último show que fui em Campo Largo/PR, escutei ao vivo Radio e foi uma das maiores experiências vividas ao ouvir uma obra ao vivo.
Vida longa ao Nazareth.
Ricardo, tem certeza que você ouviu discos como Close Enough to rock and roll, Rampant, e Loud And Proud? Sei não...
ResponderExcluirCara, valeu pela análise sincera! Mas o Nazareth é uma banda incrível! De primeiro escalão! Pelo menos na metade da década de 1970. Depois, tenho que admitir, que perderam os rumos nas décadas seguintes. Mas então eu te pergunto, com o advento da New Wave em diante, que grande banda não perdeu? Imagine o Led Zeppelin nos anos 80 ou 90 o quê não seria? Bicho! Escuta com atenção do Razamanas até o No Mean City. Vc vai mudar de opinião quando fala que os caras só tem dois discos importantes. Estes citados, podem sim serem os mais importantes de forma geral. Mas não são apenas estes. Há! E antes que eu me esqueça o Dan foi um dos vocalistas mais influentes do mundo do Rock. Dê uma pesquisadinha rápida ae que vai ver a galera de primeiro escalão que ele influenciou! Valeu!
ResponderExcluir