Cachorro Grande - Cinema (2009)


Por Iberê Borges
Colecionador e Jornalista

Cotação: ****

Se você não gosta de resgates ao rock, então provavelmente não se interessa por Cachorro Grande.

Se não se interessa por bandas que arriscam em todas as vertentes já exploradas do rock, desde as mais dançantes, às baladas, aos momentos mais psicodélicos, não se preocupando em ser exatamente original, você não deve gostar do Cachorro Grande.

Se não é compreensivo com letras em português, com temas diferenciados, que nem sempre exploram amores e, ainda por cima, que não são cantadas por alguém que pode ser considerado um exímio cantor, você não deve gostar mesmo de Cachorro Grande.

Agora, se está interessado pela música em sua essência, não se preocupando exatamente em que forma ou linguagem ela está sendo feita, mas se preocupando em que ela seja somente bem-feita, este é
Cinema, o quinto disco dos gaúchos do Cachorro Grande. E este é o melhor álbum deles.

Marcelo Gross prova, mais uma vez, que é o melhor compositor da banda. Mas Azambuja, Beto Bruno, Pedro Pelotas e Krieger não ficam pra trás. No todo, o álbum é bem homogêneo. Isso no quesito qualidade das composições, não há uma música que se destaca mais que a outra, mas no geral são todas realmente excelentes. As melhores já produzidas pelo quinteto gaúcho. Agora, quando o quesito é o estilo das composições, não há unidade.

Há unidade sim, por se tratar apenas de rock (ou rock'n'roll, como os próprios prefeririam), mas as vertentes trabalhadas são diversas. Brincam no hard rock. Tiram sarro numa onda mais dançante. Chegam a lembrar o novo trabalho do Oasis e o antigo Stone Roses, com momentos mais psicodélicos. Fazem baladas lindas e fortes, assim como foi com "Sinceramente". Criam riffs potentes e canções pra dançar, pular, gritar e apenas balançar a cabeça.

Em 12 faixas, produzidas novamente por Rafael Ramos, o Cachorro Grande decide revisitar tudo que já foi produzido em rock nas últimas décadas (inclusive na que estamos). E, como dito no primeiro parágrafo, isso pode ser o que te afastará do álbum e da banda. Uma pena pra você.

Acho infeliz o preconceito com o rock brasileiro que não possui verdadeiras influências nacionais. Realmente, o Cachorro Grande não parece possuir nenhuma influência direta de artistas e música brasileira (há quem fale de Mutantes, eu não vejo muito). Mas há uma certa resistência aos artistas brasileiros que não produzem músicas com identidade do país, e o Cachorro Grande não é a única banda a passar por isso. Bastou fazer canções sem referências ao samba, ou à bossa, com letras em português, que nego torce o nariz. Ou dizem parecer forçado, ou dizem ser cópia de alguma banda estrangeira.

No início da carreira, o Cachorro Grande temia ser comparado ao Strokes (diziam isso em seu próprio site), mas realmente não havia motivos para temer tal comparação. Mas o tempo passou e o que não faltou foram comparações ao Cachorro Grande. Felizmente, as comparações eram as reais influências da banda e a artistas admirados pelos mesmos. Mas quando dizem quem o som dos gaúchos é forçado, a barra é que é forçada. O Cachorro Grande produz rock, pois é isso que parecem viver. Todo o álbum, de cabo a rabo, é sincero. Agora, se você não gosta da banda por outros motivos, e não se trata de preconceito, esse sermão não é pra você.

Não há sermão pra quem consegue se encher de motivos para não gostar do Cachorro Grande mas, enquanto eu conseguir me encher de razões (e de orgulho) para admirar o trabalho feito por eles e achar que há algo excepcional o suficiente para vir até aqui e fazer um longo texto como esse, o farei.

Se você gosta de música, pode gostar e desgostar de diversas coisas. Mas se procura boa música, pode encontrar em
Cinema, o novo álbum do Cachorro Grande.


Faixas:
1. O Tempo Parou/Sabor a Mi
2. Dance agora
3. Amanhã
4. Por Onde Vou
5. A Alegria Voltou
6. A Hora do Brasil
7. Diga o que Você Quer Escutar
8. Ela disse
9. Ninguém mais Lembra de Você
10. Luz
11. Eileen
12. Pessoas Vazias

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