Entrevista com o colecionador Eddie Asheton


Por Ronaldo Rodrigues

Olá, Eddie. Primeiramente gostaria que você se apresentasse aos leitores da Collector´s Room.

Olá, amigos leitores. Eu sou Eddie Asheton, baixista e vocalista dos Mothers, colaborador - faço resenhas de discos, filmes, livros e escrevo alguns contos - da revista eletrônica Acesso Total (www.acessototalrevista.org) e mais um grande apaixonado pelo rock and roll, como eu imagino que a maioria de vocês, se não todos, sejam.

Quais são seus estilos favoritos, qual formato coleciona e quantos discos você tem?

Cara, além de rock eu escuto uma ou outra coisa de jazz, blues, folk, beat africano dos anos 60/70, música sufi turca, alguma coisa de música indiana … mas o meu forte ainda é e creio que sempre será o rock. Dentro dele, os meus estilos favoritos são as garageiras dos anos 60, o rock padrão dessa época (como Beatles, Who e Stones que, aliás, são as minhas três bandas favoritas, nessa mesma ordem), progressivo, hard setentista. Inclusive, a minha banda segue bem por esse estilo.

Fiz uma contagem agora há pouco, especialmente pra esta entrevista, e cheguei ao número de 1.310 discos, sendo que a maioria, infelizmente, é em CD.

Como surgiu seu interesse pela música e quando você percebeu que havia se tornado um colecionador?

O meu pai já arranhava um violão quando eu era mais novo, mas o interesse despertou de verdade mesmo aos onze anos, quando comecei a fuçar a então pequena coleção da minha irmã mais velha. A primeira banda que ouvi nessa época que me acompanha até hoje foi o Doors.

Ainda tem lembranças do primeiro disco que você adquiriu?

Então, dos discos que eu mantive comigo até hoje o primeiro que me foi dado foi o Sgt Pepper's quando eu tinha meus 13 anos. Comecei muito bem, né? Agora, o primeiro que eu comprei, se não me engano, foi um compacto do Who que comprei num sebo pequeno que tinha perto da minha escola. Comprei nesse mesmo ano. Era um compacto de 75 que tinha “Postcard” e “My Generation” no lado A e “Too Much of Anything” e “The Real Me” no lado B.


Qual item da sua coleção você considera mais raro e quais são seus itens favoritos?

Mais raro? Humm, eu tenho alguns vinis aqui de bandas da Polônia, e um do Czervoni Gitari, banda tcheca dos anos 60/70. E também a trilha sonora em vinil da animação Le Planete Salvage, de 1973. Imagino que esses sejam os mais raros da minha coleção.

Agora, para os favoritos não tenho como eu dar uma lista 100% precisa, mas alguns dos meus itens favoritos, sem ordem de preferência, são o White Album dos Beatles, o In Rock do Purple, o Piper at the gates of Dawn do Pink Floyd, Sheer Heart Attack do Queen, E Pluribus Funk do Grand Funk Railroad, Truth do Jeff Beck Group, Slayed? do Slade, Yes álbum do Yes, Sell Out do The Who, Brain Salad Surgery do ELP ... nossa, daria pra fazer uma lista imensa!

Já fez alguma loucura pra conseguir algum disco?

Não me lembro de nenhuma grande loucura. Talvez eu tenha feito algumas, em todos esses anos, mas não que eu me lembre. Provavelmente, se eu tivesse feito uma ou mais grandes loucuras, a minha coleção estaria hoje ainda maior. Ou talvez eu nem estivesse aqui pra contar essas histórias.

Qual item que passou batido na sua mão e você nunca mais viu?

Ih, vários itens já passaram assim. Um dos quais eu mais me arrependo ter deixado passar foi o Astral Weeks, do Van Morrison, de 68. Eu o encontrei na Pedro Lessa, novinho, pela mixaria de 5 reais. Mereço ou não apanhar depois de uma dessas?

Que tipo de formato mais impressiona você?

Vinil, sem a menor sombra de dúvida!




Todo colecionador possui algumas manias. Fale sobre as suas.

Não acho que eu tenha manias. Já vi colecionadores que realmente têm manias, mas não acho que eu me enquadre nessa categoria. Uma coisa que eu evito ao máximo é cortar a música no meio. De preferência escuto o disco do início ao fim, mas se a falta de tempo não permitir, que eu escute pelo menos a música até o final. A não ser quando você realmente está apressado e ainda está no meio de “Thick as a Brick”. Aí não tem jeito, né?

Como você organiza sua coleção? Você é um fã “completista”? Qual artista ou banda você tem mais itens?

Eu organizo as bandas e artistas por ordem alfabética, e dentro da obra do artista eu ponho em ordem cronológica. Não sou daqueles que dividem por estilo. As coletâneas de vários artistas não seguem uma ordem específica. Ficam lá, no final da coleção.

Cara, não me considero tão completista assim. Algumas bandas, como os Stones, por exemplo, eu só consigo escutar os discos até a saída do Mick Taylor. Deep Purple eu só consigo ouvir o material do período de 68 a 76. Pink Floyd sem o Roger Waters eu também não consegui parar pra escutar até hoje. Mas de bandas como o Yes, o Rush e o Who eu tenho tudo e consigo ouvir todas as fases. Claro que reconheço que o auge deles já passou há bastante tempo, mas mesmo assim ainda descem bem.

Apesar de os Beatles serem a minha banda preferida, o artista de quem tenho mais discos é o velho Robert Zimmerman. Tenho 32 discos dele.

E a família, como ela vê esse monte de discos?

Cara, sem maiores alardes. O único problema, e a minha namorada que sofre com isso também, é na hora de me dar algum disco de presente. Ficam sempre naquela dúvida sobre o que eu já tenho, ou não (risos).


O rock vem em uma trajetória de décadas e em cada uma delas, temos características e estilos muito marcantes que são prontamente associados. Pra você qual o grande barato de cada uma delas, dos anos 50 até os dias atuais?

Ótima pergunta. Vou tentar ser suscinto. Acho que o grande barato dos anos 50 é a simplicidade, a ingenuidade da coisa toda. A década de 60, na minha opinião, é aquela na qual as coisas mudaram mais, e de onde vieram as bandas e artistas mais influentes até hoje. A década de 70 pegou todas as lições dos anos 50 e 60, especialmente dos anos 60, e levou ao limite. O que foi lindo!

Os anos 80 serviram para provar que os anos 70 não foram tão cafonas assim. Os anos 90 trouxeram a volta de uma crueza (via Seattle e afins) ao mainstream que se fazia necessária desde o momento em que o punk rock foi engolido pela new wave, post punk, new romantics e essa gente. Da década passada eu curto o revival hard 70 (tirando o Darkness, por favor) e outros como o White Stripes, que apesar de uma ou outra música chatinha que tocava na MTV fez muita coisa boa. O revival da disco e as modernidades estéreis de The Killers, Yeah Yeah Yeahs e afins eu dispenso.

A década de 10? Ainda é bem cedo pra se falar dela, né? Tecnicamente, ela começou agora no dia 1º de janeiro do ano passado. Eu espero que ela traga uma reafirmação do bom e velho rock and roll.

Existe algum item que algum desavisado consideraria “estranho” na sua coleção?

Tenho alguns, sim. Por exemplo, eu tô ouvindo muito umas coletâneas que eu tenho, de bandas da Nigéria dos anos 70. Aquilo é um groove muito bom! Eu tenho um vinil da cantora Orietta Berti, onde ela canta músicas ciganas de vários países do mundo. Tenho também Paolo Pietrangeli, que é uma espécie de trovador político italiano. Ah, sim, e os discos do Engenheiros do Hawaii da formação clássica, como trio. Pronto, me entreguei (risos). Além disso, tenho o disco Return to Forever, aquele do passarinho voando, com Chick Corea, Stanley Clarke, Flora Purim e Airto Moreira. E o pessoal folk mais das antigas, como Woody Guthrie e Pete Seeger.

Onde você costuma comprar seus CDs e LPs?

Os CDs eu compro principalmente na Halley Discos, no Flamengo, e algumas coisas nas lojas grandes como a Saraiva e a Fnac também. E na internet, principalmente na CD Point, especialmente os mais difíceis de se achar por aí. Os vinis eu compro principalmente na Tropicália Discos e nas feiras de vinil que aparecem por aí.

Como é ser colecionador de discos nesses difíceis tempos da indústria fonográfica?

Certamente dá uma sensação de nadar contra a corrente, né? Mas eu acho que se você é um apaixonado pela música você deveria fazer o possível pra ter em mãos o disco, a obra, o conceito. Me entristece pessoas que eu sei que têm condições de comprar discos, se dizem grandes amantes de tal arte, e enchem a boca pra dizer que não compram discos há séculos, que agora baixam tudo. Acho um tremendo dissabor. Chega a doer o coração.


Todo colecionador adora montar suas listinhas de favoritos. Então vamos lá, cite os 5 melhores baixistas do rock:

Geddy Lee (Rush), John Entwistle (Who), Chris Squire (Yes), Jack Bruce (Cream) e Geezer Butler (Black Sabbath).

Os 10 discos mais viscerais da história:

Led Zeppelin (Led Zeppelin, 1969), Funhouse (Stooges, 1970), Ramones (Ramones, 1976), Black Sabbath (Black Sabbath, 1970), In Rock (Deep Purple, 1970), Reign in Blood (Slayer, 1986), Exile on Main Street (Rolling Stones, 1972), Love it to Death (Alice Cooper, 1971), Monk Time (The Monks, 1966) e o Fresh Fruits for Rotten Vegetables (Dead Kennedys, 1980).

10 discos para apresentar o rock de forma geral para alguém:

Rubber Soul (Beatles, 1965), Led Zeppelin IV (Led Zeppelin, 1971), Slayed? (Slade, 1972), Rocket to Russia (Ramones, 1977), Almendra (Almendra, 1969), Ashes are Burning (Renaissance, 1973), Nevermind (Nirvana, 1991), Back in the USA (MC5, 1970), Aqualung (Jethro Tull, 1971) e, lógico, o Who’s Next (The Who, 1971).

10 discos mais bacanas do Brasil (todos os estilos):

Made in Brazil (Made in Brazil, 1974), Scrabby? (Pin Ups, 1993), Brasil (Ratos de Porão, 1989), Chaos A.D. (Sepultura, 1993), Casa de Rock (Casa das Máquinas, 1977), São Paulo: 1554/Hoje (Joelho de Porco, 1974), Snegs (Som Nosso de Cada Dia, 1974), Killing Chainsaw (Killing Chainsaw, 1992), A Revolta dos Dandis (Engenheiros do Hawaii, 1987), Stress (Stress, 1982).

Valer lembrar que nenhuma dessas listas é definitiva.



E pra finalizar, sem enrolação, as rapidinhas:

Beatles x Rolling Stones.

Beatles.

Stooges x MC5.

MC5.

Blues americano x blues inglês.

Blues inglês, apesar dos americanos serem os pais da criança.

Funk x soul.

Soul.

Cream x Jimi Hendrix Experience.

Cream.

Espaço aberto para comentários!

Amigos leitores, vocês se lembram daquele velho slogan que dizia que disco é cultura? Pois é, ele não só é cultura como é a história, a vida! Ouçam discos, sejam eles comprados, dados ou emprestados!

Comentários

  1. Quase caí da cadeira na primeira foto, me senti voltando aos 80s rs :)

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  2. Não sei se é porque a entrevista anterior foi gigantesca, mas eu achei essa tão curta. Ficou um gosto de que faltou umas 3 perguntas a mais.

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