26 Bandas para o Matias: J de Judas Priest

Sou um velho. Pelo menos é isso que a minha mente me diz. Fui vasculhar a memória em busca do meu primeiro contato com o Judas Priest, e só encontrei um buraco negro. Não lembro. Não tenho nem ideia. Só sei que foi há muito tempo atrás.

Existem três discos da longa discografia da banda bem claros e em destaque na jornada sonora da minha vida. Unleashed in the East (1979), British Steel (1980) e Defenders of the Faith (1984) fizeram parte da minha adolescência, porém não lembro qual chegou antes. O primeiro encontrei em uma loja de roupas e sapatos que também vendia LPs. O lugar ficava no centro de Passo Fundo, cidade gaúcha onde morei por dez anos e fiz a minha faculdade. Você entrava e via, lá na parede dos fundos, uma estante com diversos discos expostos com as capas em destaque. E lá eu avistei aquela capa emblemática, com um cara com o peito nu vestido de couro dos pés à cabeça. As nove faixas de Unleashed in the East estão marcadas até hoje na minha pele. Com o passar dos anos descobri que de ao vivo o álbum tem quase nada, mas isso não faz a mínima diferença quando estamos lidando com a memória afetiva. O riff de “Running Wild”. A melodia macabra que introduz “The Ripper”. As versões matadoras de “The Green Manalishi (with the Two-Pronged Crown)” e “Diamonds and Rust”. As guitarras cortantes de “Genocide”. E “Victim of Changes”, para mim a melhor canção do Judas. Uma intro com solos dobrados, que evolui em uma arranjo que alterna a parte instrumental com o vocal agudo de Rob Halford. E tudo isso desembocando no imortal trecho atmosférico central, um dos momentos mais fantásticos da história do metal.

Já com o British Steel a história foi outra. Um primo, que hoje é médico e já não ouve tanto rock quanto antes, tinha o LP em sua casa. Peguei emprestado e fiquei enfeitiçado. Havia um novo tipo de heavy metal ali, um som diferente e que, na época, eu não sabia explicar. Era algo mais direto, com canções mais curtas e sem longos trechos instrumentais, substituídos por refrões fortíssimos. Hits grudentos como “Rapid Fire”, “Metal Gods”, “Grinder”, “United” e, sobretudo, a dobradinha formada por “Breaking the Law” e “Living After Midnight”, entravam como adrenalina em meu sangue adolescente. Porém, desde sempre, a minha canção favorita no disco era “The Rage”, com o baixo construindo uma melodia que era levada pela guitarra e bateria, com intervenções certeiras do prato que mais parecia um chicote a massacrar a cabeça, as costas e o corpo todo.

Defenders of the Faith continha uma música distinta. Era um metal grave, potente, avassalador. Era o som pesado inglês puro sangue de hinos como “Freewheel Burning”, “Jawbreaker”, “Rock Hard Ride Free” e “The Sentinel” formando um dos lados A mais inesquecíveis dos anos oitenta. E ainda havia “Eat Me Alive”, a balada sombria “Nights Come Down” e “Some Heads Are Gonna Roll”, apimentadas com o tempero hard rock que pairava sobre o álbum.

Com o tempo, no entanto, fui perdendo o interesse pelo Judas Priest. Devo ser uma das únicas pessoas do mundo que não gosta de Painkiller, disco lançado pela banda em 1990. Quando Halford saiu, então, me distanciei de vez da banda. Com o tempo, tive lapsos de interesse ao redescobrir algum trabalho setentista do grupo, títulos como Sad Wings of Destiny (1976) e Sin After Sin (1977). Fui atrás dos álbuns solo de Rob, mas, tirando o primeiro, achei os demais medianos. E a mesma qualficação dou para os dois discos lançados após o retorno do vocalista.

Por esses motivos, o Matias ainda não ouviu a música do Judas Priest. Eu não a ouço com frequência, e existem tantos artistas e bandas que quero mostrar primeiro para ele que o Judas acabou ficando escondido no fundo da estante. Porém, quando ele finalmente encontrar esses discos, tenho certeza de que ficará tão enfeitiçado quando eu fiquei ao ouvir pela primeira vez, em um tempo que nem eu lembro mais, o trio de clássicos formado por Unleashed in the East, British Steel e Defenders of the Faith.

Até lá, que a música continue iluminando a vida desse velho e de seu filho.

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Eu acho o "Sad Wings Of Destiny" o melhor álbum do Judas disparado e concordo que a melhor música deles é "Victim of Changes".
    Em seguida, acho que gosto praticamente igual do "Sin After Sin" e do "Screaming For Vengeance".

    Só para continuar....

    Minha lista:
    AC/DC
    Black Sabbath
    Creedence
    Deep Purple
    Electric Wizard
    Free
    Grand Funk Railroad
    Hellhammer
    Immortal
    Judas Priest

    Para quem tiver um filho gay: kkkkkk
    Angra
    Bullet For My Valentine
    Coldplay
    Deftones
    Edguy
    Foo Fighters
    Goo Goo Dolls
    HIM
    (Não lembro de nenhuma com I)
    Jason Mraz

    E o Judas Priest entra na lista das bandas de macho, assim como Queen entrará. Halford é mais macho que o Angra inteiro.

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  2. Que texto bacana!

    E o Stained Class, Ricardo? O que acha dele?

    Recentemente, esse disco galgou várias posições no meu conceito. Há muito tempo não o ouvia. Deu aquela curiosidade, fiquei ouvindo umas duas semanas seguidas, e, hoje, está entre os meus três preferidos do Judas, ao lado de British Steel e Painkiller.

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  3. Eis aqui uma lenda do Heavy Metal.

    Painkiller & British Steel São grandes discos, meus preferidos da banda.

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  4. Ricardo, você só se enganou na questão do Rod ter saído nos anos 90 ele continuou na banda ele só saiu depois da Tour do painkiller. usso foi por volta de 91 se não me engano.

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