Por que ingressos de shows internacionais são tão caros no Brasil?

Por que ingressos de shows internacionais são tão caros no Brasil? Ao nos depararmos com os preços dos ingressos de shows de artistas estrangeiros no Brasil é comum nos assustarmos com seus elevados valores. Lembro-me que, em dezembro de 1993, fui a um show de Paul McCartney em Curitiba e o ingresso custou aproximadamente US$ 50,00 - e sem área vip.

Uma das primeiras razões para os preços praticados hoje pode ser o valor exorbitante que, por ventura, o artista cobra por show, mas ao se observar a tabela abaixo nota-se que há diferença significativa entre os preços praticados aqui e no exterior. Os preços coletados foram apenas os dos ingressos nos setores considerados vips, logo, depreende-se, conversões cambiais a parte, que a explicação não reside apenas no alto cachê dos artistas.

TABELA COMPARATIVA PREÇOS DE INGRESSOS 
Brasil Exterior 
Paul McCartney R$ 760,00 £ 85,00 
Bob Dylan R$ 900,00 € 56,40 
Joe Bonamassa R$ 500,00 € 56,50 

Então, por que, em um mundo globalizado e recheado de commodities, há tanta diferença entre os preços? Segundo a teoria da Paridade do Poder de Compra (PPP), tão cara aos economistas, produtos/serviços iguais deveriam ter o mesmo preço em qualquer país. Bom, a explicação de qualquer economista é que os preços são formados pela interação entre oferta e demanda e há diferenças na demanda e na oferta destes serviços em diferentes países. 

Questões macroeconômicas 
Crise econômica no hemisfério norte e real valorizado perante dólar. A crise econômica reduziu a renda de alguns países e, consequentemente, a demanda por shows. A queda expressiva na venda de CDs tornou os shows a principal fonte de recursos para muitos artistas. Logo, desloca-se a oferta para países/regiões onde a renda está em ascensão, caso do Brasil. 

Impostos 
De fato, os elevados impostos sobre mercadorias e serviços podem contribuir para o aumento de preços. Contribuem também certos impostos de importação de equipamentos. 

Elevada demanda por bens de luxo 
Com o aumento da renda per capita brasileira nos últimos anos, houve um claro deslocamento da demanda em prol de produtos com maior valor agregado. Laptops, smartphones, entre diversos outros bens, passaram a fazer parte da cesta de consumo das pessoas. Do mesmo modo, a demanda por shows que, até um passado recente, eram raros no Brasil, tem aumentado, o que implica também em preços mais elevados. Afinal, ficou possível e viável assistor artistas consagrados que nas décadas de 1970 e 1980 não vinham ao país. 

Ganância de curto prazo dos empresários 
De modo geral, diz-se que muitos empresários têm estratégias de preço de curto prazo. Ou seja, pensa-se: “aproveite-se o momento agora, pois o amanhã é incerto”. 

Pouca concorrência entre ofertantes 
Em grandes cidades do mundo como Nova York, Londres e Paris, dentre outras, em uma única noite a disponibilidade de oferta de lazer para a população é significativa. Logo, há expressiva concorrência pelo lado da oferta, o que leva os preços a serem, comparativamente, menores. 

Maldição da meia-entrada 
A lei que obriga a cobrança da meia-entrada acaba sendo uma faca de dois gumes, pois leva as empresas a aumentarem o preço dos ingressos, prevendo uma grande demanda por ingressos para grupos especiais. 

Discriminação de preços 
Discriminação de preços é uma estratégia que empresas utilizam para cobrar preços distintos de consumidores distintos. Neste caso, tal estratégia é posta em prática a partir da cobrança de preços diferentes de acordo com a localização da plateia. 

Outra explicação possível refere-se à queda da venda de discos/CDs, razão que leva os artistas a investirem mais em shows, pois destes passa a vir seu retorno financeiro. Mas, em suma, não há uma única explicação para este fenômeno. Há, de fato, uma conjunção de fatores que estão relacionados diretamente à conjuntura econômica brasileira (crescimento econômico, ascensão sócio-econômica, etc). 

Por fim, cabe citar o artigo de John Seabrook, onde o autor menciona que, com o colapso da indústria de discos, a venda de música ao vivo se tornou a maior fonte de receita da indústria da música. No artigo, o autor afirma que tratar um show de rock como commodity é diminuí-lo. Para ele, shows são eventos sociais. Talvez seja isso que leve os preços a serem tão altos. Afinal, muitos querem, e podem, participar de tais eventos, mesmo que a preços bem elevados. 

(por André Leite)

Comentários

  1. os ingressos aqui no Brasil são caros por vários motivos ( imposto etc ) , mas penso q o brasileiro ainda encara um show como um evento único ( os promtores sabem disso e não aliviam nos preços dos ingressos pois sabem q a maioria paga o que for pra ver seu artista predileto ) , lá fora um show é encarado apenas como um programa normal (como cinema / teatro).
    tem o lance cultural , o Brasil demorou para entrar na rota dos shows ( todos os generos e grandezas ) e lá fora o cara pensa ( ahhh se não for assistir tal banda este ano , ano que vem os caras estão aí de volta )....só pra fazer uma comparação simples .....

    Fazendo um paralelo seria o mesmo que o preço de carro...
    Aqui o sujeito compra um carro ( pagando mais que o mesmo modelo tanto nos USA e Europa ) e muitos encaram como investimento...
    Lá fora se compra um carro como se fosse um eletrodoméstico , quebrou , se vende barato e compra um novo !!

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  2. Enquanto shows com ingressos a R$ 900,00 continuarem a serem sold out no Brasil, o preço não vai cair, infelizmente.

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  3. Legal, mas quanto custa para fazer um show?

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  4. Da pra rodar uma regressãozinha ai nao para estimar o impacto dos diferentes fatores mencionados?!!! Acho um ponto importante também o fato de ser um bem de consumo "raro". Quantas pessoas em NY já viram um show do Bob Dylan? Quantos shows o Bob Dylan faz por ano em NY e arredores?

    Abc Andre!

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  5. Raul,

    Com certeza dá para, com dados mais confiáveis, fazer uma regressão e ver quais variáveis têm significância estaística,

    Grande abraço,

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  6. Raul,

    Com certeza dá para, com dados mais confiáveis, fazer uma regressão e ver quais variáveis têm significância estaística,

    realmente a 'raridade'a meu ver é também um componente da equação a ser estimada.

    Grande abraço,

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  7. Poiseh, eu também tinha reparado isso e achado estranho. Pq na Europa eu paguei para ver o cirque de Soleil 15 euros e aqui era a partir de 200 reais. Foo fighter era a partir de 360 reais aqui e na Inglaterra que é rica era só 45 libras em um lugar bem melhor. Não se justifica pelo cambio.

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  8. Os estrangeiros não vam vir no Brasil fazer show de graça, não estão de turne de caridade!

    O preço alto no ingresso é que no EUA eles pagam uma mixaria de trocados de dola só de imposto num show, já no Brasil eles pagam uma furtuna, portanto o único jeito deles não ficarem no prejuizo é almentando o preço do ingresso...

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