Floripa blues e rock: conheça a coleção de André Leite!



Por Ricardo Seelig  


André, em primeiro lugar, apresente-se aos nossos leitores: quem você é e o que você faz?


Ricardo, meu nome é André Luis Leite; tenho 40 anos, sou economista e professor universitário.


Qual foi o seu primeiro disco? Como você o conseguiu, e que idade você tinha? Você ainda tem esse álbum na sua coleção?


Como muita gente da minha geração, comecei a ouvir rock em 1983, quando o Kiss veio pela primeira vez ao país. Assim, meu primeiro disco foi Killers do Kiss, uma bela coletânea com quatro músicas inéditas na época. Hoje eu tenho em CD.


Você lembra o que sentiu ao adquirir o seu primeiro LP?


Lembro que tomei dois ônibus para ir até à loja e comprar o disco. Cheguei e pedi um disco do Kiss. Só tinham o Killers e foi o que comprei. Show de bola! Difícil falar o que senti, mas a ansiedade para chegar em casa e escutá-lo era grande. Esse disco foi muito tocado num pequeno aparelho que eu tinha no meu quarto.




Porque você começou a colecionar discos, e com que idade você iniciou a sua coleção? Teve algum momento, algum fato na sua vida, que marcou essa mudança de ouvinte normal de música para um colecionador?


O marco inicial da minha coleção foi justamente o Killers do Kiss. A partir daí eu e outros garotos do colégio começamos a ir atrás de discos em lojas e sebos. Especialmente de bandas como Iron Maiden, Led Zeppelin, Beatles, Stones, Floyd, dentre outras, que começávamos a descobrir naquela época.


Acho que comecei a me tornar colecionador de fato com o meu primeiro disco. A partir daí, não parei mais. Creio que os amigos do colégio contribuíram bastante, pois criamos uma rede na qual emprestávamos os LPs que comprávamos. Além dos discos, eu tinha muitas fitas cassetes gravadas com os álbuns que meus amigos emprestavam. Mas, só garanto que minha vontade era sempre comprar discos ou ganhá-los de presente. Era o que eu pedia sempre de presente.


Alguém da sua família, ou um amigo, o influenciou para que você se transformasse em um colecionador?


A princípio, ninguém. Embora meus pais, especialmente minha mãe, costumassem ouvir música com frequência em casa. Mas também ninguém foi contra.


Inicialmente, qual era o seu interesse pela música? De que gêneros você curtia? O que o atraía na música?


É difícil explicar um sentimento, mas como sempre passava muito tempo sozinho, a música ajudava a viajar e sonhar. Lembro que quando comprei Back in Black pela primeira vez, aos 14 anos, eu costumava ouvi-lo antes de dormir nos sábados à noite.


O rock dominou minha coleção inicialmente. No Brasil naquela época, para os mais novos entenderem, era difícil termos acessos a muitas bandas - ainda vivíamos resquícios do regime militar e o mercado fonográfico era pequeno. Lembro de certa vez em que o clipe de “The Last in Line” do Dio passou no Fantástico (isso mesmo, no Fantástico da Globo!) e, no dia seguinte fui atrás do disco, que ouvi em demasia também.


O mercado editorial também era pequeno, logo, a informação disponível para o público também era bem restrita. Há bandas dos anos 60 e 70, que só fui descobrir recentemente com a internet e com relançamentos em CD.




Quantos discos você tem?


Hoje tenho em torno de uns 1.200 CDs. Uma coleção modesta perto de outras que já apareceram na Collector´s Room, mas é minha e gosto muito dela (risos). Ainda há muita coisa que quero comprar, e quando digo para meu amigo Marcelo Peixoto que não tenho determinado CD, como, por exemplo, o primeiro do King Crimson, ele diz: “Falha grave na tua coleção”. Ainda quero consertar as falhas graves (risos)


Qual gênero musical domina a sua coleção? E, atualmente, que estilo é o seu preferido? Essa preferência variou ao longo dos anos, ou sempre permaneceu a mesma?


Em essência o rock dos anos 60 e 70, mas também tem muito blues, jazz, música brasileira e musica clássica, que escuto nas horas de estudo.


Vinil ou CD? Quais os pontos fortes de cada formato, para você?


Acho que o CD tem a praticidade do armazenamento, ocupa pouco espaço físico, e o vinil tem um charme todo especial. Hoje, com bons equipamentos, é possível extrair o melhor dos dois formatos. Aliás, acho que, independente do formato, um colecionador tem que ter um bom equipamento.


Existe algum instrumento musical específico que o atrai quando você ouve música?


Guitarra, que, com muito custo, tento aprender, mas ainda sofro com o tempo da música (risos). Sempre fui fã de grandes guitarristas.





Qual foi o lugar mais estranho onde você comprou discos?


Um dia, quando ainda estudava na UFSC, numa feira de alimentos naturais tinha uma barraquinha vendendo livros e CDs, novos e usados. Achei o Pet Sounds dos Beach Boys lacrado e por um preço muito bom. Comprei na hora!


Qual foi a melhor loja de discos que você já conheceu?


Difícil dizer. Mas, lembro de tomar um choque positivo quando fui a Nova York no início dos anos 90 e entrei na HMV. Embora fosse uma megastore, conceito que hoje conhecemos bem no Brasil, os atendentes eram muito bem preparados e as seções de CDs muito bem distribuídas. Sai de lá endividado, após comprar uns 50 CDs.


No Rio, gostava muito da Modern Sound, em Copacabana. Seu fechamento foi até tema de reportagem do Jornal Nacional. Porém, como sempre preferi as lojas de menor porte, minha loja favorita era a Hot Music, aqui em Florianópolis, dos meus amigos Marcelo Peixoto e Fábio Alves, que infelizmente não mais existe. Mas era uma referência importante na cidade, pois os donos são experts em música e traziam discos bons, nacionais e importados. Comprei muita coisa legal lá.


Conte-me uma história triste na sua vida de colecionador.


Ter me desfeito da minha coleção em vinil. Hoje em dia, me arrependo muito de ter me desfeito da minha coleção de vinil. Embora eu tenha substituído todos meus LPs por CDs, gostaria de poder tê-los de volta pelo prazer de curtir a arte das capas. Tinha, por exemplo, todos do Led, inclusive o The Song Remains the Same com a capa original, com cenas do filme. Tinha também um vinil do Kiss promocional que só saiu no Brasil com quatro músicas, que era alusivo à turnê deles em 1983.




Como você organiza a sua coleção? Dê uma dica útil de como guardar a coleção para os nossos leitores.


Organizo por gênero e ordem alfabética. Além do mais, mandei fazer uma estante para armazená-los (que já está ficando pequena - risos). Os CDs com embalagens do tipo digipak guardo envoltos em plásticos.


Além da música, que outros fatores o atraem em um disco?


A música, sem dúvida, é o principal. A capa também é uma forma de arte à parte. Mas, sempre é legal comprar um bom disco, que contenha muitas informações sobre as músicas ali contidas, tais como letras, os músicos que participam, por exemplo. Por isso, nos últimos anos tenho procurado comprar caixas de um artista ou edições especiais de um determinado CD.


Quais são os itens mais raros da sua coleção?


Tenho poucas raridades, mas tenho um CD do Traveling Wilburys (Volume Twoque não foi lançado oficialmente, e a banda ainda contava com o grande Roy Orbison. Tenho também um CD chamado Singles do Iron Maiden, muito legal, só com covers. Tem cover do Nektar, Jethro Tull, Led, entre outras bandas.


Outros itens que gosto bastante são dois do John Mayall e um do Buddy Guy, os três devidamente autografados. E uma caixa dos Stones que saiu no Japão,  contendo todos os CDs que eles lançaram nos anos 1960 em formato de mini-vinil. Tenho também dois CDs folheados a ouro: o Abraxas do Santana e o novo do Clapton.


Você tem ciúmes da sua coleção?


Sem dúvida.




Quando você está em uma loja procurando discos, você tem algum método específico de pesquisa, alguma mania, na hora de comprar novos itens para a sua coleção?


Não tenho um método específico. Mas, quando sei o que quero, fica mais fácil. Nas grandes lojas os discos estão organizados por ordem alfabética e gênero, logo fica mais fácil ir atrás do que quero.


O que significa ser um colecionador de discos?


Colecionar é um hobby. Em primeiro lugar, discos formam uma coleção que, diferentemente da maioria dos colecionáveis, podemos usar. Além do mais, colecionar discos nos leva a outra dimensão, já que é algo que transcende o plano físico, pois, ao ouvirmos os itens de nossas coleções, nos transportamos para nossa viagem particular. Para mim, colecionar discos é valorizar e respeitar a música como uma forma de arte.


O que mudou da época em que você começou a comprar discos para os dias de hoje, onde as lojas de discos estão em extinção? Do que você sente saudade?


Hoje, compro CDs pela internet. É bacana, mas perde aquele charme da pronta-entrega e da ansiedade para chegar em casa e ouvir o disco comprado. Além do mais, na loja muitas vezes trocamos boas informações com os vendedores ou outros clientes. Fiz excelente amigos em lojas de discos, por isso tenho bastante saudades de ir a uma boa loja . Como disse o Nick Hornby, “uma loja de discos não salva sua vida, mas a torna bem melhor”.





O que você acha desse papo de que música boa só existiu nos anos 1960 e 1970, e de que hoje não se faz música de qualidade?


Acho que em todas as épocas há música boa e ruim. A questão hoje é que as gravadoras, provavelmente devido à queda no faturamento, não tomam mais risco e não gravam artistas desconhecidos ou gêneros com menor apelo mercadológico. Daí, a mídia de massa aposta em gêneros musicais de qualidade inferior, ou aquilo que está tendo sucesso na internet, assim a grande massa acaba apenas consumindo, em sua maioria, este tipo de música.


Além do mais, na maior parte das cidades há pouco espaço para músicos novos divulgarem seu trabalho autoral. Por isso, aparentemente, há muita coisa ruim sendo feita. Mas há milhares de artistas, independentes ou não, que resistem aos modismos e ainda fazem música de qualidade. A vantagem é que hoje, com a internet, podemos conhecer uma banda do outro lado do país, ou até mesmo estrangeira, e ver que há bastante gente fazendo música legal.


Qual é o melhor disco de 2011, até o momento?


O único CD de 2011 que ouvi até agora é o novo do R.E.M.. Excelente! Grande banda. Gostei muito de tê-los visto ao vivo em 2008. Poderiam voltar ao Brasil.


André, muito obrigado pelo papo. Pra fechar, o que você está ouvindo e recomenda aos nossos leitores?


Ricardo, para mim, foi uma honra. Bom, além do novo do R.E.M., tenho escutado muito rock progressivo dos anos 70 e também Iron Maiden, já que não pude ir ao show desta turnê deles aqui no Brasil.


Porém, meu atual hobby é caçar os discos que estão listados no excelente livro Rock Raro, do Wagner Xavier. Abro uma página aleatória, leio e procuro o CD na internet. Tenho encontrado discos maravilhosos!

Comentários

  1. Esse é o mestre André, grande figura!
    Coleção de responsa. Quem conhece sabe.

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  2. Bela coleção, parabéns....Tô aqui juntando coragem, (a boa e velha grana) para comprar equele box violento do Pink Floyd.

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  3. Bela coleção. Pela foto, parece que os cds do Pink Floyd nunca foram manuseados.

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  4. Pessoal, valeu pelos comentários.
    Um segredo para os cds sempre estarem conservados é usar álcool gel antes de manuseá-los.

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  5. Tenho o prazer de conhecer essa coleção tão valiosa, principalmente de sentimentos. Confesso que sempre me surpreendo com músicas que jamais escutaria se não tivesse conhecido meu namorado. Parabéns amor!!!

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  6. Excelente reportagem, como sempre são feitas com colecionadores. A minha história é meio parecida com a dele, também comecei na mesma época a gostar de rock, me livrei dos meus vinis há uns 15 anos (sorte que não passavam de 100!) e também compro pela Internet CD´s, além da minha coleção estar perto dos 1.000 também. Legal, o melhor das histórias é saber que apesar de algumas serem parecidas, cada colecionador tem o seu "jeito" especial de tratar seus Cd´s, Vinis, ou seja lá o que mais. Parabéns mais uma vez pela reportagem.

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  7. André, também uso álcool gel o tempo todo. Excelente dica.

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