Minha Coleção: Cezar 'Dudy' Duarte: "Não consigo me limitar a um só estilo de rock"!


Por Ricardo Seelig

Essa edição do Minha Coleção traz um agradável papo com Cezar 'Dudy' Duarte, colecionador gaúcho dono de um acervo respeitável, onde o principal destaque é o rock inglês, tanto dos anos 1960 quanto da década de 90. Além disso, Dudy nos contou como é ser um colecionador em uma cidade que, infelizmente, não possui, hoje em dia, nenhuma loja de discos.

Acomode-se na cadeira e boa leitura!

Dudy, em primeiro lugar, apresente-se aos nossos leitores: quem você é e o que você faz?

Meu nome verdadeiro é Cezar Augusto Raymundi Duarte, vulgo Dudy, ideia do meu pai. Tenho 47 anos e resido em Passo Fundo (RS). Sou formado em Letras pela Faplan-Anhanguera e atuo como professor de inglês há 19 anos na escola Fisk.

Qual foi o seu primeiro disco? Como você o conseguiu, e que idade você tinha? Você ainda tem esse álbum na sua coleção?

Meu primeiro LP adquirido foi Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, comprado de um amigo. Isso foi, acredito, em 1980, quando tinha 17 anos. Não tenho mais o disco porque, mais tarde, eu comprei um novo em Porto Alegre e negociei o antigo.

Você lembra o que sentiu ao adquirir o seu primeiro LP?

Foi uma emoção única! É como uma criança que consegue o brinquedo tão desejado. A diferença é que se quer ficar com esse “brinquedo” pelo resto da vida.

Porque você começou a colecionar discos, e com que idade você iniciou a sua coleção? Teve algum momento, algum fato na sua vida, que marcou essa mudança de ouvinte normal de música para um colecionador?

A partir do momento que obtive meu primeiro disco aos, o gosto pela música foi crescendo naturalmente. Daí comecei a comprar LPs dos Beatles, Paul McCartney e Rolling Stones. Com o passar do tempo, passei a me interessar por outras bandas/artistas e, obviamente, adquirir o respectivo material fonográfico. O fato de ter comprado o primeiro aparelho de som no final dos anos 70 foi decisivo para ir atrás dos discos.


Alguém da sua família, ou um amigo, o influenciou para que você se transformasse em um colecionador?

Duas pessoas me iniciaram na vida de colecionador. Meu saudoso amigo Régis, fã ardoroso dos Rolling Stones, e o Ricardo Tibbits, fanático pelos Beatles. Não consegui ficar imune à paixão deles pelas respectivas bandas e, logo, quis ter o meu próprio material também.

Inicialmente, qual era o seu interesse pela música? De que gêneros você curtia? O que o atraía na música?

Antes de entrar de cabeça, ou melhor, de corpo inteiro no rock and roll, na minha adolescência cheguei a curtir o chamado som discoteca, com o seu auge atingido através do filme e trilha sonora Embalos de Sábado à Noite. Mas não a ponto de querer comprar discos do gênero. Apenas curtia quando eu ia a boates e reuniões dançantes. Principalmente o ritmo, a melodia, me faziam gostar de uma música.

Uma coisa curiosa é que eu já fui bem fã do Ivan Lins, mas não lembro bem como isso aconteceu. Acho que foi através de um tio meu, que tinha uma fita cassete dele e me deu. Não tenho certeza.

Quantos discos você tem?

Vinil, acho que tenho quase 400. CDs, em torno de 700.

Qual gênero musical domina a sua coleção? E, atualmente, que estilo é o seu preferido? Essa preferência variou ao longo dos anos, ou sempre permaneceu a mesma?

Sem dúvida, o rock predomina na minha coleção. Comecei com o chamado rock clássico, Beatles, Rolling Stones. Nos anos 80 comprei muito do novo rock nacional, Barão Vermelho (minha banda nacional preferida), Legião Urbana, Camisa de Vênus, Ira, TNT, Replicantes, Titãs e assim por diante. Na mesma época, entraram na minha coleção bandas internacionais como U2, The Cure, Van Halen (assisti ao show em 1983 em Porto Alegre) e outras. Dos anos 90 pra frente, meu interesse pelo rock mais antigo e tradicional se aprofundou. Ao mesmo tempo, bandas do movimento batizado de Brit Pop me conquistaram completamente, em especial Oasis, Supergrass e Blur.

Não consigo me limitar a um só estilo de rock. Às vezes dá vontade de curtir algo bem antigo como Jerry Lee Lewis, em outro momento você quer ouvir um rock nacional, depois um blues e assim segue. Acabo ficando atento a tudo que gira em torno do rock, independente da época. Confiro e, depois, decido o que vale a pena somar na minha coleção. Ah: quero registrar que também gosto muito de blues e rockabilly!


Vinil ou CD? Quais os pontos fortes de cada formato, para você?

O vinil tem a vantagem de destacar melhor a arte gráfica, por sua dimensão. O som, muitas vezes, é mais fiel que o CD. O CD é bom pela praticidade. Tem espaço pra mais músicas, e como atualmente é muito difícil encontrar certos títulos em vinil, e mesmo quando se encontra, seja pela internet ou em
alguma loja, não raras vezes o preço é bem alto, o CD acaba sendo a saída para não se ficar sem um registro do produto desejado.

Existe algum instrumento musical específico que o atrai quando você ouve música?

A guitarra me atrai em primeiro lugar. Pra mim ela é o instrumento musical símbolo do rock. Além da guitarra, gosto muito do piano estilo boogie woogie.

Qual foi o lugar mais estranho onde você comprou discos?

Não lembro especificamente. Quando morei em Porto Alegre nos anos 80, eu frequentava bastante as lojas de discos usados e importados, e me surpreendia por encontrar algo que eu queria muito em algumas delas, cujos acervos não eram tão bons. Quando menos se esperava, justamente o disco que eu estava procurando estava lá. Era uma grata surpresa!

Qual foi a melhor loja de discos que você já conheceu?

A Stoned Discos e A Boca do Disco, ambas em Porto Alegre. Conheci a Virgin Records em Nova York nos anos 90, mas não tinha mais LPs, só CDs numa quantidade absurda.

Conte-me uma história triste na sua vida de colecionador.

Em 1994 perdi a oportunidade de comprar o disco do Eric Clapton, From the Cradle, em vinil, aqui em Passo Fundo. Quando cheguei na loja para levá-lo, o disco já tinha sido vendido, só tinha aquele! Só sei que nunca mais tive uma oportunidade semelhante de consegui-lo em vinil. Tive que me contentar com o CD.

Como você organiza a sua coleção? Dê uma dica útil de como guardar a coleção para os nossos leitores.

Organizo por ordem alfabética e de lançamento. Procuro deixá-los em locais estratégicos - por exemplo: discos de rockabilly um perto do outro, discos de blues em um local que sei que ali só tem álbuns desse gênero, e dessa maneira vou fazendo com outros estilos. Não é fácil, pois o espaço acaba sendo o grande empecilho para a organização.

Além da música, que outros fatores o atraem em um disco?

Seu valor histórico, a arte gráfica e o encarte contribuem para que um determinado disco seja mais valorizado. Mas é claro, a qualidade musical está acima disso tudo.


Quais são os itens mais raros da sua coleção?

Em vinil eu citaria o disco que o Paul McCartney lançou, primeiramente só no mercado russo, chamado Choba B CCCP, em 1988. Também tenho o compacto dos Replicantes lançado em 1985, com as gravações originais de “Surfista Calhorda”, “O Futuro é Vortex”, “Nicotina” e a inédita “Rock Star”.

O LP duplo Concert For Kampuchea é outro item que considero raro. O disco foi lançado em 1980. Tenho a edição nacional do A Hard Day’s Night dos Beatles, que no Brasil saiu com o título Os Reis do Iê Iê Iê.

Você tem ciúmes da sua coleção?

Um pouco. Acho que todo aquele que se considera um verdadeiro colecionador procura cuidar bem do que possui, porque sabe que certos objetos, no caso os discos, não são fáceis de serem readquiridos caso aconteça uma fatalidade - ou seja, perder, danificar. Portanto, é melhor que você mesmo fique tomando conta. Pra deixar na mão de outra pessoa você precisa ter inteira confiança que ela vai cuidar do mesmo modo que você faz.

Quando você está em uma loja procurando discos, você tem algum método específico de pesquisa, alguma mania, na hora de comprar novos itens para a sua coleção?

Se não tenho nada em mente para procurar vou direto aos gêneros que mais gosto para ver se acho algo diferente, alguma novidade que eu não tinha conhecimento. Fico na esperança de encontrar algo que realmente seja um acréscimo em minha coleção.

O que significa ser um colecionador de discos?

Significa que a música faz parte da sua vida a ponto de você querer tê-la ao seu lado em forma de discos sempre à mão pra você apreciar em qualquer momento que sinta vontade.

Vale ressaltar que há colecionadores de discos que os têm mais pela preocupação de completar coleções, ou simplesmente porque se trata de um disco de um nome conceituado do rock. Não sou desse tipo. Só o nome do artista/banda não basta, o conteúdo tem que agradar. Tem que ser um álbum que eu sei que irei sentir vontade de escutá-lo com certa regularidade. Adquirir discos pra ficar só enchendo espaço na minha discoteca não me serve. Há discos de medalhões do rock que não faço questão nenhuma de possuir. Tem que ter o poder de emocionar através da música.

As coisas mudaram muito para quem compra discos há tempos. Hoje, as lojas estão em extinção. Do que você sente saudade?

Sinto saudades de entrar em uma loja e de ter a opção de escolher se quero levar determinado disco em CD ou LP.


Como é, para você, como colecionador, viver em uma cidade que não tem nenhuma loja de discos?

É uma pena. Entretanto, sabemos que uma das causas disso é a facilidade de se conseguir música baixando pela internet. É muito arriscado tentar sobreviver vendendo só CDs. A clientela é insuficiente pra manter esse mercado, e a indústria fonográfica sempre mantém um número limitado de artistas em seus contratos. As gravadoras não fazem mais questão de fabricar, em grande escala, discos de artistas que não possuem um grande apelo popular. Pra você conseguir alguma coisa que saia do lugar comum, só viajando para centros maiores ou pesquisando em sites especializados para
encomendar o que procura.

Qual é o melhor disco de 2011, até o momento?

Pra mim, Different Gear, Still Speeding, estreia do Beady Eye.

Dudy, muito obrigado pelo papo. Pra fechar, o que você está ouvindo e recomenda aos nossos leitores?

Como disse na entrevista, escuto rock de várias épocas. Ando escutando e recomendo o Beady Eye, Charly Coombes and the New Breed, o último disco do Buddy Guy (Living Proof), além das bandas do primeiro time do rock; Beatles, Rolling Stones, The Who e o meu ídolo máximo, Paul McCartney.

Foi um grande prazer participar do papo. Fico à disposição para trocarmos mais ideias. Abraço. Rock on!!!

Comentários

  1. O Dudy é o meu professor de rock'n'roll. Um grande cara!!! Parabéns pela dedicação e amor à música.
    Um abraço.
    Raul Boeira

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  2. Gostei da coleção, e além disso o cara parece ser bem gente boa.

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  3. Dudy manja!

    Valeu pela entrevista, brother.

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  4. Além de ser um dos maiores experts em rock'n'roll que eu conheço, o Dudy é um dos maiores amigos que a vida me trouxe. Sem dúvida um dos irmãos que eu não tive. Grande influência musical em minha vida. Rock on!

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  5. Rigotto, o sumido. Por onde você anda, man?

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