Big Gilson comemora carreira internacional com novo CD


Por Carlos Augusto
Colecionador

Com quinze anos de estrada, o guitarrista, cantor e compositor Big Gilson pode dizer hoje que é um artista internacional. Ele acaba de chegar de mais uma turnê pelo Canadá, a segunda de sua carreira, além de ter passado recentemente também pela Argentina e pelo Chile, quando foi promover o recém-lançado CD Sentenced to Living. O cuidado com repertório - todo em inglês -, produção e embalagem do álbum - o décimo-terceiro de sua carreira, incluindo o trabalho com a infelizmente extinta banda Big Allanbik - mostra a dedicação de Gilson para agradar ao público estrangeiro, sem deixar de privilegiar seus fãs nacionais.

O guitarrista argumenta que, em tempos de download digital, é cada vez mais necessário dar um motivo especial ao público para comprar um CD. “
Os ouvintes de blues em geral se interessam em comprar o disco. Por isso, procuro caprichar nos detalhes para dar vontade do cara ter o CD, não só piratear”, afirma o bluesman, que também oferece em seu site oficial músicas avulsas e álbuns inteiros para venda online.

Gilson acredita que a pirataria “faz parte do pacote”, embora seja uma atividade prejudicial. “
Como a maioria dos músicos independentes nunca ganhou grana vendendo discos, então para a gente não afeta tanto. Ganhamos dinheiro mesmo é com os shows, tentando fazer o máximo deles possível. Tem a questão também de que, se a pessoa pirateia, pelo menos está divulgando o trabalho. E muitas vezes acontece que os ouvintes baixam o CD, gostam e vão lá comprar. É quase como se fosse uma amostra grátis”, acredita.

E numa época em que a internet dita regras e tendências musicais e mercadológicas, Big Gilson apresenta em seu novo CD o que se pode classificar como um “trabalho globalizado”. Participam dele músicos da Espanha, Inglaterra, Canadá e do sul do Brasil. “
Neste CD me cerquei dos músicos que eu realmente queria. Cada um está no seu instrumento certo, ninguém está substituindo ninguém. A internet possibilitou isso. O cara grava em seu país de origem, te manda o arquivo via download, que não perde nada de qualidade. E grava quando pode, sem problemas de conciliar agendas e horas de estúdio".

Os temas por trás de
Sentenced to Living vieram da crença de que, num mundo cheio de problemas e injustiças, viver se tornou um fardo. “As letras e a sonoridade refletem a minha desilusão com tanta coisa ruim, como as guerras e o mundo em geral. Desde o momento em que nascemos estamos condenados a viver, por isso o nome do álbum”, explica. O novo disco traz covers inspiradas, como “I Wonder” de Rory Gallagher e “Yer Blues” dos Beatles, junto a composições próprias, como a que dá título ao trabalho.


E essa desilusão com o mundo atual não poderia ter uma capa melhor para ilustrar do que o próprio Gilson, aos seis meses de idade, segurando – como ele próprio brinca – seu primeiro cigarro. “Meu tio me deu esse cigarro e tirou a foto, que minha mãe aliás odeia. E ela odiou mais ainda quando descobriu que eu ia usar esta imagem como capa do CD”, diverte-se Gilson.

Apesar de músico de blues, gênero praticamente sinônimo de tristeza, Gilson está felicíssimo pelo momento pelo qual passa sua carreira. E ela inclusive foi abençoada recentemente com dois momentos marcantes. O primeiro, ocorrido na Inglaterra, quando encontrou a casa de Eric Clapton em Ripley, graças a trechos da autobiografia do músico, que Gilson já devorou três vezes, e dicas da internet. O segundo momento foi em Clarksdale, no Mississipi, quando diz ter vivido uma experiência mística e cósmica.

Clarksdale, que abriga o
Delta Blues Museum, é onde está localizada a famosa crossroad onde Robert Johnson supostamente fez seu pacto com o diabo em troca de talento. O local deste acontecimento – a mais famosa história do blues - seria a interseção das highways 61 e 49, onde Gilson fez questão de se sentar na sombra de uma árvore e tocar um blues com um violão dobro emprestado. “Eu vinha de Memphis, onde toquei em alguns shows, e seguiria para Dallas. Decidi passar uns dias em Clarksdale, pois tinha essa vontade de visitá-la há muitos anos”.

Outra experiência incrível para Gilson em Clarksdale foi tocar em uma autêntica
jook joint – os famosos locais de shows dos primeiros bluesmen. E tudo aconteceu por acaso. Gilson foi com seu empresário canadense assistir a uma apresentação no local, praticamente a única noitada da cidade num domingo. “Depois que entrei, me arrependi. Era tudo muito escuro, com luzes púrpuras, somente pessoas meio mal encaradas lá dentro. Depois percebi que havia outros turistas e relaxei. No show, os músicos eram extremamente bons. Meu empresário ficou botando pilha para eu me oferecer para uma canja e acabou indo lá ele mesmo sugerir. Por sorte, eu estava super inspirado e me aplaudiram de pé. Ia tocar apenas uma música, e acabei ficando por umas cinco. Estava em transe. Me senti fazendo parte daquele lugar. Foi uma experiência que mexeu muito com minha cabeça”, conta.

De espírito renovado, Big Gilson se prepara agora para divulgar o novo CD pelo Brasil afora até o final de maio, quando embarca novamente para a Inglaterra. “
Minha carreira é hoje toda voltada para o exterior”, diz, com orgulho, este que é o mais batalhador dos músicos de blues nacionais.

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