Ronnie Von - Ronnie Von (1968)


Conheci o Eduardo através do excelente site Rate Your Music. Natural de Braga, em Portugal, e profundo conhecedor de música das mais variadas épocas e estilos, o que chama a atenção nos seus textos é o fato de ele vir de outra escola musical, ter um background diferente do nosso, que crescemos aqui no Brasil. Isso faz com que suas análises tragam sempre algo novo, um olhar diferente sobre aquilo que, muitas vezes, estamos tão acostumados a ver que já virou paisagem para nós. 

Por Eduardo F.
Colecionador
Georden

Será que mais alguém nota que os discos brasileiros dos anos 60 e 70 têm um som característico? Isso tem a ver com os estúdios, certamente. Não, não estou falando do conteúdo musical. Refiro-me ao som que se ouve nesses discos.

Ao ouvir este álbum fiquei fascinado com os arranjos, por vezes malucos, muito orquestrais, que chegam a lembrar aquelas incursões dos Beatles fase 1966/1967. Ouçam só a beleza de "Espelhos Quebrados", com aquela orquestra e aqueles violinos. Lembra um pouco a "Eleanor Rigby". Lindo!

Profundamente brasileiro, mas não tradicional, só com aqueles traços que tipicamente lhe associamos. Nas percussões, sobretudo. Mas também no órgão, que, para mim, pelo efeito de conjunto, me faz parecer que só poderia ter suas notas nascidas da cabeça de um músico do Brasil. Nos sopros, claro, e um pouco por todas as melodias deste disco, desta pérola perdida. Muito dançável, agradável, engraçado até. Como no spot publicitário com que inicia "Sílvia: 20 Horas, Domingo", ou na experiência de laboratório, enigmática, que é "Mil Novecentos e Além".

Acho que já é a segunda vez que ouço num disco brasileiro alguém telefonando e colocando essa ato na música. . O que vai ao encontro da minha idéia de este povo é muito sociável, com um forte componente humano.

Imagino como seriam os prédios nos anos 60, e me vêm à memória aquelas imagens em tom sépia e casas com uma vista para várias partes da cidade. E o futebol, se calhar sempre presente, no pequeno radinho de pilha pousado no muro das escadas, na entrada das casas. 

Sei lá, quando um disco nos põe a imaginar coisas acho que isso significa que gostamos dele.
Só uma última nota: aquele baixo elétrico espetacular, por exemplo na canção "Anarquia". Ou aquele piano barroco de "Esperança de Cantar".

Um disco para emparelhar com os outros, primeiro, da época e, depois, da proveniência. 

Faixas:
1. Meu Novo Cantar - 3:06
2. Chega de Tudo - 2:32
3. Espelhos Quebrados - 2:33
4. Sílvia: 20 Horas, Domingo - 3:26
5. Menina de Tranças - 2:34
6, Nada de Novo / Lábios que Beijei - 1:36
7. Esperança de Cantar - 3:29
8. Anarquia - 4:04
9. Mil Novecentos e Além - 3:05
10. Tristeza num Dia Alegre - 3:53
11. Contudo, Todavia - 1:58
12. Canto de Despedida - 2:22



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