Castiga!: Phish, a história e o retorno dos herdeiros legítimos do Grateful Dead


Por Marco Antonio Gonçalves
Colecionador

Sou um bolha das antigas, não nego. A maior prova disso é que grande parte da minha coleção de LPs e CDs abrange artistas e agremiações dos anos 60 e 70. Mas nem por isso costumo desprezar as boas novidades musicais. Pegando essa trilha de bandas "novas", tem uma que eu adoro e, infelizmente, encerrou suas atividades em 2004: falo do pessoal do Phish. Com referenciais e influências de Frank Zappa, Grateful Dead, Allman Brothers e Sun Ra, este quarteto americano - formado em 1983 na Universidade de Vermont, em Burlington – seguiu a trincheira das jam bands, onde ao vivo o improviso e as longas passagens instrumentais eram algumas de suas características. Liderado pelo vocalista e guitarrista Trey Anastasio, o grupo iniciou suas atividades a partir da associação entre Jon Fishman (bateria e vocais), Mike Gordon (baixo e vocais) e Jeff Holdsworth (guitarras e vocais).

Em 1986, com a saída de Holdsworth e a entrada de Page McConnell (teclados e vocais), o Phish solidificou o seu line-up definitivo. Para alcançar a glória bastou então combinar algumas ações: quantidade intensa de shows, distribuição e venda de fitas demo para público e rádios e, mais adiante, extensa divulgação do trabalho da banda pela internet. Pronto: a popularidade do Phish se manifestou e, em pouco tempo, o grupo arrastava uma admirável legião de fãs, tornando-se precocemente um dos ícones do rock alternativo americano.


Originalidade, criatividade e técnica eram elementos que não faltavam ao quatro rapazes. Em cada disco do Phish podemos encontrar músicas dispersas em estilos diversos: rock, jazz, fusion, country, folk, southern, bluegrass, psicodelia, progressivo, pop, funk, enfim, um ensopadão sonoro dos bons. Álbuns como o duplo de estreia Junta (1988), Lawn Boy (1990), A Picture of Nectar (1992), Rift (1993) e Hoist (1994) são didáticos e indicados para entrar na onda dos caras. Outra boa pedida é a coletânea Stash, de 1996 (só lançada na Europa), que cobre o período 1988-1995 e inclui alguns clássicos da turma como "Don’t With Disease", "You Enjoy Myself", "Maze", "Split Open and Melt", "Stash" e "Gumbo".


Prolíferos, em 21 anos de estrada gravaram mais de cinquenta discos - metade deles de material ao vivo. Só entre 2001 e 2003 lançaram pelo menos 20 álbuns desses shows, alguns com três, quatro, seis CDs contendo músicas próprias e também uma infinidade de covers de artistas diversos. O material ao vivo é bom, mas é mais indicado para os fãs de carteirinha. Um que dá para recomendar de bate-pronto é o duplo A Live One, de 1995, que vem em edição caprichada contendo um livreto com várias fotos do show. O recheio sonoro também merece destaque: clássicos da banda embalados em jam sessions quilométricas, como mostram os 30 minutos da chapada "Tweezer". Vai raiar o dia …

Em 1995, com a morte do lendário Jerry Garcia (líder do Grateful Dead), a banda de Trey Anastasio acabou sendo adotada pelos deadheads (os fanáticos seguidores do Grateful Dead) que, devido às semelhanças artística e musical de ambas, passaram a adorá-los também. Com a audiência garantida, a química entre os músicos e o público se consolidava cada vez mais. Resultado: shows lotados e banda interagindo com a platéia através de recursos multimídia e cênicos (inclua aí trampolins, aspiradores de pó e hot dogs nas apresentações). Mas o barato era acompanhar as tradicionais e absurdas improvisações e extensões musicais da trupe. O mais incrível é que mesmo sem nenhuma música de sucesso nas paradas ou clip de sucesso na TV, o Phish se tornou objeto de culto não só por parte do público, como também da crítica especializada. Tanto que foi aclamada pela revista Rolling Stone como a banda mais importante dos anos noventa.


No início deste século começaram a surgir notícias dando conta que a banda estaria com seus dias contados. E, para desespero dos fãs, o fato se consumou em 2004, após o lançamento de
Undermind, último álbum de inéditas do quarteto. Trey Anastasio alegou na época que "é melhor dar fim ao Phish enquanto a banda ainda faz sucesso e é respeitada pelo público, ao invés de se tornar nostálgica". O derradeiro show da banda foi realizado em Nova York na noite de 17 de junho de 2004 e está registrado no CD triplo e no DVD duplo que levam o mesmo nome: Live in Brooklyn. O pacote foi lançado em 2006 e os DVDs mostram, além da performance matadora de despedida, imagens de bastidores, passagem de som e outras gulodices, tudo filmado por oito câmeras estrategicamente posicionadas.


Recentemente ouvi rumores de que eles poderiam estar voltando à ativa, e realmente estão, já que um novo álbum, chamado
Joy, chegará às lojas dia 08 de setembro.

Ainda falando em bandas novas, mais ou menos nessa linha do Phish, recomendo também os grupos Moe e o Widespread Panic.

Buenas, a dica está dada. Até!

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