Tim Maia: resenha do álbum 'Racional 3' (2011)



Por Marcelo Vieira


Nota: 7


A fase Racional (1975-1976) de Tim Maia, indiscutivelmente, reúne seus melhores trabalhos. Longe do álcool, das drogas e dos maus hábitos alimentares, Maia estava desmagnetizado, mais magro e em sua melhor fase vocal. A banda do cara só tinha músicos de primeira, todos vestidos de branco e tocando instrumentos – inclusive metais – pintados de branco. Com a bênção de Manoel Jacinto Coelho, o Grão-Mestre da Cultura Racional, o cantor fundou a Seroma (abreviação de Sebastião Rodrigues Maia) e lançou, por sua conta e risco, Racional e Racional Vol. 2, ambos em 1975. Os discos eram vendidos de porta em porta pelo próprio Tim, juntamente com exemplares do livro Universo em Desencanto. A devoção era tão grande que foi Manoel que escolheu o nome do primeiro filho do cantor, Carmelo.


O problema é que, por mais seduzido que estivesse pelo espiritismo ufológico da doutrina, Tim Maia ainda era um artista e começou a perceber que ninguém mais ia aos seus shows nem comprava seus discos 'racionais'. Endividado e desiludido, Maia se magnetizou novamente e abandonou a Cultura Racional tão repentinamente quanto aderiu à ela. A primeira providência foi retirar os LPs Racional e Racional Vol. 2 de circulação, transformando-os em objeto de desejo de colecionadores mundo afora. Com a chegada do CD não faltaram pedidos para que Tim liberasse sua obra cósmica para lançamento no formato, mas até sua morte, em março de 1998, a resposta era sempre não.


Em 2006, após um OK da família que administra o espólio de Tim Maia, o primeiro volume ganhou versão em CD pela Trama e reavivou o interesse por essa fase de valor artístico incontestável. Foi mais ou menos nessa época que surgiram na internet versões inacabadas de canções que fariam o terceiro volume de Racional. Cinco anos mais tarde, eis que Tim Maia Racional Vol. 3 é lançado, infelizmente por enquanto apenas como bônus exclusivo para quem adquiriu os 14 CDs da Coleção Tim Maia da Editora Abril. Das seis faixas presentes, cinco já são velhas conhecidas, mas aqui receberam tratamento em estúdio e contaram com novas trilhas gravadas, entre outros, por Kassin e Paulinho Guitarra, que tocaram com Tim na época.




As composições deste Racional Vol. 3 são mais na linha de Racional Vol. 2 que de Racional, na medida em que incorporam de tudo um pouco. Soul, funk, MPB e um caráter psicodélico que permite ao ouvinte imaginar todo mundo viajandão dentro do estúdio. A faixa de abertura, “É Preciso Ler e Reler” (antes “Escrituração Racional”), é o melhor exemplo desse lisergismo musical. A letra curtinha e cíclica fica na cabeça pra valer. Outro ponto forte por aqui são os metais, já indicando o que viria a seguir na carreira de Tim. Não fosse o messianismo das letras, “I Am Rational” (antes “You Gotta Be Rational”) e a engraçadíssima “Nação Cósmica” (antes “Brasil Racional”, na qual Tim literalmente lê o livro Universo em Desencanto) seriam hits em potencial.


Por ser a única, digamos, 100% inédita, “O Supermundo Racional” é a faixa que desperta maior curiosidade. Baladinha, com Tim cantando horrores (talvez sua melhor performance na fase Racional), elevando sua voz a tons altíssimos com muita firmeza e sustentando-os. O instrumental inclui ainda solos de teclado, para o deleite dos apreciadores de improvisos ao vivo. Aliás, o clima “ao vivo em estúdio” perdura o tempo inteiro no play, que chega ao fim numa versão mais hype e mais trabalhada de “Que Legal” (de Racional Vol. 2).


Não sei se vale o investimento de comprar toda a coleção só para receber Racional Vol. 3 em casa, mas com certeza vale o tempo que for baixando isso aqui na internet, e torcendo para que a obra chegue ao grande público em breve.



Faixas:
1 É Preciso Ler e Reler
2 I Am Rational
3 Lendo o Livro
4 O Supermundo Racional
5 Nação Cósmica
6 Que Legal

Comentários

  1. Para mim são os melhores discos do Tim Maia, e olha que elç possui excelentes discos;.

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