Por Tiago Rolim
Colecionador
Collector´s Room
É engraçado como discos ao vivo hoje em dia são meros produtos de mercado. Antes eles eram definidores de carreiras. Talvez devido à banalização do DVD como muleta para uma indústria que dá seus derradeiros passos na história, os álbuns ao vivo foram perdendo a importância. No Brasil, a década de 1990 viu nascer dois discos ao vivo que podem, sim, ser chamados de definitivos para ambas as bandas, mas de maneiras diferentes.
Primeiro vamos aos fatos: ambos os grupos, no início da década de 1990, estavam passando por crises de criatividade, tendo lançados seus discos com menor vendagem e aceitação popular até então. Os Paralamas vinham da dupla Os Grãos, de 1991, e Severino, de 1994, ambos bons discos, onde a banda experimentou muito, mas não obteve os resultados esperados, além de ter passado por problemas internos meio graves na época de Os grãos. Mas vinha crescendo muito na América do Sul, especialmente na Argentina, onde Severino foi um grande sucesso, o que de certa forma amenizava a crise passada no Brasil.
É engraçado como discos ao vivo hoje em dia são meros produtos de mercado. Antes eles eram definidores de carreiras. Talvez devido à banalização do DVD como muleta para uma indústria que dá seus derradeiros passos na história, os álbuns ao vivo foram perdendo a importância. No Brasil, a década de 1990 viu nascer dois discos ao vivo que podem, sim, ser chamados de definitivos para ambas as bandas, mas de maneiras diferentes.
Primeiro vamos aos fatos: ambos os grupos, no início da década de 1990, estavam passando por crises de criatividade, tendo lançados seus discos com menor vendagem e aceitação popular até então. Os Paralamas vinham da dupla Os Grãos, de 1991, e Severino, de 1994, ambos bons discos, onde a banda experimentou muito, mas não obteve os resultados esperados, além de ter passado por problemas internos meio graves na época de Os grãos. Mas vinha crescendo muito na América do Sul, especialmente na Argentina, onde Severino foi um grande sucesso, o que de certa forma amenizava a crise passada no Brasil.
Mas, diferente do que normalmente acontece, como os Paralamas tinham uma grande reputação de banda ao vivo continuaram lotando shows aonde iam pelo Brasil, mesmo com os percalços da economia do início da década. Foi a partir desta observação que eles tiveram a ideia de registrar a turnê de um disco fracassado comercialmente falando.
E assim foi feito. Vâmo Batê Lata é um disco ao vivo onde se vê que o repertório dos álbuns acima citados funcionava muito bem nos shows e, além disso, viraram clássicos da banda, como "Vâmo Batê Lata", "Trac-Trac" e "Dos Margaridas". Mas o disco tinha mais: versões pesadas e mais energéticas para "O Beco", "A Novidade" e, especialmente, "Meu Erro" - com uma inserção magistral de "Soul Sacrifice", de Santana -, levantaram a moral da banda de tal forma que em entrevistas Herbert Vianna chegou a dizer que, em apenas um dia, Vâmo Batê Lata vendeu mais que o Severino em um mês inteiro. Além disso, ele vinha com um disco bônus com quatro músicas inéditas, que invariavelmente se tornaram clássicos, especialmente "Uma Brasileira" e "Luiz Inácio (300 Picaretas)".
E os Titãs? Bem, tal qual os Paralamas, eles também estavam passando por crises, com o agravante de não ter uma válvula de escape, como os Paralamas tinham na América do Sul. Seus discos Tudo ao Mesmo Tempo Agora e Titanomaquia, apesar de serem os mais pesados e extremos de sua longa carreira, foram duramente criticados, em especial o primeiro. Músicas como "Clitóris", "Já", "Isso para Mim é Perfume" e "Saia de Mim", de Tudo ao Mesmo Tempo Agora, foram odiadas pela crítica e por uma parcela dos fãs, aquela mais conservadora, e principalmente, consumidora, em tempos de bonança da indústria fonográfica.
E assim foi feito. Vâmo Batê Lata é um disco ao vivo onde se vê que o repertório dos álbuns acima citados funcionava muito bem nos shows e, além disso, viraram clássicos da banda, como "Vâmo Batê Lata", "Trac-Trac" e "Dos Margaridas". Mas o disco tinha mais: versões pesadas e mais energéticas para "O Beco", "A Novidade" e, especialmente, "Meu Erro" - com uma inserção magistral de "Soul Sacrifice", de Santana -, levantaram a moral da banda de tal forma que em entrevistas Herbert Vianna chegou a dizer que, em apenas um dia, Vâmo Batê Lata vendeu mais que o Severino em um mês inteiro. Além disso, ele vinha com um disco bônus com quatro músicas inéditas, que invariavelmente se tornaram clássicos, especialmente "Uma Brasileira" e "Luiz Inácio (300 Picaretas)".
E os Titãs? Bem, tal qual os Paralamas, eles também estavam passando por crises, com o agravante de não ter uma válvula de escape, como os Paralamas tinham na América do Sul. Seus discos Tudo ao Mesmo Tempo Agora e Titanomaquia, apesar de serem os mais pesados e extremos de sua longa carreira, foram duramente criticados, em especial o primeiro. Músicas como "Clitóris", "Já", "Isso para Mim é Perfume" e "Saia de Mim", de Tudo ao Mesmo Tempo Agora, foram odiadas pela crítica e por uma parcela dos fãs, aquela mais conservadora, e principalmente, consumidora, em tempos de bonança da indústria fonográfica.
Depois veio o já citado Titanomaquia, que teve o agravante da saída de Arnaldo Antunes, o que fez as expectativas serem muito negativas. Mas o disco foi bem, com alguns bons hits, como "Será que é Disso que eu Necessito", "Hereditário" e "Disneylândia" e sua letra surrealista. Diferente dos Paralamas, o Titãs lançou mais um disco de estúdio, o ignorado Domingo, e aí sim, depois de ver seu público minguar em shows e migrar para bandas novas como Raimundos, partiu para o disco ao vivo.
O Acústico MTV dos Titãs foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, o que foi de certa forma esperado, pois com o aval da emissora e da gravadora tinha tudo para dar certo mesmo. Versões desplugadas de clássicos como "32 Dentes", "Comida" e "Diversão", além da participação de Marisa Monte em "Flores", foram muito bem aceitas pelo público.
Mas é a partir daí que as histórias das duas bandas tomam caminhos diferentes. Pois os dois discos serviram, mesmo que esta não fosse a intenção, devido ao estrondoso sucesso alcançado, para apresentar os dois grupos à toda uma nova geração, que era muito nova para lembrar de um tempo aonde "Selvagem" e "Polícia" eram hits de duas bandas novas e com reputação de serem as maiores revelações do rock nacional.
Pois enquanto o Vâmo Batê Lata mostrou uma banda de palco, com energia e vigor suficientes para encantar uma molecada que estava chegando no jogo, e com isso se mostrar renovada ao ponto do lançamento seguinte ser o melhor disco deles na década de 1990, Nove Luas, recheado de hits como "Busca Vida", "Lourinha Bombril (Parate y Mira)" e "La Bella Luna", o Acústico mostrou um grupo que em nada lembrava os Titãs da década de 1980. Tanto que depois dele a pressão foi tamanha que os Titãs vieram com o Volume Dois com mais uma dose de "delicadeza", que tanto agradou aos fãs. Depois foi uma descida de ladeira que é difícil encontrar semelhante na história da música brasileira: As 10 Mais. É difícil encontrar alguém que ao menos fale bem deste disco, que dirá dizer alguém que goste. Faça este teste, leitor.
Daí voltamos ao início deste texto: discos ao vivo podem, sim, redefinir carreiras. Temos exemplos em todo o mundo, e não só no rock. A despeito da tragédia que se abateu com os Paralamas do Sucesso, eles são a única banda dos anos oitenta que está na ativa com relevância e lançando discos, que se não estão à altura dos antigos, são dignos e respeitados, como, por exemplo, o mais recente Brasil Afora, que tem ao menos três hits prontos para encantar quem se interessar em ouvir o play, pois com a morte da indústria, com certeza no rádio é que não vão ser escutados.
Já os Titãs, infelizmente, hoje de semelhante com aquela banda que escandalizou o Brasil com Cabeça Dinossauro só restou o nome, por que discos como o recente Sacos Plásticos e o sintomaticamente chamado A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana não honram o bom nome que este grupo já teve um dia.
O Acústico MTV dos Titãs foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, o que foi de certa forma esperado, pois com o aval da emissora e da gravadora tinha tudo para dar certo mesmo. Versões desplugadas de clássicos como "32 Dentes", "Comida" e "Diversão", além da participação de Marisa Monte em "Flores", foram muito bem aceitas pelo público.
Mas é a partir daí que as histórias das duas bandas tomam caminhos diferentes. Pois os dois discos serviram, mesmo que esta não fosse a intenção, devido ao estrondoso sucesso alcançado, para apresentar os dois grupos à toda uma nova geração, que era muito nova para lembrar de um tempo aonde "Selvagem" e "Polícia" eram hits de duas bandas novas e com reputação de serem as maiores revelações do rock nacional.
Pois enquanto o Vâmo Batê Lata mostrou uma banda de palco, com energia e vigor suficientes para encantar uma molecada que estava chegando no jogo, e com isso se mostrar renovada ao ponto do lançamento seguinte ser o melhor disco deles na década de 1990, Nove Luas, recheado de hits como "Busca Vida", "Lourinha Bombril (Parate y Mira)" e "La Bella Luna", o Acústico mostrou um grupo que em nada lembrava os Titãs da década de 1980. Tanto que depois dele a pressão foi tamanha que os Titãs vieram com o Volume Dois com mais uma dose de "delicadeza", que tanto agradou aos fãs. Depois foi uma descida de ladeira que é difícil encontrar semelhante na história da música brasileira: As 10 Mais. É difícil encontrar alguém que ao menos fale bem deste disco, que dirá dizer alguém que goste. Faça este teste, leitor.
Daí voltamos ao início deste texto: discos ao vivo podem, sim, redefinir carreiras. Temos exemplos em todo o mundo, e não só no rock. A despeito da tragédia que se abateu com os Paralamas do Sucesso, eles são a única banda dos anos oitenta que está na ativa com relevância e lançando discos, que se não estão à altura dos antigos, são dignos e respeitados, como, por exemplo, o mais recente Brasil Afora, que tem ao menos três hits prontos para encantar quem se interessar em ouvir o play, pois com a morte da indústria, com certeza no rádio é que não vão ser escutados.
Já os Titãs, infelizmente, hoje de semelhante com aquela banda que escandalizou o Brasil com Cabeça Dinossauro só restou o nome, por que discos como o recente Sacos Plásticos e o sintomaticamente chamado A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana não honram o bom nome que este grupo já teve um dia.
Muito bom, também tive essa sensação sobre os titãs. É umapena que a decadencia tenha atingido a banda. Faltou citar o encontro dos mesmos no Hollywood Rock, ali foi a chave para a evolução dos paralamase a decadencia dos titãs. Parabéns
ResponderExcluirFui muito fã das duas bandas nos anos 80, um pouco menos nos 90 e hoje em dia posso me considerar um "escutador" das duas, sem muitas emoções... Sobre os Paralamas, mesmo com a tragédia pela qual o grupo passou continuaram mostrando força, qualidade e "raça" para continuar na estrada. Já os Titãs... a última coisa "audível" que eles fizeram de novo foram alguns (poucos) trechos do "Domingo", e, embora eu considere que o "Titanomaquia" só perde em qualidade para o insuperável "Cabeça Dinossauro", a "grana" falou mais alto, a banda abandonou aquela direção, voltou ao "mercadão popular" e, principalmente depois da saída de Nando Reis, não soube mais encontrar um rumo que os levasse a compor músicas com a qualidade que tinham no passado. Curioso (ou não) é o fato da carreira solo de Nando Reis estar cheias de "hits" (pop songs, eu sei, mas quem nunca cantarolou um bom popzinho descartável chicletudo?)... seria ele o mentor por trás da qualidade da banda? Eu não creio nisso... acredito que os Paralamas resolveram assumir o rótulo de "banda de rock brasileiro com pitadas latinas" (que é o que fazem desde a década de 80), e seguiram em frente nesse rumo seguro, enquanto os Titãs resolveram entrar numa de "Tiozões rebeldes", ficando tão ridículos quanto os mesmos, e, para não ficarem de vez sem grana, de vez em quando compõem umas baladinhas para as novelas da globo... Para mim, infelizmente isso são os Titãs hoje: um grupo de senhores acomodados querendo ser jovens rebeldes e que compõem baladinhas açucaradas para trilhas de novelas... que decadência...
ResponderExcluirValeu Micael e Mairon, é bom ver as ideias sendo debatidas e argumentadas. Tive a ideia do texto, vendo o DVD recente das duas bandas juntas. Triste, para ser ao menos educado. Parece mais um favor dos Paralamas do que um real encontro das bandas. Para ouvir duas bandas juntas mandando ver recomendo o ao vivo das mesmas bandas, que foi lançado em 1999 pela marca de modess!!!! SempreLivre!!!! Ai sim ão duas bandas nos cascos botando p quebrar. 10 anos fazem diferença...
ResponderExcluirEu tenho esse CD que você cita... lembro que pedi para a minha irmã comprar, e ela disse: "mas eu usso absorvente de outra marca", e eu "mas eu quero só o cd, só que fica chato eu lá comprando absorvente, né?"... hehehehe.... é realmente muito melhor que o recente...
ResponderExcluirEu fui no show da turnê de 99 em Porto Alegre... um arraso...
O DVD recente que você cita eu tenho também... mas as duas bandas me pareceram burocráticas no palco, mas acredito que tenha sido "orientação" do pessoal da TV, sei lá...
Mas o fato é que os Paralamas estão levando a bola adiante, já os Titãs...
Não tenho nenhum disco do Paralamas, não sou fã, mas escuto sem problemas suas músicas. Dos Titãs gosto muito dos anos 80 até o Titanomaquia. Fiquei com desprezo pela banda depois do que fizeram com o Acustico. O disco em si não é ruim, pelo contrário, mas esse disco mexeu com a cabeça deles. Afinal eles não cnseguiram se decidir se queriam fazer rock, música romântia, MPB...Tá certo que muita gente usa todos elementos desses estilos e acabam tendo sucesso, mas no Titãs vejo isso como algo que desuniu a banda e terminou por acabar com ela. Digo acabar porque não posso levar em consideração o que eles fazem hoje.
ResponderExcluirDuas das bandas mais importantes dos anos 80.'Fincaram' mesmo assim seus legados no rock brasileiro. Micael ilustrou bem o que se passa com o Titãs, principalmente...
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