O que as listas de melhores discos do ano nos ensinam?

Eu adoro listas. Vocês já devem ter percebido, devido a grande quantidade de listas de melhores do ano que estamos publicando nas últimas semanas. É divertido fazê-las. Acredito que todo colecionador tenha esse prazer. E é sempre uma curiosidade ler as listas elaboradas por outras pessoas e publicações. Mas o mais legal de tudo isso é aprender com as listas que chegam até nós. É para isso que elas servem.

É virtualmente impossível ouvir todos os álbuns lançados em um ano. Há a falta de tempo. Há o gosto pessoal, que sempre nos faz priorizar determinados títulos. Há a acomodação, que muitas vezes faz com que não saiamos de nossas zonas de conforto. São inúmeros fatores, incluindo aí a desinformação sobre tal banda, sobre tal disco, que nem sabíamos que existia.

Por isso, faço o seguinte: em cada lista que leio, ao invés de perder meu tempo discutindo infantilmente porque um título entrou e outro não, vou atrás dos que não ouvi e estão ali e, por alguma razão, chamaram a minha atenção. E essa atitude sempre gera ótimos frutos.

A colheita atual tem sido farta. Não tinha escutado o último do Vampire Weekend, Modern Vampires of the City, e ele não tem saído dos meus ouvidos nos últimos dias. Nunca tive interesse pela banda, e o que me levou a esse álbum em especial foi o fato de ele ter sido eleito o melhor do ano pela Rolling Stone. Percebo uma ligação entre os vampiros e o clássico Pet Sounds, dos Beach Boys. Está ali o pop barroco, com suas belas melodias e arranjos cheios de detalhes. O disco do Vampire Weekend é muito bonito, e realmente merece todos os elogios que recebeu durante todo o ano.

O álbum de estreia da adolescente neo-zelandesa Lorde é outro que fui ouvir somente agora. Pure Heroine surpreende por ter sido gravado por uma garota com apenas 17 anos de idade. É um pop muito bem feito, com um toque de refinamento e muito bom gosto. Uma espécie de Lana Del Rey sem grife e sem o exagero. Fui escutar o Arctic Monkeys também, mas achei só legalzinho. O mesmo vale para Muchacho, do Phosphorescent, eleito pela Paste o melhor do ano. É um trabalho bonito, na linha do Iron & Wine, porém sua audição é um tanto cansativa e arrastada.

Uma das grandes novidades foi o a estreia auto-intitulada do The Temperance Movement, que a revista inglesa Classic Rock cravou em seu top 3 de 2013. Hard rock dos bons, muito influenciado por AC/DC e outras bandas legais como Faces e Black Crowes. Um álbum sólido, que não foi mencionado por nenhuma publicação ou site brasileiro - sempre mais preocupados, em sua maioria, a dar mais destaque às mesmas bandas de sempre do que a abrir os ouvidos para o que está acontecendo agora -, e que passaria batido pelos meus dias se não tivesse sido mencionado pela Classic Rock.

Teremos mais listas nós próximos dias. E elas serão novos guias para descobrirmos mais música de qualidade, que, por algum motivo, ainda não tivemos tempo de ouvir. Que as suas colheitas sejam tão gratificantes quanto está sendo a minha.

Viva a música, sempre!

Por Ricardo Seelig