O culto ao vinil e a volta triunfante da Polysom


Por Jaisson Limeira
Revisão de Ricardo Seelig
Colecionador
Collector´s Room

Com o crescente aumento das vendas de discos de vinil, que só em 2009 aumentaram cerca de 35% em relação a 2008, totalizando mais de 2 milhões e meio de unidades, os colecionadores receberam uma grande noticia, ao saberem que a Polysom, única fábrica LPs do Brasil, reabriria suas portas em 2010.

Com o lançamento do CD, que começou a ser comercializado em 1982 mas não obteve um sucesso imediato na época - sucesso esse que só foi alcançado a partir do final da década de 80 e começo da década de 90 -, gradualmente a venda de LPs foi diminuindo, principalmente pelo fato de os disquinhos tocados a laser possuírem teoricamente uma qualidade de som superior à do vinil, com inexistência de chiados, além da maior capacidade, podendo abrigar mais músicas, tornando o CD uma febre entre os colecionadores. Muitos consideraram que a partir dali os discos de vinil se tornariam um item obsoleto, interessante apenas para colecionadores saudosistas e fiéis aos bolachões.

Claro que a transação não foi nada fácil para o vinil. Durante muito tempo os LPs foram quase que esquecidos nas prateleiras, entrando assim em um período de decadência bastante longo. No Brasil, os grandes artistas ainda gravaram suas músicas em LP até 1997, ano a partir do qual tornou-se cada vez mais difícil encontrar LPs no mercado de varejo nacional - com exceção, é claro, aos bons e velhos sebos, onde os LPs nunca deixaram de marcar ponto.

Em 1999, mais exatamente em 1° de maio, em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, entrava em funcionamento a Polysom, que era um sonho do grande Nilton Rocha, um dos maiores conhecedores da nobre arte de fabricar LPs aqui no Brasil. A abertura da fábrica coincidiu com o abandono dos vinis pelo mercado nacional, o que tornou mais fácil a aquisição de novas máquinas e equipamentos, já que as grandes fábricas do passado, como Polygram e Continental, fechavam as portas de vez e se dedicavam exclusivamente ao CD.

Durante muito tempo a Polysom teve uma grande demanda de encomenda por conta de gravadoras independentes e pequenos selos, principalmente quando se tornou a única fábrica ativa na América Latina. Umas das indústrias que mais movimentava o caixa da empresa era a das igrejas evangélicas, mas isso não era suficiente para manter a fábrica a pleno vapor. A partir de novembro de 2007, com muitos problemas, entre eles a saída de muitos técnicos que influíam diretamente na qualidade dos vinis prensados, além do cancelamento de pedidos, acúmulo de dívidas e falta de perspectivas futuras, muitos audiófilos ficaram a ver navios com o fechamento da única fábrica ativa de fabricação de LPs em toda a América do Sul.

Em 2008, com o notório crescimento da demanda de vinis, que já ultrapassava a quantia de um milhão de novecentas mim cópias por ano, os proprietários da gravadora Deckdisc viram a possibilidade de adquirir o antigo maquinário e reativar a fábrica da Polysom, extinta desde 2007. O negocio só foi se concretizar em abril de 2009. Depois disso, foi feita uma operação de guerra para recuperação daquela que seria a única fabrica ativa da América Latina. Primeiro se fez uma grande reforma no prédio que abrigava a fábrica, que estava com sua estrutura comprometida devido ao abandono. Ao mesmo tempo, todas as máquinas (prensas, compressores, motores ) foramtotalmente restauradas e remontadas, ficando com aspecto de novas. Foram mais de sete meses de trabalho árduo, com muitas pesquisas, para que o vinil produzido pela nova encarnação da Polysom fosse da melhor qualidade possível.

Em novembro de 2009 iniciaram-se os primeiros testes de qualidade das prensagem da revitalizada Polysom, e o que se constatou foi que a qualidade dos vinis prensados era compatível à qualidade da fábrica norte americana Bill Smith Inc., que lidera o mercado norte-americano quando o assunto é a qualidade sonora dos discos.

Na visão dos donos da Deckdisc, há três tipos de perfis interessados na fabricação do vinil: um público ativo, que fala e briga pelo vinil com ardor; um público que não se manifesta ainda por causa da falta de oferta; e um contingente jovem que está conhecendo, ou vai conhecer, o formato e se apaixonar, o qual eles consideram um mercado muito promissor.

É com base essas perspectivas que a Polysom inicialmente produzirá LPs de 130 e 160 gramas, em que a variação na gramatura não influi em nada na qualidade, uma vez que a profundidade e a largura dos sulcos serão sempre as mesmas, mas em breve a fábrica poderá até ter a fabricação dos desejados LPs de 180 gramas, que são os mais venerados pelos audiófilos.

No começo de fevereiro a Polysom começará a distribuição de LPs no mercado nacional, com alguns lançamentos de artistas como Pitty e Cachorro Grande. Acompanhe a pequena entrevista que Rafael Ramos, da Polysom, concedeu a Daniel Vaughan, do site Viva o Vinil!, da MTV.

Viva o Vinil! – Quais serão os primeiros vinis lançados pela Polysom?

Rafa Ramos – Serão quatro títulos da Deckdisc: Cachorro Grande (Cinema), Pitty (Chiaroscuro), Nação Zumbi (Fome de Tudo) e Fernanda Takai (Onde Brilhem os Olhos Seus). Eles serão lançados no início de fevereiro.

O que eles trazem de diferente do CD?

São edições chiquérrimas, até porque a gente sabe que quem gosta de vinil gosta de qualidade, de um encarte bonito e tal. O encarte do vinil da Cachorro Grande é maravilhoso! É um livro.

E quais são as primeiras encomendas?

Desde dezembro de 2009 a Polysom tem recebido vários pedidos. Por exemplo, muitos títulos de várias gravadoras grandes, como EMI, Universal e Sony. Os independentes também, como é o caso do Tor (cantor da banda punk Zumbis do Espaço e que tem um trabalho solo de country). E tem muita gente fazendo orçamento.

Tem alguma encomenda de fora do Brasil?

Sim, por enquanto, da Argentina e Chile. DJs e bandas.

Vocês têm mais algum projeto em vista?

A Deckdisc está encubando um selo, ainda sem nome, que irá lançar compactos de bandas novas. Quero lançar singles em vinil e para download. E o primeiro lançamento será um split com músicas inéditas do Mukeka di Rato e Dead Fish. Tudo indica que teremos isso em março ou maio desse ano.


Comentários

  1. Sensacional essa notícia. Creio que a tecnologia (MP3, por exemplo) contribuiu para a difusão da música e a facilidade de ouví-la, mas de certa forma fez também com que a geração atual não valorizasse a magia de se pegar um trabalho na mão, saborear o encarte, as letras, as fotos, enquanto se ouve a música. Já achava tudo isso demais no CD (sou da geração que começou a consumir música com essa mídia), Quando comecei a garimpar sebos atrás de clássicos do rock vi que esse envolvimento é mais intenso ainda.
    Abraços

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  2. A notícia é boa, mas começar com Pitty é dose!

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  3. Ainda vamos dominar o mundo de novo. VIVA O VINIL!!!Tomara que relancem o material do Los Hermanos e da Maria Rita

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  4. Acho muito legal, esse novo Play da pitty é muito legal de ouvir.. Em breve surgirá novos lançamentos !! tomara que a procura só aumente !!! e Viva o Vinil !!

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  5. Dá olhada nesse Video, foi a primeira TV a entrar nas novas instalações http://www.youtube.com/watch?v=5dYDrJXv-Ls

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  6. Nem sei o valor, mas garanto que o problema vai ser o valor que vão cobrar pelos vinis... depois vendem pouco e dizem que vinil não tem mercado no Brasil, que nem quando uma gravadora (não lembro qual) lançou a coleção "meu primeiro disco" com Engenheiros do Hawaii, Nação Zumbi e outros grupos por uma fortuna e meia cada...

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  7. Tomara que saiam LPs antigos de bandas nacionais e internacionais. Sou louco por um monte de vinis que nao consigo achar ou quando acho sao muito caros. Ainda bem que voltou a fabrica!!! Fiquei triste quando a fabrica tinha fechado. Tomara que tudo de certo agora

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  8. Ah é! E parabéns ai Jaisson pelo post, muito bom =)

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