Tomada: resenha do álbum 'O Inevitável' (2011)



Por Ricardo Seelig 


Nota: 8,5 


O Inevitável é um disco que faz parte de um nicho que poucas bandas tem coragem de produzir hoje no Brasil. Nosso mercado, tomado por pops balançantes e sensações adolescentes coloridas, não abre espaço para grupos autorais de rock, que precisam dividir espaço para tocar com milhões de bandas cover. Assim, acreditar no próprio trabalho, uma atitude normal para qualquer atividade, acaba sendo um ato, como eu disse, de coragem para quem faz rock no Brasil. E, cá entre nós, ainda bem que Ricardo Alpendre (cantor), Marcião Gonçalves (guitarra), Pepe Bueno (contrabaixo elétrico), Lennon Fernandes (guitarra, violão, Hammond, Fender Rhodes e piano) e Alexandre Marciano (bateria e percussão) têm coragem de sobra.


O terceiro disco do Tomada é também o seu mais maduro registro. Muito disso se deve à entrada do excelente Marcião Gonçalves, um dos melhores guitarristas em atividade no Brasil. Explorando timbres e texturas com a curiosidade de uma criança em uma loja de brinquedos, Marcião colocou o som do Tomada em outro nível, tornando ótimo o que já era muito bom. As cores brilham, fortes e espessas, em arranjos repletos de detalhes. Das levadas de bateria ao groove do baixo, passando pelo tempero especial proporcionado pelo criativo trabalho de Lennon Fernandes, a parte instrumental segue na trilha do rock dos anos 60 e 70, mas inserindo algumas pitadas que fazem toda a diferença. 


Ricardo Alpendre, inegavelmente um grande intérprete, mostra a segurança de sempre, mas surpreende de forma positiva nas canções mais calmas, como “Entro em Órbita” e “DC-3”, essa última com enorme influência de Guilherme Arantes.
   


O legal é que a banda não se limita a um estilo específico, navegando com a classe característica por vários caminhos. Cada faixa tem uma cara própria, o que torna o álbum uma surpresa constante. Do peso de “(Quero Ter) Uma Música Forte” à psicodelia sutil de “Ela Não Tem Medo”, passando pelo rock puro de “Catarina” e “Blá Blá Blá, Blá Blá Blá”, o que salta aos ouvidos é um trabalho redondo, requintado na medida certa, com tudo no lugar. 


Mas, sem dúvida, o principal destaque vai para a excelente “O Calor de Abril”. Com uma letra que tem um lirismo inteligente, o arranjo leva o ouvinte por uma espécie de Jovem Guarda banhada em certeiras doses de lisergia. Grudenta e empolgante, é daquelas faixas que se tornam companheiras para os dias frios, aconchegando corações e confortando sentimentos. O encerramento com “Hoje Eu Não Tenho Muito a Dizer” é outro momento iluminado, com a banda carregando no soul e sendo acompanhada por um esperto naipe de metais. 


Fechando o pacote, destaque para a produção, limpa e sem exageros, e para a parte gráfica, com um simples e belo digipak e capa feita por Tiago Almeida. 


O Inevitável precisa chegar até você. Talvez você não encontre o disco em sua cidade, mas não tem problema. Basta entrar na loja da gravadora Pisces Records para garantir a sua cópia. Faça isso e tenha em sua coleção um álbum que, sem esforço, vai se tornar um dos seus favoritos em pouco tempo.
   


Faixas: 
1.(Quero Ter) Uma Música Forte 
2.Ela Não Tem Medo 
3.Catarina 
4.Entro em Órbita 
5.Blá Blá Blá, Blá Blá Blá 
6.À Sombra do Trem 
7.Luzes 
8.O Calor de Abril 
9.99 Centavos 
10.DC-3 
11.Rock de Aventura 
12.Hoje Eu Não Tenho Muito a Dizer

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