Entrevista com o colecionador Tadeu Kebian


Quando eu tinha 16 anos, o rock já corria pelas minhas veias, eu já nutria uma paixão enorme pelas bandas que, hoje em dia, são as minhas favoritas e já frequentava os locais onde o rock acontece aqui, no Rio de Janeiro. Em paralelo, havia aqueles amigos ou colegas que simplesmente não demonstravam o menor interesse pelo rock ou pela música de maneira geral. O entrevistado de hoje, o jovem Tadeu Kebian, não pertence a nenhuma dessas correntes: aos 16 anos, Tadeu é aficionado por música brasileira dos áureos tempos do rádio (décadas de 1950 e 1960) e possui um vasto acervo que o rendeu participação no filme biográfico do cantor Cauby Peixoto — que inclusive, é o seu artista predileto. Acompanhe este que foi um dos bate-papos mais legais e inusitados do quadro Minha Coleção

Por Marcelo Vieira 

Em primeiro lugar, conte para nós quem você é! 
Bem, meu nome é Tadeu Kebian, tenho 16 anos, sou estudante e moro no Rio de Janeiro... e sou fã e colecionador do Cauby Peixoto e da Angela Maria! 

A maioria dos garotos de 16 anos que eu conheço/conheci ou ouvem rock ou não ligam para música. De onde surgiu essa paixão incomum? 
Comecei a me interessar por música aos 6 anos, graças ao meu avô Délcio, que me apresentou Cauby Peixoto, Angela Maria e todo o pessoal da época do rádio. 

O que para você é tão fascinante na música dessa época? 
As letras, o sentimento nas interpretações, a voz... coisas que eu considero difíceis de se obter na música atual. Antigamente também haviam músicas supérfluas, mas nada comparado ao que é hoje em dia. 

Quais outros gêneros você ouve além da MPB dos tempos do rádio? 
Escuto música clássica e artistas franceses, como Claude François, Mireille Mathieu, Edith Piaf etc.


Com relação ao Cauby Peixoto, o que levou você a se tornar fã dele? 
Apesar de estar com mais de 60 anos de carreira, o Cauby parece que começou ontem, pois continua ensaiando, gravando, se apresentando e ainda consegue cativar o público. Sem contar a sua voz, que continua a mesma. 

Imagino qual não foi a sua emoção ao conhecer o Cauby pessoalmente. Como foi este encontro? 
Três dias antes de o meu avô falecer, ele me disse que eu ainda conheceria o Cauby pessoalmente. Meu primeiro encontro com ele foi em fevereiro de 2013, no Theatro NET Rio, durante a gravação do filme Cauby - Começaria tudo outra vez. Quando a cortina se abriu, eu nem acreditei. Foi a mistura da emoção do sonho realizado com a saudade doída do meu avô que havia "profetizado" aquilo. Depois do show, falei com ele e pedi para tirar uma foto. Tempos depois, o cumprimentei no lançamento do filme, no Cinema Odeon Petrobras. Nos falamos melhor durante o coquetel que aconteceu logo depois. Fui convidado para me sentar à mesa ao lado dele e da Angela Maria. Para todo mundo que vinha falar com ele, ele apontava para mim dizendo "meu fã!".


Você é delegado do fã-clube da Angela Maria. Como isso aconteceu? 
Fui convidado pelo amigo Conde Rodrigo para assumir o posto e aceitei, afinal, é um convite irrecusável. O fã-clube é bem ativo e está inovando. Em breve serão feitas carteirinhas para os membros e outras novidades também estão a caminho.


Além de possuir um gosto diferente da maioria dos jovens da sua idade, você também possui uma enorme coleção de discos. Qual o tamanho dela atualmente? 
Somando os discos de 7", 10", 12", 78 rpm e CDs, ultrapassa os 1.500 itens, sendo 174 do Cauby.


Alguns desses formatos são muito antigos, datando do início do século passado. Qual o item mais antigo que você possui? E quais os itens mais raros? 
O mais antigo é o Libestraum, do Alexander Brailowisky, um 78 rpm alemão de 1928. Tenho bastante coisa rara, mas os que eu mais aprecio são os discos do Cauby gravados nos Estados Unidos na década de 1950 como Ron Coby e a capa do compacto dele com o nome de Coby Dijon. Tenho também o Amigos, da Angela Maria, em vinil. O álbum é de 1996, mas como o CD já dominava o mercado, foram prensados poucos LPs. Ah, e tenho o primeiro do Elvis!


Você possui uma "lista de desejos" com os discos que gostaria de ter, mas ainda não conseguiu? 
Não, pois não gosto de estar preso a um foco. Gosto de garimpar, olhar tudo... foi numa dessas que consegui o primeiro do Elvis. Quando você se prende a uma lista, acaba deixando bons discos passarem... 

Onde você costuma fazer esses "garimpos"? 
Sebos e feiras, a maioria no Centro do Rio de Janeiro.


Qual foi o item mais caro da sua coleção? E o mais absurdamente barato? 
O mais caro foi um LP raríssimo do Cauby chamado El Explosivo. É um disco argentino de 1969 em edição invendável de baixa tiragem. O preço desse eu prefiro não comentar. Loucuras de colecionador, sabe? [risos] O mais barato foi o Amigos, da Angela Maria, por R$ 35,00. 

Como você organiza a coleção? Tem ciúme dela? 
Comecei a catalogar os meus discos recentemente, tudo direitinho pelo Excel. Na estante, estão todos em ordem alfabética. Eu não empresto os meus discos para ninguém. E cuido muito bem deles para que não acabem virando meros itens de decoração.


Qual foi o último disco que você comprou? 
Foram três: primeira edição do G.I. Blues do Elvis, Coisas do Meu Brasil (Inezita Barrozo) e um 10" do Francisco Canaro chamado Seus êxitos de todos os tempos. 

A sua coleção não se limita só aos discos. Você também possui um pequeno acervo de revistas das décadas de 1950 e 1960. Foram herança de família? 
Não. Eu comprei todas elas. 

O que você pode nos dizer a respeito do jornalismo cultural daquela época? 
QUALQUER coisa que os artistas faziam davam notícia. O Cauby, por exemplo, vivia saindo no jornal, parecido com o que acontece hoje em dia com os famosos nas revistas de fofocas. 

Você acha que a imprensa hoje em dia trata Cauby e Angela como "peças de museu"? 
Acho que eles não possuem a visibilidade que merecem. As perguntas são quase sempre as mesmas, sempre em tom retrospectivo. Projetos atuais e futuros são frequentemente relegados para o segundo plano.
 

Como os seus colegas da sua idade lidam com o seu gosto musical? Você já apresentou o Cauby para eles? 
A maioria dos meus colegas eu conheço há cinco anos ou mais. Com eles é tranquilo. Estou sempre postando músicas do Cauby no Facebook. Quem tiver curiosidade, clica e confere... [risos] 

Você já enfrentou algum tipo de preconceito por causa do seu gosto musical? 
Já ouvi muitas vezes "ah, isso é coisa de velho", mas não entendo isso como preconceito. Se acharmos que tudo é preconceito e que todo mundo está contra nós, não iremos conseguir viver a vida e acabaremos sempre seguindo as modinhas e gostando do que os outros querem que gostemos. E eu acho isso muito feio.  

A maioria dos leitores do Collector's Room faz parte do universo do rock, mas — espero eu — também está disposta a conhecer novos sons. Qual disco do Cauby você indicaria como uma introdução para novos ouvintes? 
Um indispensável é o Cauby, Cauby (1980), disco de comemoração dos seus 25 anos de carreira e onde saiu a faixa "Bastidores", que tornou-se um de seus maiores sucessos.


Quais são os seus 10 discos favoritos? 
Cauby Peixoto - Cauby é o Show 
Liberace - Here's Liberace 
Angela Maria - Amigos 
Cauby e Leny - Um Drink com Cauby e Leny 
Nelson Gonçalves - Ao Vivo 50 Anos de Boemia 
Leny Eversong - O Rítimo Fascinante Nº1 
Dalida - Olympia 
Hebe Camargo - Sou Eu 
Josef Schmidt - Uma Voz Através do Mundo 
Liberace - Sinceramente, Liberace 

Para encerrar... você, 16 anos, 1.500 itens na coleção... O que você tem a dizer para o garoto da sua idade que está começando ou pretende começar a colecionar logo? 
Colecione! A parte ruim é que este é um hobby caro e nem sempre dá para você comprar um bilhão de discos. Comecei do zero há menos de dois anos trás e já reuni 1.500 itens. Mas no fim das contas, o tamanho da coleção é o que menos importa — o importante é você curtir e se orgulhar dela! 

Contato: tadeu.caubian@gmail.com

Comentários

  1. Dia sim, dia não, acesso o CR para saber das novidades e, claro, conferir alguma nova entrevista com colecionadores. Vale dizer que todas são bem conduzidas. No entanto, esta deve ser um "ponto fora da curva", por ser algo inusitado, pelo simples fato de um adolescente curtir Cauby Peixoto, Ângela Maria, e astros que brilharam 50, 60 anos atrás -- "música de velho", enfim.

    A esta altura, tem muito roqueiro frequentador do CR, grilado pela ousadia deste blog, por abrir espaço para um tipo de música que, a princípio, nada tem a ver com o que rola aqui.

    Aos 15 anos, quando comecei a levar a música a sério, a discothéque dava as cartas -- eu curtia muito --. Todavia, na eletrola Nivico (JVC) lá de casa, também ouvia Glenn Miller, Roberto Silva, Patti Page, Agnaldo Rayol, Moacyr Franco, e tantos outros nomes (brasileiros e estrangeiros) "das antigas". O rock, o blues, o soul, só conseguiram me conquistar muitos anos depois.

    A verdade é: se tenho o gosto exigente hoje, é porque devo muito àquelas "velharias" que ouvi quando adolescente. Para piorar, as ouvia escondido, para não ser tachado de velho. A ler esta matéria, me senti na pele do Tadeu.

    Sou daqueles que não se cansam de bater na mesma tecla sempre: MÚSICA É ATEMPORAL. Ponto.


    Nota vinte! Dez para o garoto, dez para o Collector's Room.

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    1. Concordo com vc, tenho 42 anos e minha trajetòria é parecida com a sua, parabéns pelo gol de placa da CR, minha admiracao por vcs so aumentou. Vidal neto de Bsb.

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  2. Obrigado pelo reconhecimento, GENECY. Espero que as pessoas curtam ler a entrevista tanto quanto eu curti fazê-la. Abraço!

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  3. Que barato ver essa coleção, babei nos LPs do Roberto Carlos.
    É ótimo ver gente como o Tadeu, 16 anos, e preservando uma parte da história da nossa música.
    A matéria é excelente, assim como foi uma antiga matéria de 2011, sobre um colecionador de Roberto e Erasmo Carlos.
    Parabéns por dar essa abertura nas nossas cabeças e mostrar que não só nós, rockeiros, somos colecionadores fanáticos e fãs fiéis.

    Abraços.

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  4. Excelente entrevista, parabéns Marcelo e parabéns ao Tadeu por manter acesa a chama da paixão por algo inusitado para os jovens de hoje em dia!

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  5. Muito bom! Parabéns pro Tadeu! Pô, me deu uma saudade de um tio meu já falecido que curtia também Cauby, Angela Maria, etc... Que venham mais entrevistas inusitadas como essa!

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  6. Não gosto desse estilo musical, porem a coleção esta de parabéns !

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  7. Adorei a entrevista, porque conheci o Cauby Peixoto e Angela Maria com oito anos e me orgulho de gostar dos cantores que cantam músicas com letras lindas e singelas sem apelação como as atuais. Eu morava em Fortaleza, e o Cauby Peixoto, foi a convite do Governador, comemorar o aniversário de sua filha que estava debutando, e no outro dia foi a inauguração de uma praça mais importante de Fortaleza, e o Cauby Peixoto, inaugurou junto com o Governador, e depois fez um show cantando várias músicas, sem faltar é claro, a música Conceição. Eu vi um homem educado, bonito, (pois em 1987), foi considerado o homem maus bonito do Brasil, era um verdairo gentleman. Não sou da sua geração, mas como o Tadeu, me apaixonei assim que começou a cantar e não saiu da minha cabeça aquela voz linda e aveludada. Hoje moro em Brasília, estamos no ano de 2021, e não durmo todos os dias sem assistir um vídeo no YouTube, ele cantando em qualquer lugar do mundo. Para mim, não vai aparecer ninguém que possa lhe substituir, igual ao Michael Jackson. Amo de paixão. Descance em paz, e já está junto de Jesus Cristo, e vários anjos com certeza. Amém! 😘😘😘❤️❤️❤️

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