Triptykon, a volta em grande estilo de Tom Warrior


Por Fabiano Cruz
Colecionador

Em qualquer estilo musical temos o que chamamos de gênios. Compositores e músicos que pensam à frente de seu tempo, que não se prendam a rótulos. Artistas que pegam uma forma musical e a distorcem de maneira magnificamente brilhante, sem perder suas raízes. Beethoven no erudito, Miles Davis no jazz e Yes no rock progressivo são claros exemplos.

No black metal podemos citar Thomas Gabriel Fischer, mais conhecido como Tom Warrior, como exemplo. Sempre à frente, seja no começo de carreira com o visceral Hellhammer, seja no multifacetado Celtic Frost, seu pensamento musical caótico sempre esteve presente em seus trabalhos. E no Triptykon, sua nova banda, não seria diferente. Acompanhado de V. Santura na guitarra, Norman Lonhard na bateria e percussão e Vanja Slajh no baixo, Warrior cometeu em Eparistera Daimones (traduzido do grego: "demônios à esquerda"), o debut do Triptykon, mais uma obra-prima em sua carreira, e também na história do heavy metal.

A capa do disco, cortesia do lendário H.R. Giger

É impossível destacar alguma faixa. O álbum soa homônimo do começo ao fim. A ousada abertura de onze minutos com "Goetia" mostra o que escutaremos pelo disco todo: um som pesado, arrastado, distorcido, cheio de complexidades sonoras que deixa qualquer um intrigado. "Abyss Within My Soul" parece deslocar tempo e espaço de quem a está escutando – pouquíssimas vezes me senti assim ouvindo um trabalho de heavy metal – devido ao perfeito trabalho de baixo e bateria, integrado aos riffs e voz mórbidos.

A estreia do Triptykon pode ser considerada uma evolução natural após Monotheist, último disco do Celtic Frost. Isso fica claro em "In Shrouds Decayed", canção que caberia perfeitamente em Monotheist. A estranha e demoníaca vinheta "Shrine" abre espaço para a pancadaria de "A Thousand Lies", lembrando os tempos de Warrior no Hellhammer – mas muito mais trabalhada na harmonia e nos timbres.

Only Death is Real, livro que conta a história do Hellhammer e do Celtic Frost

"Descendant" é um black metal arrastado e sombrio. Os timbres e distorções nas guitarras vão além de tudo que o heavy metal já viu. "Myopic Empire" é a mais progressiva de todas. O começo meio gótico abre espaço para sons calcados em um piano no meio da faixa – com uma linguagem musical parecida com o período romântico da música erudita -, como se preparasse nossos ouvidos para a calma e belíssima "My Pain", um tema totalmente gótico com uma bela voz feminina que destoa do restante do álbum.

E o disco fecha nos quase vinte minutos de "The Prolonging", uma mórbida viagem musical dentro do universo sonoro caótico que é o Triptykon - tudo suporte para as letras de um teor macabro e enigmático altíssimo.

O Triptykon ao vivo

É impossível aqui rotular o que seria a banda. Black, doom, gothic, death, prog, tudo num mesmo caldeirão. Isso mostra a importância – nem sempre falada – de Tom Warrior para o heavy metal.

Tudo integrado à magnífica arte do disco. A capa é do excelente pintor H.R. Giger - que já trabalhou com Warrior em To Mega Therion, clássico lançado pelo Celtic Frost em 1985 e recebeu o Oscar pelo visual que criou para o filme Alien: O Oitavo Passageiro -, um impressionante quadro atemporal e ao mesmo tempo futurista chamado Vlad Tepes. O encarte ficou a cargo do artista plástico Vincent Castiglia, que pintou retratos dos integrantes como se os tivesse feito com sangue. Lindo e ao mesmo tempo aterrorizante.

Reunindo tudo, posso afirmar com a maior certeza que esse trabalho figurará entre os melhores do ano, e quiçá um dos mais importantes da história do heavy metal - se isso não acontecer, será uma das maiores injustiças que a história do metal já impôs.

Tom Warrior aponta para o futuro do heavy metal com o Triptykon

Faixas:

1 Goetia 11:00
2 Abyss Within My Soul 9:26
3 In Shrouds Decayed 6:55
4 Shrine 1:43
5 A Thousand Lies 5:28
6 Descendant 7:41
7 Myopic Empire 5:47
8 My Pain 5:19
9 The Prolonging 19:22

Comentários

  1. Sou suspeitíssimo pra falar, mas muito pertinente a citação à nova empreitada de Tom Warrior, o Triptykon. Enquanto alguns precisam eternamente se repetir ou reviver as glórias passadas para satisfazer tanto seus fãs quanto seu próprio desejo, Tomas Gabriel Fischer trabalha sua arte com muito mais coragem e aponta novos rumos. O novo disco, "Eparistera Daimones", é não menos que imperdível. Uma obra para se juntar a "To Mega Therion" e "Into the Pandemonium", ambos do Celtic Frost.

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  2. Quando se fala do disco soando "homônimo" será que o autor ñ quis dizer "homogêneo"?

    Apenas pinçando pêlo em ovo, nenhum desmerecimento ao autor ou à ótima resenha.

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