Dave Matthews Band: ouvimos o novo disco e contamos tudo



Por Rodrigo Simas

Tentem imaginar a cena. Você saiu do Brasil, chegou cansado em Nova York, encontrou Jeff Coffin (saxofonista da DMA), pegou uma carona no ônibus dele, foi direto para Hartford (aproximadamente umas 3 horas de viagem) e foi almoçar (ou quase jantar) no refeitório dos bastidores do Comcast Theatre, onde seria o show daquela noite. Na mesa ao lado, o próprio Jeff Coffin, Tim Reynolds e Rashawn Ross conversam com uma pessoa que você tem certeza que conhece.

Passados trinta segundos de uma mistura de ansiedade e dúvida, você definitivamente tem certeza: é Steve Lillywhite. Depois de devidamente apresentado, o sorridente produtor dos maiores clássicos da Dave Matthews Band parece se tornar seu amigo de longa data: fala besteiras, te sacaneia e – o melhor de tudo – pergunta se não gostaria de ouvir o tão esperado lançamento: “está ali no meu carro, quer ir lá?”, com seu carregado sotaque inglês.

Tudo parece surreal? Realmente foi. A minha primeira audição do novo CD de estúdio da banda foi no carro de Steve Lillywhite, ao lado dele, com o volume no máximo, me sentindo cansado demais, empolgado demais e feliz demais (e ainda não acreditando na situação). Ele passou por todas as músicas (acredito que só pulou as três já conhecidas: “Mercy”, “Gaucho” e “Sweet”) e estava visivelmente animado com o trabalho, apontando todos os detalhes, solos, mudanças e melodias.

Por todas essas circunstâncias e principalmente por ter ouvido apenas uma vez (e como vocês saberão a seguir, não é um disco fácil de ser digerido) esse texto não é pra ser tratado como um review ou crítica, nem perto disso, mas apenas como uma primeira impressão do que será o vindouro lançamento. Antes de mais nada, é difícil não começar respondendo a pergunta de todos os fãs: seria ele do nível dos três primeiros discos da DMB, chamados carinhosamente de Big 3? Poderíamos agora ter o tão esperado Big 4?

Sim e não: acredito que – principalmente na época que for lançado – ele dividirá opiniões. Alguns chamarão de obra-prima, outros não irão gostar, muitos não vão entender e a maioria vai aprender a apreciar a cada nova audição. Ele, que ainda não tem nome, soa denso, muitas vezes pesado, com toques (em diversas músicas) de bandas progressivas antigas, como Jethro Tull e King Crimson – um contraste ao seu estilo moderno, que talvez tenha no clássico Before These Crowded Streets (1998) sua maior ligação com o passado da banda. 

As músicas são longas, com muitos detalhes e camadas. Suas várias passagens fazem com que quase todas sofram alterações em seu caminho, se tornando talvez o disco menos comercial que a Dave Matthews Band já tenha lançado.  A produção é caprichada e todos da banda tem espaço para brilhar. Carter Beauford (bateria) comanda os grooves quebrados em cima de (finalmente) novos riffs de violão, que voltam a ser o centro das composições, juntamente com a base sólida de um maduro Stefan Lessard (baixo). Tim Reynolds voltou para segundo plano, na maioria das vezes acompanhando a música e solando, não fazendo a guitarra se sobrepor ao resto. Boyd Tinsley (violino) está tão presente quanto nos primeiros anos do grupo, com melodias e solos por todas as partes.

Algumas músicas ecoam realmente pesadas, mas as linhas de voz de Dave Matthews colocam tudo soando como a banda que conhecemos (elas são a principal âncora do estilo mais pop que restou em tudo que ouvi), com letras que me pareceram bem pessoais em uma audição rápida. A primeira faixa começa tensa, com uma pegada a la “Seek Up”, dando o tom do que vem adiante. Já a segunda, talvez a que mais remeta ao anterior Big Whiskey And The GrooGrux King (2009), é funkeada, com arranjos de sax e trompete na cara do ouvinte e uma vibe que me lembrou uma mistura deShake Me Like A Monkey” com “So Much To Say” e “Sweet Up And Down”. A partir daí eu não consegui mais definir uma ordem coerente para me lembrar de faixas específicas – o que demonstra a tamanha coesão do álbum, que também tem pelo menos dois grandes épicos, no melhor estilo “Bartender / Dreaming Tree”, mas sem parecer nenhuma das duas especificamente.

A voz de Dave Matthews está ótima e o som como um todo parece definitivamente “grande”, capturando muito da energia da DMB ao vivo (a maioria dos instrumentos foi gravada ao vivo em estúdio, com todos tocando ao mesmo tempo). Mas não achem que tudo são boas notícias: quem estiver esperando um novo Under The Table and Dreaming (1994), outro Crash (1996) ou até mesmo uma continuação do Before These Crowded Streets pode (e vai) se decepcionar. É uma sonoridade nova, uma reinvenção que inicia a próxima fase do grupo, sem deixar de lado toda a sua história. É daqueles álbuns que você precisa digerir, pensar, ouvir mais vezes, destrinchar.

Mas estes geralmente não são os melhores?

Comentários

  1. Puxa, não poderia ter audição melhor que ao lado de Lilliwhite!

    Ansioso pelo lançamento.

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