Memória: Valhalla - Uma revista de música diferente, e que faz muita falta


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Houve um tempo em que o Brasil tinha três ótimas publicações mensais dedicadas à música pesada. Roadie Crew, Rock Brigade e Valhalla conviviam em harmonia nas bancas, atraindo novos leitores e apresentando-os ao fascinante universo do heavy metal. Mas os tempos mudaram e as coisas hoje são um pouquinho diferentes ...

Das três, apenas a Roadie Crew se manteve firme e forte, com matérias e, principalmente, entrevistas de altíssima qualidade, consolidando-se com o que o seu slogan já antecipava desde o seu surgimento: "a revista de heavy metal do Brasil". 

A Rock Brigade passou por uma turbulência braba no último ano, perdeu seus três principais redatores - Antônio Carlos Monteiro foi para a Roadie Crew, Fernando Souza Filho passou a cuidar apenas do site e da diagramação da revista e Ricardo Franzin sumiu do mapa -, e agora tenta dar a volta por cima com uma nova equipe repleta de tesão e atenta aos preciosos conselhos do meu amigo Bento Araújo, editor da Poeira Zine e jornalista responsável nessa nova fase da revista.


E a Valhalla ficou pelo caminho. Após uma breve associação com a alemã RockHard, a publicação comandada por Eliton Tomasi fechou as portas após 54 edições.

Dono de uma personalidade cativante, que agrega em um mesmo indivíduo a paixão pela música e a busca por valores espirituais que o tornem sempre uma pessoa melhor a cada dia, Eliton conseguiu fazer da Valhalla uma revista com a sua cara. Ao mesmo tempo em que o leitor tinha contato com textos a respeito do metal e suas vertentes, era brindado com reflexões de Tomasi e seus colaboradores pelas páginas da revista. Os editoriais escritos por Eliton Tomasi eram o maior exemplo disso, surpreendendo o leitor a cada nova edição e mostrando que a música é sim uma força espiritual, que pode, e faz, toda a diferença em nossas vidas.


Tive o prazer de fazer parte da equipe da Valhalla no seu último ano e pouco de vida. Lá resenhei discos, contei a história de algumas bandas clássicas, escrevi sobre alguns discos essenciais para a história do rock. Fiz isso ao lado de caras com muito mais talento do que eu, diga-se de passagem. Nomes como Vinícius Mariano, Rodrigo Helfenstein, Alexandre Bonassoli e inúmeros outros, além, é claro, do próprio Eliton.

O fim da Valhalla deixou órfãos seus fiéis leitores. Isso não é uma crítica a Roadie Crew e nem tão pouco a renascida Rock Brigade, muito pelo contrário. Admiro profundamente as duas publicações, e sua leitura é essencial para quem curte música pesada, mas acredito piamente que a Valhalla, além de dividir uma parcela do público com essas duas revistas, atraía um tipo diferente de fã para as suas páginas. Que leitor era esse?  Um cara que não queria apenas informações sobre música, mas que apreciava e dividia o mesmo modo de ver o mundo (e, consequentemente, de consumir música) de Eliton Tomasi, com um alto grau de espiritualidade na busca do entendimento da arte que tanto o cativa.


Essas pessoas agora poderão saciar um pouco a saudade da revista. Recebi um email do Eliton hoje pela manhã anunciando a criação de um site memória para a Valhalla. Nele estão disponíveis informações sobre todas as 54 edições da revista, e, o que é melhor, é possível comprar cada uma delas e receber direto em casa. Ou seja, para quem sente falta da Valhalla é uma ótima chance de completar a coleção, e para quem nunca teve contato com seus textos serve como convite e oportunidade para conhecer essa publicação que deixou um vazio e tanto no segmento de revistas especializadas em música no Brasil.

Está feito o convite. Acesse, navegue e ajude a manter viva a história desse sonho que por um breve momento chegou às bancas de todo o nosso país, e que sempre se manterá forte em nossos corações.


Comentários

  1. Cadão, não sou merecedor de tantas belas palavras - a revista no coletivo sim.
    Mas fico imensamente honrado e muito feliz pela lembrança e o seu carinho.
    Vc fez parte desse sonho, meu irmão!

    Infelizmente, como um dia disse o grande mestre do rock: The dream is over.

    Grande abraço

    Eliton Tomasi
    eliton@valhalla.com.br

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  2. Eliton, você merece. Seu trabalho é muito bom, e faz falta. Abração.

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  3. Pô Cadão falou tudo o que eu tinha pra falar a um tempão.Sou fanatico pela Vahalla,e achava umas dasmelhores revistas ,não só de Heavy ou música ,mas tabem comportamental como você disse em seu belo texto.
    Infelizmente só hoje,(dia12/03/2009) é que consegui ler seu texto, e torço muito pra que a Vahalla possa voltar, principalmente agora,pois parece que houve grandes mudanças nos editoriais da revistas especializadas.
    Grande Abraço

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  4. Valhalla foi a melhor revista de metal que acompanhei. Peguei o finalzinho da revista Metal vide um primo mais velho, Rock Brigade desde o início da década de 90, Revista Top Rock, Dynamo, alguns bons zines, Planet Metal, Metalhead, Revista Loud! portuguesa e talvez só Roadie Crew possa ser comparada.
    Gostaria de solicitar ao Eliton Tomasi caso isso fosse possível, uma última edição da Revista Valhalla com a listagem dos álbuns essenciais descritos na revista. Seria fantástico! Caso não seja possível, uma matéria sobre essa listagem. Desde já agradeço.
    Saúdo à todos da Whiplash e ao Eliton Tomassi em nome da Torcida Fla Metal.

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  5. Valhalla foi a melhor revista de metal que acompanhei. Peguei o finalzinho da revista Metal vide um primo mais velho, Rock Brigade desde o início da década de 90, Revista Top Rock, Dynamo, alguns bons zines, Planet Metal, Metalhead, Revista Loud! portuguesa e talvez só Roadie Crew possa ser comparada.
    Gostaria de solicitar ao Eliton Tomasi caso isso fosse possível, uma última edição da Revista Valhalla com a listagem dos álbuns essenciais descritos na revista. Seria fantástico! Caso não seja possível, uma matéria sobre essa listagem. Desde já agradeço.
    Saúdo à todos da Whiplash e ao Eliton Tomassi em nome da Torcida Fla Metal.

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