Cinco álbuns do Rush que poderiam virar filmes

Recentemente, a banda canadense de rock progressivo mais conhecida do mundo entrou no hall da fama musical, sendo finalmente selecionada e congratulada no Rock & Roll Hall of Fame, espaço dedicado a homenagear os maiores artistas da música mundial. Mesmo que tardia, a presença do power trio do Canadá foi mais do que merecida.

E já que o Rush entrou na calçada da fama do rock, porque não sonhar com ela também na calçada da fama de Hollywood? Inspirados pelo anseio dos rush maníacos, separamos cinco álbuns e músicas do grupo que poderiam sair da discografia direto para as telas de cinema, com direito a diretor e elenco comentados pelo cineasta Marcelo Paradella.

Vamos estabelecer logo de cara que tanto Terry Gilliam quanto Ridley Scott poderiam dirigir todos os filmes aqui colocados. Os temas abordados em todos os álbuns citados abaixo encontram total ressonância na cinematografia dos dois diretores, embora Gilliam vá mais para o lado artístico da coisa enquanto Scott acabaria fazendo algo um pouco mais “massavéio”. Mas repare que histórias de alienação e embate do solitário personagem principal contra um sistema e/ou sociedade, utilizando um viés de fábula/ficção científica, são recorrentes nas obras dos dois.


2112

A música composta pelo baixista/vocalista Geddy Lee e pelo guitarrista Alex Lifeson, com letra do baterista Neil Peart, narra uma história que se passa no ano 2112 em um mundo controlado pelos sacerdotes dos templos de Syrinx, que determinam tudo o que pode ou não ser lido, escutado ou feito. Mas tudo começa a mudar quando o protagonista encontra um violão.

Diretor

Oliver Stone - Veja como é freqüente nas obras de Stone a questão do controle governamental (Nixon, Salvador, Alexandre) e também como ele realiza obras que justapõe um idealista frente a um sistema opressivo (Platoon, JFK, Nascido em 4 de Julho). É também interessante o fato de que Stone adora lidar com a morte de um personagem puro para simbolizar não o triunfo da opressão, mas sua derrocada (o Sargento Elias de Platoon). E, mesmo que ficção científica/fábula não seja a seara frequente desse diretor, nada o impede de realizá-lo (lembrando que ele já passou por diferentes gêneros, incluindo aí sua estreia com o terror A Mão).

Elenco


O Herói
Aaron Johnson – Precisamos de um jovem talentoso que segure o filme inteiro. Stone tentou utilizar Shia LaBoeuf em Wall Street 2 e, se não fosse pelo Michael Douglas, teria quebrado a cara. Porém, ele acaba de trabalhar com o talentoso Johnson (Kick-Ass) em Selvagens e se ele atuar 10% do que entrega em O Garoto de Liverpool, o diretor pode ficar sossegado.

Vilão
Anthony Hopkins, Nick Nolte, Ed Harris, James Cromwell ou James Woods - Para o principal personagem de oposição, precisamos de alguém que seja talentoso, competente e, principalmente, que segure o diálogo (pois além de ameaça, também tem de fazer um pouco de exposição). De todos os citados, Hopkins ainda é o mais interessante, capaz de recitar a lista telefônica e fazer isso parecer atrativo. Porém, todos os outros conseguem fazer um papel ameaçador, com Harris passando muita humanidade, Cromwell o maquiavelismo, Woods a canalhice sedutora e Nolte a piração absurda.

Oráculo
Rosario Dawson - O Oráculo grego sempre passou uma ideia de sensualidade feminina. E nesse quesito o pessoal do Rush seria bem tradicional. Seria interessante utilizar Rosario Dawson no ingrato papel expositivo, mas que ela já demonstrou segurar bem, como em O Sequestro do Metrô 123.


Clockwork Angels

O álbum conta a história de um jovem homem viajando por cidades perdidas, passando por piratas e anarquistas em um mundo dito "liberal e colorido", que tem um observador que impõe precisão em cada aspecto da vida.

Diretor
Christopher Nolan – Um homem encontrando piratas e anarquistas? Ora, o que são os vilões de Gotham City? Um mundo de mentiras, que não passa de um simulacro? Ora, o que vimos em Amnésia, Origem e, em parte, em O Grande Truque e Insônia? Um observador que impõe a ordem? Ora, esse não seria o Batman? Oras...

Elenco
 

Jovem herói 
Joseph Gordon-Levitt - Mais uma vez, o fato de ser um JOVEM herói impede que ele trabalhe com Christian Bale neste projeto. Porém, é um papel que caberia tanto a Leonardo Di Caprio (que ainda tem cara de bebê) quanto a Gordon-Levitt, que caiu nas graças de Hollywood e de Nolan, que o colocou na luta mais marcante de A Origem e depois o transformou no Robin de seu Batman realista.

Observador 

Michael Caine, Liam Neeson ou Gary Oldman    
 

Pirata
Michael Caine, Liam Neeson ou Gary Oldman

Anarquista

Liam Neeson, Michael Caine ou Gary Oldman

Aqui, os papéis podem variar entre os colaboradores frequentes de Nolan. Tanto Caine quanto Neeson e Oldman podem oferecer rendições inusitadas e marcantes de qualquer um dos personagens (Caine, um pirata velho? Oldman voltando a fazer, depois de eras, um personagem malucão? Neeson, um personagem calculado? E isso é apenas uma das variáveis).


A Farewell to the Kings (Cygnus X-1: Book I The Voyage)

Um buraco negro misterioso, chamado Cygnus X-1 (acredita-se ser um buraco negro real), situa-se na constelação de Cygnus. Um explorador Rocinante a bordo de uma nave é atraído pelo buraco negro. Quando ele se aproxima, torna-se cada vez mais difícil de controlar o veículo e ele acaba sendo atraído pela força da gravidade.

Diretor
Francis Ford Coppola - Coppola vira e mexe ameaça o mundo (na verdade sua conta bancária) com a ideia de fazer sua epopéia sci-fi Megalopolis. Portanto, sci-fi é algo que sabemos que ele adoraria fazer, ponto pacífico. Outra verdade é a alegoria presente em obras como O Poderoso Chefão e Drácula. E o tema de solidão e alienação é algo que ele vem explorando em seus filmes mais recentes, como Velha Juventude e Tetro.

Elenco

Johnny Depp, Matt Damon ou Edward Norton – Coppola ultimamente tem variado o trabalho com atores. Talvez Matt Damon, presente em Velha Juventude e O Homem Que Fazia Chover, seja o mais constante, mas lembremos que ele já produziu A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça com Depp e que ele tem tesão por trabalhar com atores brilhantes porém “complicados”, como Marlon Brando e Dennis Hopper. Portanto, escalar Edward Norton, ótimo ator, mas que também dá seus pitis em set, soa como algo normal para o diretor.


Hemispheres (Cygnus X-1: Book II Hemispheres)

"Cygnus X-1 Book II: Hemispheres" começa o disco falando de um buraco negro em uma galáxia chamada Cygnus, em um épico inspirado em uma música do álbum A Farewell to the Kings contando, literalmente, a história espacial de um livro. A letra é recheada de referências aos mitos gregos e até ao clássico de Miguel de Cervantes, Dom Quixote.

Diretor
Jean-Pierre Jeunet – Por ser uma continuação duvido que Coppola topasse, a não ser se o filme fosse algo muito pessoal para ele (entra aí o quesito Dom Quixote). Já que é assim, quem toparia pegar uma continuação e mesmo assim colocar suas próprias influências na história, com muitas referências europeias? Jeunet, de Amelie Poulain, parece ser a resposta, ao lembrarmos que ele fez exatamente isso em Alien – A Ressurreição. Ok,  deu tudo errado ali, mas convenhamos que a série já tinha degringolado no capítulo anterior (assinada por David Fincher). O roteiro (do Sr. Vingadores Joss Whedon) era bem cretino e a Fox não ajudou em nada mexendo no filme a toda hora.

Elenco
Audrey Tatou e Ron Perlman
Ambos são colaboradores constantes de Jeunet. E toda vez que você põe o Perlman num filme, não importa se ele se esforça ou está canastra, é imperdível (sim, até mesmo em Alien – A Ressurreição).


Caress of Steel (The Necromancer e Fountain of Lamneth)

“The Necromancer” inicia-se através de uma estranha introdução vocal sobre três viajantes, Os Homens de Willowdale. Ela é composta por três partes que são unidas pela batalha entre By-Tor and e o Necromancer. A canção traz uma forte influência de J.R.R. Tolkien ao falar de magos, fantasmas e torres de fortalezas, sendo a primeira obra do Rush que se estendia de um disco para o outro.

Diretor
Peter Jackson
Elenco


Necromancer – Benedict Cumberbatch
Homens de Willowdale – Sean Astin, Elijah Wood e Andy Serkis
By-Tor – Viggo Mortensen
Magos - Ian McKellen e Christopher Lee

Vamos lá: a faixa claramente é uma óbvia referência a O Senhor dos Anéis. Então, quem sou eu pra contestar uma trilogia que já rendeu bilhões? Os Homens de Willowdale claramente são Frodo, Sam e Gollum. By-Tor é o Aragorn com outro nome. E magos? Torres? Chama o Peter Jackson para roteirizar e dirigir isso e põe o Cumberbatch (o Sherlock da BBC) como o Necromancer, papel que ele está fazendo já em O Hobbit. E chama de volta a gangue toda dos filmes.

Fountain of Lamneth fala da compulsão de um homem em ver e experimentar o mundo, e se é possível entender o que essas experiências significam. O viajante encontra como chave o próprio fim, ou seja, a resposta é que não existe resposta alguma.

Diretor
David Fincher  – Como o Darren Aronofsky e o Terence Malick já filmaram isso recentemente, sobrou pro David Fincher (que por sinal já filmou isso também em Benjamin Button, mas disfarçou como um romance).

Elenco
Brad Pitt - O ator preferido de Fincher. Não tem nem o que discutir.

É claro que a obra do trio canadense tem inúmeras músicas que fazem referência a obras literárias ou mesmo criam cenários fantásticos, mas espero que a breve lista tenha agradado aos fãs de rock progressivo, cinema e de Rush, claro.

Por Diego Ramos

Comentários

  1. Sem palavras... Matéria muito criativa e espetacular. Em épocas de filmes de roteiros tão fracos, vários álbuns conceituais dariam excelentes divertimentos. Valeu!

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  2. Parabéns galera do CollectorsRoom, eu como maniaco por RUSH achei 10 e creio sair ótimos filmes dai em!!!!!

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  3. Materia espetacular.

    Parabéns pra galera do blog.

    Show de bola!!

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  4. Eu apoio essa dos Senhor dos Anéis e do Johnny Depp ein *_* hahaha

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  5. Faltou o "Grace Under Pressure" dirigido pelo Ridley Scott. Ótimo texto, Rush tem tudo a ver com cinema. Alguém ainda vai explorar isso e se dar muito bem...

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  6. Que legal, pensei que só eu ficava viajando e fantasiando a respeito de (im)prováveis filmes baseados em cd's / músicas, mas nunca cheguei tão longe a respeito de imaginar elenco, diretores, etc... alguns que acho que dariam ótimos filmes ou até curta-metragens, seriam os cds The Metal Opera part I e part II, do Avantasia, o Scenes from a memory, do Dream Theater, e a música "Dance of Death", do Iron Maiden. Isso sem falar em muitas outras músicas, do Pink Floyd, AC/DC (Hells Bells, Jailbreak, T.N.T), Otep (House of Secrets), Megadeth (A tout le monde), Metallica (The Four Horsemen), Nightwish, Septic Flesh (cd Communion), Slayer (Angel of Death), Slipknot (Blackheart), Symfonia (In Paradisum), e muitos outros...

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  7. Oliver Stone não faria 2112... Ele tem tendências esquerdistas, enquanto que as letras do Neil Peart são liberais, nos moldes de Ayn Rand!

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  8. Muito bom. Excelentes ideias! E aquela lenda(?) do 2112 ter sido usado com inspiração para as sequências da A Fantástica Fábrica de Chocolate( a original, não o remake)?

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