
Aliás, a questão dos relacionamentos, seja vista pelo lado da paixão à primeira vista ou pela ótica do rompimento, é um
dos temas recorrentes da bolacha. Ele se apaixona em "Cheia de Vida",
que tem rigorosamente todos os elementos sonoros mais típicos do CBJr, e
na esperta "A Mais Linda do Bar", que tem uma sonoridade maliciosa,
sacana, com um jeitão mais Cachorro Grande do que Charlie Brown Jr. -
mesmo com um interlúdio cantado em formato rap, como era característico
de Chorão. Ele se declara apaixonado por ela e pela vida em "Do Jeito
Que Eu Gosto, Do Jeito Que Eu Quero", ao afirmar que já passaram por
muitas coisas juntos e que vão superar, afinal "a vida é uma boca a
ser beijada, mas a vida só gosta de quem gosta de viver". Cheio de si,
ele diz que já superou o fim e encarna uma espécie de bossa nova moderna
(e raivosa) em "Hoje Sou Eu Que Não Mais Te Quero". Logo depois, em
"Vou Me Embriagar de Você", que tem um tempero acústico das bandas de
pop rock brasileiras dos anos 80, ele abre o peito e diz que está com
saudades e que quer voltar. E eis que, no final do disco, a sobriedade
toma conta com a toada triste do violão acústico de "Samba Triste", que
fala sobre as voltas que o mundo dá, para logo depois desembocar na
balada "Contrastes da Vida", que tem dois momentos bastante tocantes,
quando diz "mesmo os mais fortes às vezes não encontram uma saída" e lá frente completa com "quando tudo se torna previsível, não se espera mais da vida". Doeu, confesso. E olha que nunca fui fã nem do Chorão e nem de sua trupe, admito sem medo.
Apesar do clima soturno, no entanto, La
Familia 013 tem alguns momentos que indicariam traços de
experimentação sonora que, se o Charlie Brown Jr. resolvesse continuar
explorando em discos vindouros, pudessem resultar em bons frutos. Leia o
parágrafo anterior com atenção e veja que mencionei coisas como Cachorro Grande, bossa nova e rock BR dos anos 80. Percebeu? É pouco?
Mas tem mais. Basta ouvir "Camiseta Preta", cuja letra é uma típica
exaltação ao tal estilo "vida louca" do grupo e também uma homenagem ao
seu séquito fiel de fãs – mas preste atenção ao instrumental e ao solo
de guitarra. Se alguém disser que temos o Charlie Brown Jr. fazendo
heavy metal, acertou na mosca. E mandando bem, é preciso ressaltar. A
guitarra de "Rock Star" também tem seu momento de fúria e peso durante o
refrão, que faz ecos diretos com aquela banda ainda em seu disco de
estreia, aliás.
Em La
Familia 013, a persona das canções da banda ainda é um adolescente –
mas um adolescente enfrentando a difícil tarefa de amadurecer, de ter
que encarar as complicações de um relacionamento a dois, de uma vida
adulta que bate à sua porta. Esta é uma mudança que se reflete
claramente nas letras e no clima das músicas; mesmo os vocais de Chorão
estão menos gritados e mais sussurrados, quase falados, arrastados. Este
parece ser um disco mais maduro, uma evolução no trabalho do grupo, que
consegue manter lá a sua assinatura. Com as mortes de seus dois
principais integrantes e porta-vozes, tudo que resta é a dúvida: seria La Familia 013 uma indicação de que o Charlie
Brown Jr. poderia, de fato, romper as correntes que prendiam (e ainda
prendem, na esmagadora maioria dos casos) seus contemporâneos a uma
música fácil e óbvia feita apenas para deleite da "molecada"? Agora,
infelizmente, nunca saberemos. Pena.
Nota 8
Faixas:
1. Um Dia A Gente Se Encontra
2. Fina Arte
3. Cheia de Vida
4. Meu Novo Mundo
5. Do Jeito Que Eu Gosto, Do Jeito Que Eu Quero
6. Rock Star
7. Vem Ser Minha
8. Hoje Sou Eu Que Não Mais Te Quero
9. Camisa Preta
10. Vou Me Embriagar De Você
11. A Mais Linda do Bar
12. Samba Triste
13. Contrastes da Vida
2. Fina Arte
3. Cheia de Vida
4. Meu Novo Mundo
5. Do Jeito Que Eu Gosto, Do Jeito Que Eu Quero
6. Rock Star
7. Vem Ser Minha
8. Hoje Sou Eu Que Não Mais Te Quero
9. Camisa Preta
10. Vou Me Embriagar De Você
11. A Mais Linda do Bar
12. Samba Triste
13. Contrastes da Vida
Por Thiago Cardim
Caralho, isso é treta pura.
ResponderExcluirSó posso cumprimentar um ser humano que faz uma resenha do Charlie Brown, tido como música de playbou ou baixo clero do rock, e trazê-lo aqui pro CR.
Não curti o disco, mas ver essa resenha aqui FOI FODA. Meus cumprimentos!
Sou crítico pracarai nessa porra, mas também sei elogiar quando é preciso.
Fui!
Bela crítica.
ResponderExcluirNunca fui fã da banda, e continuo não sendo.
Não obstante, me sensibilizei com as mortes do Chorão e do Champignon.
Pra min o melhor disco ,sou fã da banda e esse trabalho veio pra fechar com chave de ouro com letras que impõe uma personalidade fortíssima,além de arranjos diferenciados ,trabalho com musica e me encantei com tanta arte em um disco só
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